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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

“Aprendi que, quando falam de mim, fãs e desafetos estão falando de si mesmos, do modo como encaram as relações, os problemas, os sonhos. Sirvo apenas de pretexto.”

Marisa Monte em entrevista à revista Bravo! nº 181 (setembro de 2012).

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CENSURAR A PRÓPRIA BOCA JÁ É UM BOM COMEÇO

Clique na imagem para ampliá-la. Fonte: Metro São Paulo nº 1396 (27/9/2012).

Algumas curiosidades sobre a classificação indicativa de filmes no Brasil:

• Se há usuário de drogas, você só pode assistir se tiver mais de 10 anos. Se o usuário de drogas se dá bem, você precisa ter 14 anos.

• Se tem estupro no filme, você precisa ter 16 anos para assistir. Mas se o estupro é consequência de uma paixão, só entra no cinema com 18 anos ou mais.

• Com 12 anos, você pode ver alguém pelado, mas só de perfil. Se o pelado ficar de frente para a câmera, você precisa ser 2 anos mais velho.

Apesar de todas essas peculiaridades, é prudente avisar – em especial o senhor deputado Protógenes Queiroz – que a censura às artes quem faz é o próprio público, que assiste àquilo que quiser. Se você não quiser ver determinado filme, simplesmente não vá ao cinema e deixe o assento livre para quem se interessar. Se você não quer que seu filho de 11 anos veja prostituição e uso de drogas, não o leve para ver um filme "não recomendado para menores de 16 anos", como foi o caso. E também não o deixe assistir TV, sair de casa com os amigos, ler jornais e acessar a internet. Ao invés disso, compre uma casa com masmorra.

Ou, se você tiver um mínimo de consideração pelas outras pessoas, faça valer seu cargo público e tente construir um Brasil mais decente ao invés de ficar falando bobagens no Congresso e na imprensa.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

VOLÚVEL

Pintura 63 (2009)
Eu tento ler as histórias contidas naquelas finas camadas de tinta, que se escondem umas sob as outras, tímidas. A narrativa potencial que hiberna enquanto aguarda a presença do observador para, só então, se revelar. Uma nova relação a cada olhar, um novo espetáculo de sensações. As pinturas de Felipe Góes se fazem e desfazem diante de nós, paisagens emocionais vêm à tona e depois mergulham de volta no desconhecido. As manchas se desmancham. Solidez tornada translucidez. Os devaneios são livres para caminhar por grandes campos de cor, desbravando matas virgens, territórios em formação constante. Vemos a força da cor se sobressair à fragilidade do assunto. A cor como grande potência criadora, disposta na tela em pinceladas sugestivas.

Até os títulos são abstratos, porque determinar uma palavra oprimiria outras conexões, narrativas que jamais germinariam. É algo que o artista não quer. "A paisagem, em sua infinidade de possibilidades, aceita proposições pictóricas das mais implausíveis e abstratas", diz ele. Suas pinturas são assim, abertas à reflexão, prontas para realizar desejos, prontas para ouvir. Basta se colocar diante delas e deixar o pensamento flanar; mergulhar, deixar-se contagiar, permitir que a experiência se realize num afluxo de sensações. Ida e volta.

Pintura 70 (2010)
São imagens lentas, que não se sujeitam à imposição do relógio ou à impaciência do público. Elas têm o seu próprio tempo e, para que possamos nos relacionar, precisamos sintonizá-lo, estar em sincronia. O tempo da pintura de Felipe Góes é aquele da percepção e da apreensão: singular, individual, livre. Inicia-se quando o raciocínio lógico cede espaço à imaginação. As cores são plácidas, quase meditativas, exatamente o oposto da saturação publicitária, cujas imagens se pautam na sedução imediata e na decodificação fácil. O conceito está impregnado naquelas pinturas, porém não se revela a troco de nada. Exige concentração. O pensamento demora a se formar e jamais se completa, está sempre se fazendo e refazendo. Para ser aberta, a obra precisa se manter viva, pulsante. Não pode se deixar reduzir.

