"Se fiz bem, vamos manter silêncio;
Se fiz mal – vamos rir então
E fazer sempre pior,
Fazendo pior, rindo mais alto
Até descermos à cova.
(...)
Creiam, amigos, a minha desrazão
Não foi para mim uma maldição!"
Entre amigos, Nietzsche, 1886
sou benedito
pelo mau compreendido
uma vês que
está
falado mas não se houve
ah mas não se tem
dado que não cessente
visto que não se crê
fidedigno de ser
não fosse feito
– mesmo eu –
safaria-o
amem! e até mais ver!
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
ANJO: DESTERRITORIALIZADO
ambíguo.
nem deus nem santo nem diabo
nem bom nem mau nem homem
nem carne nem sopro nem espírito
nem macho nem fêmea nem gênero
nem ser nem estar
sem eira nem beira
nem adulto nem criança
nem eros nem querubim
nem voo nem pé
tanto faz como tanto fez
nem meu nem seu
nem todos, imprecisão
nem guarda nem canta nem cai
nem lá nem cá nem acolá
nem céu nem inferno nem lugar
nenhum
nem deus nem santo nem diabo
nem bom nem mau nem homem
nem carne nem sopro nem espírito
nem macho nem fêmea nem gênero
nem ser nem estar
sem eira nem beira
nem adulto nem criança
nem eros nem querubim
nem voo nem pé
tanto faz como tanto fez
nem meu nem seu
nem todos, imprecisão
nem guarda nem canta nem cai
nem lá nem cá nem acolá
nem céu nem inferno nem lugar
nenhum
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
domingo, 14 de dezembro de 2014
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Rooms by the Sea (1951), de Edward Hopper |
incessante transgressão, ultrapassamentos
daquilo que somos, do humanismo
que nos cola a pele, gruda
como cracas no casco, dificulta
o movimento, atrasa
a navegação.
Como se desprender?
do que impregnou, da tradição
das águas que sustentam o
barco ao mesmo tempo em
que o mantém no lugar?, mesmo
com a sensação de que flutua livre-
mente? com sua carga histórica ativa
– histérica! – ainda
desconhecida? Pesada demasia-
damente pesada.
para Peter Pál Pelbart, pela aula de poesia.
sábado, 29 de novembro de 2014
se existe
a vontade de negar
aquela existência
é
necessário
admitir que está
no mundo
[ignorar, apagar.
de onde vêm
tais vontades?
de que sentimentos
se alimentam?]
a existência de qualquer
algo específico, talvez genérico
incômodo discordante,
por demais concordante
[só vira questão
quando bate a crise]
excessos da existência
não sei por quê
da negação
deveria saber
por que privá-la de tudo?
a decisão espera por nós.
o juízo é nosso, infelizmente
a sentença é nossa
alçada
seja qual for
o motivo de tamanha violência
a existência ainda existe
resiste
continuará existindo
quando nós não mais
[tamanha importância tem
o nosso próprio ser
e estar]
a vontade de negar
aquela existência
é
necessário
admitir que está
no mundo
[ignorar, apagar.
de onde vêm
tais vontades?
de que sentimentos
se alimentam?]
a existência de qualquer
algo específico, talvez genérico
incômodo discordante,
por demais concordante
[só vira questão
quando bate a crise]
excessos da existência
não sei por quê
da negação
deveria saber
por que privá-la de tudo?
a decisão espera por nós.
o juízo é nosso, infelizmente
a sentença é nossa
alçada
seja qual for
o motivo de tamanha violência
a existência ainda existe
resiste
continuará existindo
quando nós não mais
[tamanha importância tem
o nosso próprio ser
e estar]
terça-feira, 4 de novembro de 2014
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
terça-feira, 21 de outubro de 2014
ENQUANTO É TEMPO
o ócio se diz
criativo
porém tardio
tanto
que enquanto
o espero
entedio
nada concreto portanto
quero
inventar somente
do fundo do tédio,
do fruto da mente
a via
que venha insolente
criatura
tão logo puder
– sem ódio
contraproducente –
cria!
antes que eu
me vá
ausente.
O tempo é uma ficção. A gente o inventa como convém e às vezes o sustenta por mais inconveniente que tenha se tornado. Essa estrutura de jornadas de trabalho, de descanso aos finais de semana, trinta dias de férias, idade para aposentadoria, isso tudo foi inventado recentemente, da Modernidade para cá, e aos poucos quer ser reinventado. Talvez porque a estrutura simplesmente não funcione mais, em especial nas grandes cidades, onde a alta carga horária, as longas distâncias e a dificuldade de deslocamento determinam que outras atividades sejam realizadas enquanto se deveria dedicar à produção. Consultas médicas, pagamento de contas, correio, burocracias, estudo, questões pessoais, compras em geral, manutenção da casa, entre outras.
