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terça-feira, 25 de maio de 2021

UM ANIMAL QUE FALA (E ÀS VEZES OUVE)

Veja mais sobre o livro no site da editora Moinhos

Quais são os limites da linguagem humana? Ainda é possível acessar a animalidade que nos habita? Quanto conhecemos sobre os animais e como a escrita de ficção pode contribuir nisso? O escritor e crítico Fernando Sousa Andrade me convidou para falar sobre O belo e a besta, livro composto por pequenos contos, poemas e ilustrações. Reproduzo a seguir essa ótima conversa, publicada originalmente no site Literatura & Fechadura.

1. Ao entrar num parque, temos regiões, seções, placas, sinalizações para os caminhos. Quais são eles em O Belo e a besta?
O livro propõe esse passeio por uma espécie de jardim zoológico. Mas várias lógicas se invertem, inclusive a do percurso pré-determinado. Os caminhos, as regiões do mapa, as sinalizações estão todas colocadas para o visitante se perder e, com sorte, vivenciar uma experiência diferente do espetáculo convencional. Por meio dessa errância, meu desejo era que o leitor perdesse inclusive algumas noções da própria humanidade e pudesse se reencontrar com certa animalidade sua. Assim, tentei criar meios de desfazer a ideia do “eu aqui e um outro acolá” que temos no zoológico, de modo que o leitor pudesse estranhar a si mesmo, talvez encontrar algum outro ser dentro desse “eu”. Isso feito com humor, às vezes bom, outras vezes nem tanto, num “zooilógico”.

2. Na sua escrita, o poder da sugestão é muito grande. Como foi esmiuçar ideias sobre animalidade sem, no entanto, fechar qualquer tipo de conclusão ou desfecho?
Eu tentei desconstruir algumas ideias pré-concebidas que vão sendo embutidas em nós desde pequenos, que nos formam e nos conformam a respeito da animalidade. São ideias sobre a personalidade de animais, por exemplo, como dizer que a cobra é traiçoeira, a raposa é esperta, a coruja é sábia etc. Boa parte delas estão postas desde as antigas fábulas gregas, de milênios atrás. Há outras ideias mais recentes, com a de o cachorro ser amigo do homem enquanto o aedes aegypti é inimigo, a natureza ser algo exterior a nós, enfim, essas concepções que só falam sobre nós mesmos e sobre como projetamos nossa humanidade nos outros animais. Fui tateando isso, tentando me libertar no sentido conceitual e na linguagem, que também pré-determina os nossos entendimentos. Na medida em que o leitor consegue escapar também, os significados ficam suspensos e, assim, o desfecho permanece aberto.

3. A linguagem parece andar no meio desta coexistência entre bichos e gentes. Temos frases que você coleta na loja de souvenires do parque que já estão no senso comum da vida cotidiana. Você acha que linguagem entre bichos e humanos é tão normativa a ponto de criar uma genealogia da vida em comum, aqui pensando nos animais domésticos? Disserte um pouco.
A linguagem muitas vezes é entendida como o grande abismo entre humanos e outros animais. O que parece libertário nessa capacidade de falar é, em certa medida, uma prisão. Quer dizer, não são aqueles animais que se encontraram limitados a um mundo sem a linguagem falada dos humanos; nós é que acabamos por determinar a maior parte da nossa experiência aos signos linguísticos, às redes de sentido semântico, àquilo que pode ser racionalizado e verbalizado. O mundo é muito maior e mais complexo do que isso; uma grande dimensão da vida simplesmente não cabe em palavras. Contudo, raras vezes nos permitimos escapar dos limites do discurso e vivenciar algo que os outros animais têm a todo instante, pois somos educados a permanecer sãos e salvos nesse terreno da comunicação, da lógica, do pensamento esclarecido. Esse é um ponto que aparece sugerido em alguns textos de O belo e a besta, não como tese, mas como provocação, como piada. Outro ponto é a loja de suvenires do parque, que você mencionou. Ali estão colecionadas uma série de expressões que mostram como os animais fazem parte da nossa língua: pé de cabra, espírito de porco, bico do corvo, conversa para boi dormir, bode expiatório etc. Foi divertido lembrar delas, que por sua vez mostram a complexidade do português, rico em associações e imaginários, capaz de ir muito além do sentido imediato. Temos aí uma espécie de paradoxo que me interessava manter e atiçar, em vez de propor qualquer resolução.