Pintura 86 (2010)
Eu tento ler suas histórias, mas elas são volúveis; logo se misturam sem conclusão, não resultam numa moral. Recriam-se. Assim como seus campos de cor se apresentam sem limites discerníveis, suas verdades têm algo de imprevisível. Pois, quando uma ideia se solidifica, quando não pode mais ser permeada por conexões, ser contestada ou se transformar, ela já não serve mais, virou matéria inanimada. Morreu. O pensamento é um organismo em mutação. Tem vida própria, não se sujeita apenas às nossas vontades. Está contido no mundo. Pintar é também uma maneira de pensar. Sempre há espaço para uma nova pincelada, um retoque aqui, outro ali. Se existe uma certeza, uma só, é a de que toda certeza é efêmera. Quando voltamos a ela, já virou outra coisa, já ganhou uma nova cor.



Leia também Translucidez, texto que consta no folder e que dá nome à exposição de Felipe Góes na Galeria Ondas do Yapó (Castro/PR).

TRANSLUCIDEZ

Convite da exposição. Clique para ampliar.
Nas pinturas de Felipe Góes, a palavra translucidez apresenta dois significados. O primeiro é imediato: refere-se às finas camadas de tinta acrílica que, de tão diluída, ganha semelhanças visuais com aquarela. A técnica permite ver além da superfície do quadro. No entanto, não se trata de um retorno àquele campo de representação tradicional que os concretistas brasileiros tentaram superar. Esse "ver além" se direciona à subjetividade, à experiência sensível do observador, que percebe nas obras um mundo particular, contido dentro de si mesmo, do seu "eu" interior. Trata-se de uma realidade paralela, posta em relação com aquela da superfície pictórica. Ela vem à tona porque as pinturas de Felipe propõem sugestões ao invés de afirmações; outro registro de verdade, sem pretensão de ser absoluta. Muitas verdades permeiam a obra, mancham e se desmancham num rápido passar de olhos, vêm "desafiar sua existência em meio a grandes campos de cor", como disse o artista certa vez.

Isso nos leva ao segundo significado possível da palavra translucidez, que se refere à transição ou à transposição de uma lucidez para outra. Aquele sentido ambíguo que não se encontra estagnado numa porção de tinta, mas que é efêmero, que dura o tempo da percepção e nem um segundo a mais. A lucidez que não se encerra em contornos ou fronteiras, pois os territórios são tão profusos que é quase impossível determinar onde termina uma cor e começa outra. As pinturas habitam uma zona de indiscernibilidade muito própria da experiência criativa, onde estão potencializadas infinitas narrativas, aguardando que alguém se ponha diante das telas e permita ao oculto vir à superfície. É possível fazer uma série de conexões a partir daquilo que o artista deixa sugerido; uma crítica à nossa rigidez de pensamento. Metáfora apropriada para mostrar que nossas crenças são baseadas em registros imprecisos e interpretações subjetivas. Toda solidez é permeável. Basta querer ver.

Leia também o texto Volúvel, escrito especialmente para a internet por ocasião da mostra Translucidez.

sábado, 15 de setembro de 2012

SEMPRE EM FRENTE

Pode parecer meio tolo se eu simplesmente contar, tentando descrever a obra. Vão devolver aquela típica questão de quem acabou de chegar: isso é arte? Como se a arte precisasse de justificativa para existir. A descrição pode parecer meio tola porque não basta ler, é preciso experimentar. Caminhando (1964), de Lygia Clark, é uma obra de arte que se realiza no ato. Você pega uma tira de papel e junta as pontas para formar um círculo. Antes, porém, gira uma delas e a cola do lado contrário, de modo que esse círculo se transforme numa fita de Moebius, da qual não se pode dizer onde é o dentro e onde é o fora. Vamos, você já deve ter feito isso na escola, acho que sabe do que estou falando.

Caminhando (1964), de Lygia Clark

Pois bem, agora você pega uma tesoura, faz um furo no papel e começa a cortar no sentido do comprimento, circulando por toda a extensão da tira, fazendo uma volta completa. Só não pode dividi-la em duas, ok? Portanto, quando estiver próximo do início, você deverá decidir se continua pela direita ou pela esquerda do corte que acabou de fazer. “Esta noção de escolha é decisiva, o único sentido dessa experiência reside no ato de fazê-la. A obra é o seu ato”, explica o filósofo Ricardo Fabbrini no ótimo livro chamado O espaço de Lygia Clark.