Surgem aqui e ali algumas tentativas de adaptação: home office, horários alternativos, banco de horas, jornadas reduzidas e mais focadas etc. Assim como há demandas oriundas das novas tecnologias que embaçam a fronteira entre folga e prática profissional, provocando o exercício de atividades fora do período determinado: whatsapp, emails, internet em geral, que mantêm todo mundo conectado e põem em questão as velhas relações trabalhistas entre empregadores e proletários. Afinal, em que momento estamos trabalhando? Quando deixamos realmente de trabalhar?
Transforma-se até mesmo o conceito de trabalho: ao invés da produção quantitativa, resquício da Revolução Industrial, há também o qualitativo, que não se mede com facilidade e prova seu valor por outras vias, opera por outros sistemas.
Claro que isso não se aplica nem reflete dilemas de todas as categorias ou de todas as cidades, mas, no geral, há demandas por novas organizações de tempo. Isso não é difícil perceber.
Existe o tempo natural, relativo ao nascer do sol, à movimentação dos planetas, às estações do ano, às luas e marés. Por sua vez, existe também o tempo cultural, do relógio que nem sempre conseguimos acompanhar.
Em São Paulo, por exemplo, levo entre trinta minutos e duas horas para chegar ao escritório, conforme as situações adversas que fazem da rotina algo imprevisível. O tempo cultural, atualmente, é inventado para sobreviver neste mundo de excesso: jornadas em que se troca o dia pela noite, supermercados 24h, bancos 30h, finais de semana utilizados para solucionar pendências remanescentes dos dias úteis e assim por diante. A escola dos filhos é incompatível com o horário dos pais, que precisam se desdobrar. O atraso deixa de ser exceção. O comércio passa cada vez menos tempo fechado.
Às vezes o estresse surge mais por conta da desconexão dos tempos do que pela quantidade de tarefas. Surge também a ansiedade por viver algo antecipadamente, por se adiantar aos problemas. Somos dominados pelo imediatismo: a necessidade de fazer primeiro, de chegar antes da concorrência, de ser inédito sempre.
Exploramos o máximo do tempo. E somos explorados em contrapartida. Panetones começam a ser vendidos cada vez mais cedo, perdem o simbolismo e se tornam um produto de consumo como outro qualquer. Frutas de época agora estão disponíveis durante o ano inteiro. As luzes da granja são usadas para acelerar o crescimento dos frangos, coitados. O homem transforma o tempo conforme convém ao momento, sem muita noção das consequências.
Essa correria traz uma nova ordem. O consenso parece impraticável, e a busca é por espaço para o dissenso. Ao invés de forçar métodos do passado, precisamos reinventar o presente. Pode ser que dê certo. Só não sabemos até quando.
Descobri que em alguns lugares virou moda a prática do nadismo: um tempo que as pessoas reservam para não fazerem nada, ou seja, uma tentativa meio paradoxal de resistirem aos excessos do dia a dia. Paradoxal porque tem hora marcada para acontecer. Imagino uma agenda lotada, na qual um dos compromissos é não fazer nada durante uma ou duas horas por semana. Ou seja, uma agenda ainda mais lotada porque o fazer nada é outro compromisso assumido. Uma tentativa ilusória de liberdade que acrescenta um novo nó à corda da escravidão.
Com ou sem nadismo, os prazos a cumprir continuam implacáveis. A sabedoria popular diz que tudo tem seu próprio tempo. Pode ser que sim. Será que temos paciência para esperar?
criativo
porém tardio
tanto
que enquanto
o espero
entedio
nada concreto portanto
quero
inventar somente
do fundo do tédio,
do fruto da mente
a via
que venha insolente
criatura
tão logo puder
– sem ódio
contraproducente –
cria!
antes que eu
me vá
ausente.
O tempo é uma ficção. A gente o inventa como convém e às vezes o sustenta por mais inconveniente que tenha se tornado. Essa estrutura de jornadas de trabalho, de descanso aos finais de semana, trinta dias de férias, idade para aposentadoria, isso tudo foi inventado recentemente, da Modernidade para cá, e aos poucos quer ser reinventado. Talvez porque a estrutura simplesmente não funcione mais, em especial nas grandes cidades, onde a alta carga horária, as longas distâncias e a dificuldade de deslocamento determinam que outras atividades sejam realizadas enquanto se deveria dedicar à produção. Consultas médicas, pagamento de contas, correio, burocracias, estudo, questões pessoais, compras em geral, manutenção da casa, entre outras.
