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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

DESLUMBRAR

Sou provavelmente o único brasileiro que não leu Comer, Rezar, Amar, livro que ficou meses na lista de mais vendidos e, se bobear, ainda está por lá. Desse modo, minha opinião sobre o recente filme deve divergir bastante da sua, que ansiava por ver no cinema aquelas páginas devoradas em tão poucos dias, tudo para conferir se a Julia Roberts ficou bem no papel de Liz Gilbert, reviver as passagens mais emocionantes e ver com os próprios olhos as paisagens magníficas antes traduzidas em letrinhas. Eu, em compensação, não esperava absolutamente nada, seria apenas mais uma comédia romântica recheada dos clichês habituais. Só que o filme me surpreendeu, saí do cinema entusiasmado.

Talvez porque ele tenha tocado num ponto-fraco: adoro viajar. Sou daqueles que assiste aos documentários do National Geographic sem dar a menor bola para o locutor, completamente hipnotizado pelos cantos exóticos do planeta e doido para tomar o próximo avião para lá.

Portanto, confesso não ter me atentado muito aos blá, blá, blás dos atores, exceto por um ou outro aforismo sobre aproveitar a vida, respeitar a si mesmo e colocar um ponto final no passado. Imagino que esse diálogo com o espectador funcione melhor no livro, quando sobra mais tempo para assimilar as ideias. Cinema é outra coisa, fortemente visual, linguagem diferente, profundidade de reflexões idem. Ainda mais quando falamos de blockbusters. Tudo fica mais rápido. É por isso que você vai sair da sala dizendo: “Mas no livro assim, no livro assado”. Tudo bem, reinventaram mesmo. Só não deixe a angústia afetar a apreciação dessa outra obra.

Deu para perceber que o roteirista tentou respeitar ao máximo a história original, porque alguns momentos ficam bem cansativos. São aqueles em que nada especial acontece, sabe?, estão ali só para ganhar tempo. Mas, no final, ficamos com a sensação de termos visto um filme bonito, com alto teor emotivo, relatado num sedutor tom de confissão.

As paisagens podem ter sido escolhidas com toda a parcialidade do mundo – já estive em Roma e Nápoles, sei que não são exatamente daquele jeito –, mas tudo bem, estamos no cinema para sermos enganados. Ficção é isso aí.

O que importa é que a Julia Roberts cumpre bem o papel, a fotografia é espetacular justamente pelo deslumbramento que provoca e o enredo ficou redondinho, não tem o que tirar nem por. Como o roteirista Lusa Silvestre vive dizendo, os caras sabem fazer direitinho.

Se for seu tipo de filme, assista, porque vai agradar com certeza. Se não for, acompanhe algum entusiasta do gênero e tente assisti-lo com olhos menos criteriosos. Talvez ele também encontre um ponto-fraco seu. E, se depois de tudo isso sua opinião ainda divergir da minha – ou não –, deixe um comentário aqui embaixo. Nesse meio-tempo, vou correr para ler o original de Elizabeth Gilbert e riscar essa falta grave da listinha.

Ps.: Agora, cá entre nós, o Javier Bardem interpretando um brasileiro com aquele sotaque semidisfarçado é bizarro. Talvez sejamos os únicos do mundo a notar, mas podíamos ter passado sem essa. Tanto ator bom sobrando nas bandas de cá, foram escolher um fajuto!