Aos poucos, vamos entendendo a proposta, os sentidos emergem. Percebemos o significado na própria ação de percorrer a tira de papel com a tesoura, esse gesto efêmero com o qual você constrói seu próprio caminho. Diga-me se não é uma metáfora útil para a vida! Sim, vamos caminhando sempre em frente, tudo o que experimentamos é único e não se repete, não se pode voltar atrás. As marcas das nossas atitudes, as consequências das nossas escolhas ficam registradas ali para sempre, transformam o papel de um jeito que ele jamais será o mesmo novamente. Caminhamos sempre em frente, é a única possibilidade. Mesmo que se queira reverter uma escolha mal feita, talvez colando as tiras de papel com fita adesiva, restará uma marca aparente, a cicatriz do gesto, algo que jamais nos deixará esquecer o que passou.

Caminhando (detalhe)
A importância das escolhas que fazemos ao longo da vida fica evidente em Caminhando. Ao cortar uma tira de papel com a tesoura, o pensamento flui, passamos então a compreender melhor nossos passos. Tomar conhecimento dos próprios atos é uma maneira de escapar da banalidade do dia a dia, de não sucumbir à rotina. Trata-se de um ato criador em que o participante se encontra tão envolvido consigo mesmo que sequer nota a presença da artista e do objeto de arte. Sujeito e obra estão integrados, são uma coisa só. A participação não se resume a uma atitude comportamental, ela é condição da experiência. Nesse sentido, Caminhando é também uma tentativa de negação do objeto artístico. Uma tentativa de transformar o produto num gesto para livrá-lo dos fetiches e das vaidades do mercado. Uma proposição estética e política. Sim, isso é arte, sem dúvida. Mas a arte não é só isso.

Lygia Clark criou Caminhando há quase meio século, e ainda hoje as pessoas em geral têm dificuldade de lidar com esse tipo de produção que não se pendura na parede ou apoia em pedestais. Como sugeriu o crítico Ronaldo Brito nos seminários que inauguraram a retrospectiva da artista no Itaú Cultural, em São Paulo, ela projetou uma sombra para frente – quer dizer, tentou vencer os limites da arte com obras que superam a própria ideia de obra.

Lygia nos incentiva a seguir em frente, abrindo novos caminhos, buscando descobrir possibilidades. Não é fácil. Afinal, estabelecer-se num ponto qualquer e permanecer ali é cômodo; ficar estagnado naquele ponto final que não leva mais a lugar algum é uma grande bobagem que a gente tende a cometer o tempo todo. A vida é um processo, a criação é um ato, tudo o que produzimos nasce de um gesto. Quando a materialidade se esgota – e um dia ela há de se esgotar, você verá –, apenas o gesto sobrevive. São as nossas ações que permanecerão no mundo quando nós não estivermos mais. Tudo o que fazemos, é isso que ficará, é a marca que deixaremos.

Enfim, não basta ler a respeito de Caminhando, é preciso experimentar. Com essa proposta tão simples de ser realizada, Lygia Clark permite que tomemos conhecimento de nossas ações. Mais do que isso, ela nos dá um belo empurrão para enfrentarmos com sabedoria o caminho tortuoso que precisamos percorrer.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PARA CONTAR ARTISTICAMENTE ATÉ TRÊS:

1. Caminhar,
2. Relacionar,
3. Produzir.

Fórmula proposta pelo artista mexicano Moris em entrevista concedida ao núcleo educativo da 30ª Bienal de Artes de São Paulo (talvez não exatamente desta forma). Veja só:


Para saber mais sobre ele, acesse Moris na 30ª Bienal

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O ESTILO ANTI-ÉDIPO DE SER

O filósofo Michel Foucault escreveu um prefácio bastante breve para o livro O Anti-Édipo, de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Tão breve quanto preciso. Digo preciso no sentido de exatidão, uma vez que o texto pontua qualidades reconhecidas do livro. Digo preciso também no sentido de necessário, pois Foucault não apenas introduz o assunto como faz com que o leitor sinta fome de conhecimento e devore todas as páginas subsequentes.

É uma pena que seu prefácio conste apenas em poucas edições. Abaixo, destaquei os tópicos do final, que considero o trecho mais intenso. Fica claro que, como diz o próprio filósofo, o anti-édipo tornou-se um estilo de vida, um modo de pensar e de viver. Estou torcendo para que as pessoas adotem ao menos alguns dos seus princípios.

• Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante; 

• Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal; 

• Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o que é produtivo não é sedentário, mas nômade; 

• Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui uma força revolucionária; 

• Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política; 

• Não exija da ação política que ela restabeleça os "direitos" do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é "desindividualizar" pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de "desindividualização"; 

• Não se apaixone pelo poder. 

FOUCAULT, Michel. Preface. In: Gilles Deleuze e Félix Guattari. Anti-Oedipus: Capitalism and Schizophrenia. New York: Viking Press, 1977, pp. XI-XIV. Traduzido por Wanderson Flor do Nascimento.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A DANÇA DE CRUZ-DIEZ



Já tinha passado por um terço da exposição de Carlos Cruz-Diez quando percebi como aquilo era engraçado. Acontecia uma espécie de dança dos visitantes, tentando não esbarrarem uns nos outros, caminhando para cá e para lá sem tirar os olhos das obras. Não acontecia por acaso, o artista transmite essa inquietação contagiante. Para ele, o simples olhar já é uma experiência interativa. A cor, mais do que um pigmento sobre a tela, é entendida como um elemento de natureza instável que provoca impactos emocionais. "Eu queria comunicar", diz Cruz-Diez em um dos trechos da entrevista adesivada nas paredes da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Essa comunicação se realiza com uma linguagem própria, uma mistura de luz, cor e movimento. É difícil mesmo desviar os olhos, a gente não quer perder nada, nem um compasso.

Cor aditiva 105, 1956 (clique na imagem para ampliá-la). 
Abaixo, detalhe da mesma obra.

Boa parte dessas obras pertence ao grupo intitulado Fisiocromia, algo como "o corpo da cor", que o artista desenvolve desde 1959. Os visitantes caminham de um lado para o outro porque, de acordo com o ponto de vista, a obra revela novas estruturas. Lembra um pouco a brincadeira de "ola" que se faz em estádios. Ou aquelas figurinhas holográficas que contêm diversas imagens num única face. Enfim, é tão difícil de explicar quanto de fotografar, e essa era a segunda coisa engraçada que acontecia na Pinacoteca: as pessoas queriam levar, como recordação, uma fotografia daquela experiência maravilhosa. Só que é impossível fixar numa imagem o fenômeno ótico e a sensação física subsequente. Os fotógrafos saíam frustrados.

Confesso que eu também queria uma foto bonita para colocar no blog, mas não me arriscava. Estava na cara que era impossível. Até eu me dar contar de que, se a questão era o movimento, a solução seria filmar. Fiz isso com o telefone, o que explica a precariedade dos vídeos disponíveis aqui. Seja como for, acho que passam uma ideia do que está exposto no museu.


Tem muitas obras lá, desde pinturas a óleo do início da carreira de Cruz-Diez até instalações com projeção de cores. No geral, todas compartilham da mesma curiosidade: colocar a superfície ou os expectadores em movimento, provocá-los com sensações cromáticas que se multiplicam em diversas outras, modulações óticas com um pé no ilusionismo e outro na ciência. Transitam por persistência retiniana, somatória visual, gestalt, relevo, sombras e arquitetura. Seu trabalho é intenso e consistente. Faz mais de meio século que estuda possibilidades emotivas do uso da cor, seja no quadro, no espaço, na cidade (com intervenções urbanas) ou em veículos. Existe até navio e avião "à lá Cruz-Diez". Em resumo, é uma experiência estética bastante divertida. Vale a pena entrar na dança.


Leia mais no site da Pinacoteca do Estado de São Paulo: Carlos Cruz-Diez

domingo, 26 de agosto de 2012

IMAGEM LENTA, MUNDO VELOZ



Na primeira conversa que tivemos sobre a exposição individual no Museu de Arte de Goiânia, Felipe Góes estava indeciso. Porque sua intenção era levar para lá as pequenas pinturas que produz desde o início da carreira, nas quais o caráter experimental da pesquisa fica mais evidente. "Só que a administração local me concedeu um espaço enorme", disse ele. "Acho que vai ficar vazio demais só com essas telinhas".