4. Por que os animais se prestam também ao palavrão, ao efeito pejorativo de valor? De onde vem esta relação entre bichos e seu valor para uma ação humana?
Os animais do livro dizem palavrões porque são personagens inventados por um humano que deseja falar com outros humanos. No fim, são sempre criações feitas à nossa imagem e semelhança, e por mais desconstruídas que se queira, elas ainda estão a escancarar nossa incapacidade de acessar grande parte da animalidade que habita em nós. Essa incapacidade, creio, também podemos chamar de humanidade. Sem querer que humanidade seja pior ou melhor do que animalidade. Ambas coexistem à sua maneira. E hoje me parece que a humanidade é mesmo uma pequena parcela de tudo o que nossa animalidade pode vir a ser.

Gostou? Encomende agora mesmo seu exemplar de O BELO E A BESTA no site da Editora Moinhos. Clique aqui.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

FRATURAS NO COMUM

Saiba mais sobre o livro no site da editora Penalux

Havia Pedro no meio do caminho de Zé Ser, a cobra que veio do Paraíso prosear e versejar e tirar as nossas coisas do lugar. Criatura que desde sempre circula por aí abocanhando o próprio rabo, “que percorre estas bandas em busca de antídoto para monotonia”, nas palavras da própria, ou seja, solução para o tom único, a voz solitária, a ideia fixa. E entre Pedro e a cobra Zé Ser, o que se destaca é, justamente, o “entre”; melhor dizendo, os interstícios que marcam este pequeno livro de Fernando Sousa Andrade. Os intervalos, as pausas, as rupturas, as intermitências, os cortes, os vãos, os hiatos entre a música e o pensamento crítico, entre o verso e a prosa, entre melodias e cenas narradas como lapsos cantados de uma existência meio humana e meio animal. 

Esse espaço intermediário é explorado pelo autor com um método capaz de interromper o estabelecido. E o que lemos são, muitas vezes, questões de sujeitos perdidos no universo da linguagem; a linguagem e os sujeitos desconstruídos com esmero, como se Fernando garimpasse palavras nos escombros recém-criados e lapidasse novas possibilidades de sentido, buscando feitos, efeitos e defeitos reversos; as “linhas soltas e fluídas” que atribui aos músicos e filósofos, suas inspirações poéticas. “Toda palavra é só uma ciranda”, diz um dos versos, jogando com o leitor. 

Há sem dúvida esses atravessamentos todos em seus Interstícios (Penalux, 2021). São caminhadas poéticas ao ritmo de provas ou trovas. Indeterminações. Cadência de palavras contra certa decadência dos significados objetivos, alguns inesperados, algumas suspensões da lógica que, paradoxalmente, são criadas com analogias precisas, sonoridades e um inegável interesse filosófico. Mas o livro não é uma aplicação de conceitos nem uma suposta composição musical; é mesmo uma experiência literária que se articula entre a palavra e a vida, entre a linguagem dos seres e o silêncio da página branca, em intervalos preciosos que não cessam de acontecer – “eternos interstícios”, diz um dos textos ali reunidos. Fraturas no comum que o abrem para outros espaço-tempos poéticos.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

CONCORRA A UM EXEMPLAR AUTOGRAFADO DO MEU NOVO LIVRO


Tem sorteio no Instagram do Coletivo Discórdia! 

No dia 5 de junho, vamos conversar sobre O belo e a besta, recém-lançado pela editora Moinhos. E você pode receber um exemplar autografado gratuitamente! 

Confira as regras, participe e boa sorte. Clique aqui: instagram.com/ColetivoDiscordia

O sorteio será realizado em 29 de maio. Nesse mesmo dia, às 15h, teremos o Clube de Leitura no YouTube do Discórdia, em que conversaremos sobre Copo vazio, romance de Natalia Timerman. A autora já confirmou presença. E você?

quinta-feira, 6 de maio de 2021

LIVE DE LANÇAMENTO! O BELO E A BESTA

Estou feliz da vida por esta celebração em dose dupla: a live de lançamento do meu O belo e besta faz parte da programação do quinto aniversário da Editora Moinhos. 

Vou conversar com Darwin Oliveira, do canal Seleção Literária. E você pode acompanhar e participar ao vivo no canal de YouTube da Moinhos. Vamos? Vamos!

Se ainda não conhece o livro, clique e leia um trecho no site da editora. \o/

ATUALIZAÇÃO (17 de maio): Quem não conseguiu ver ao vivo pode assistir a gravação a qualquer momento clicando aqui.