Surgem aqui e ali algumas tentativas de adaptação: home office, horários alternativos, banco de horas, jornadas reduzidas e mais focadas etc. Assim como há demandas oriundas das novas tecnologias que embaçam a fronteira entre folga e prática profissional, provocando o exercício de atividades fora do período determinado: whatsapp, emails, internet em geral, que mantêm todo mundo conectado e põem em questão as velhas relações trabalhistas entre empregadores e proletários. Afinal, em que momento estamos trabalhando? Quando deixamos realmente de trabalhar?
Transforma-se até mesmo o conceito de trabalho: ao invés da produção quantitativa, resquício da Revolução Industrial, há também o qualitativo, que não se mede com facilidade e prova seu valor por outras vias, opera por outros sistemas.
Claro que isso não se aplica nem reflete dilemas de todas as categorias ou de todas as cidades, mas, no geral, há demandas por novas organizações de tempo. Isso não é difícil perceber.
Existe o tempo natural, relativo ao nascer do sol, à movimentação dos planetas, às estações do ano, às luas e marés. Por sua vez, existe também o tempo cultural, do relógio que nem sempre conseguimos acompanhar.
Em São Paulo, por exemplo, levo entre trinta minutos e duas horas para chegar ao escritório, conforme as situações adversas que fazem da rotina algo imprevisível. O tempo cultural, atualmente, é inventado para sobreviver neste mundo de excesso: jornadas em que se troca o dia pela noite, supermercados 24h, bancos 30h, finais de semana utilizados para solucionar pendências remanescentes dos dias úteis e assim por diante. A escola dos filhos é incompatível com o horário dos pais, que precisam se desdobrar. O atraso deixa de ser exceção. O comércio passa cada vez menos tempo fechado.
Às vezes o estresse surge mais por conta da desconexão dos tempos do que pela quantidade de tarefas. Surge também a ansiedade por viver algo antecipadamente, por se adiantar aos problemas. Somos dominados pelo imediatismo: a necessidade de fazer primeiro, de chegar antes da concorrência, de ser inédito sempre.
Exploramos o máximo do tempo. E somos explorados em contrapartida. Panetones começam a ser vendidos cada vez mais cedo, perdem o simbolismo e se tornam um produto de consumo como outro qualquer. Frutas de época agora estão disponíveis durante o ano inteiro. As luzes da granja são usadas para acelerar o crescimento dos frangos, coitados. O homem transforma o tempo conforme convém ao momento, sem muita noção das consequências.
Essa correria traz uma nova ordem. O consenso parece impraticável, e a busca é por espaço para o dissenso. Ao invés de forçar métodos do passado, precisamos reinventar o presente. Pode ser que dê certo. Só não sabemos até quando.
Descobri que em alguns lugares virou moda a prática do nadismo: um tempo que as pessoas reservam para não fazerem nada, ou seja, uma tentativa meio paradoxal de resistirem aos excessos do dia a dia. Paradoxal porque tem hora marcada para acontecer. Imagino uma agenda lotada, na qual um dos compromissos é não fazer nada durante uma ou duas horas por semana. Ou seja, uma agenda ainda mais lotada porque o fazer nada é outro compromisso assumido. Uma tentativa ilusória de liberdade que acrescenta um novo nó à corda da escravidão.
Com ou sem nadismo, os prazos a cumprir continuam implacáveis. A sabedoria popular diz que tudo tem seu próprio tempo. Pode ser que sim. Será que temos paciência para esperar?
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
domingo, 5 de outubro de 2014
sábado, 4 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
HOMEMFOBIAS
polícia mata
duas pessoas
e meia
toda noite
em SP
(deixa a outra
metade
para o dia
seguinte)
enquanto
a outra
mata
todo dia
em SP
porque volta
e meia
policia
também
duas pessoas
e meia
toda noite
em SP
(deixa a outra
metade
para o dia
seguinte)
enquanto
a outra
mata
todo dia
em SP
porque volta
e meia
policia
também
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
A CARNE
Pode entrar que a carne
é friboi
Anúncio de açougue?
Não. De uma loja de prazeres
no Largo da Batata
é friboi
Anúncio de açougue?
Não. De uma loja de prazeres
no Largo da Batata
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