A ideia do vazio me pareceu interessante. Na mesma hora, tive certeza de que aquele deveria ser o conceito da mostra: propor uma relação com o espaço expositivo e com o tempo de apreensão das obras. As pequenas telas de Felipe, naquele generoso salão, poderiam surpreender, criar conflitos e retirar o visitante da zona de conforto que se construiu ao longo de séculos de exibição de pinturas em museus. Melhor ainda se estivessem deslocadas da habitual linha do horizonte que costuma orientar a colocação das peças na parede. Assim, poderíamos sugerir uma reflexão sobre o corpo presente – uma vez que o visitante movimentaria mais do que apenas os olhos para observá-las, abaixando-se, aproximando-se, reclinando-se, torcendo o pescoço etc.

A mostra também chamaria atenção para outro aspecto relevante: o tempo da arte. Digo isso não somente em relação à tradição da pintura, mas ao contexto contemporâneo, em que o volume de informação aumentou tão bruscamente quanto se reduziu nossa dedicação para absorvê-la – como se o pensamento humano se desenvolvesse na mesma velocidade dos processadores artificiais.

Sabe-se que, na ansiedade de ver o máximo no menor tempo possível, se gasta, em média, quinze segundos em cada obra de arte de uma exposição. Esse tempo ainda diminui consideravelmente em museus visitados por massas de turistas, tais como o MoMA (Nova York) e o Louvre (Paris). Gasta-se tempo, investe-se tempo, perde-se tempo, ganha-se tempo. O tempo virou moeda de troca na veloz sociedade capitalista, em especial a metropolitana.

Só que há coisas que esse tempo não compra. Sim, numa mostra de arte, muito passa despercebido. Cá entre nós, quinze segundos não bastam nem mesmo para obra e visitante se apresentarem, quanto mais para se conhecerem profundamente e trocarem experiências.

Quando adentramos o Museu de Arte de Goiânia e nos deparamos com telas pequenas dispostas em paredes extensas, percebemos de imediato que elas exigirão outro tempo de experimentação, descoberta, reflexão e criação. Elas querem que as pessoas se aproximem, perguntem, espiem, inventem e ouçam tudo aquilo que sussurram ao pé do ouvido, que se despe aos pouquinhos, numa relação de perfeita intimidade. 

São imagens lentas, que não carregam significado instantâneo. Contrariando o mundo apressado em que estão, pedem silêncio, calma e disposição para se revelarem. Pedem a dedicação de quem cativa. Será assim ou não será nada.

*O vídeo acima é uma maquete digital que simula a disposição das pinturas nas paredes do Museu de Arte de Goiânia. Leia mais sobre a exposição aqui: Álbum e Grandiosidade não se mede com régua

GRANDIOSIDADE NÃO SE MEDE COM RÉGUA

O que mais me surpreendeu quando vi as pinturas de Felipe Góes ao vivo e a cores foram as dimensões reduzidas. Não que todas sejam pequenas, pelo contrário, algumas são razoavelmente grandes. Mas foram as menores que me chamaram atenção. Porque muitas delas eu conhecia por meio de fotografias divulgadas na internet, e as imaginava como gigantescas manchas de cor. Na galeria, entretanto, elas eram pouco maiores do que um cartão postal.

A visita ao espaço expositivo tem esse poder de transformar nossa relação com as obras. Tive que rearranjar uma série de pensamento já constituídos, então tirados do lugar por aquela descoberta.

Foi ótimo perceber o mundo em mutação, excedendo os paradigmáticos movimentos de rotação e translação, num tipo de abertura perceptiva muito própria da arte.

Nossa ideia, para a individual no Museu de Arte de Goiânia, era induzir um choque similar. Queríamos que o visitante pusesse os pés no enorme salão concedido à mostra e se surpreendesse com aquelas pinturas reduzidas, dedicando-se ao pequeno num mundo que privilegia os grandes, como alertou o filósofo Walter Benjamin na primeira metade do século passado.

Já nesse primeiro encontro, a proposição estaria colocada. Tudo o que viria a seguir dependeria unicamente do diálogo entre o visitante e as pinturas. Nós desejávamos que logo encontrassem diversas coisas em comum.

Aqui estão algumas das pinturas exibidas no Museu de Arte de Goiânia. Clique nas fotos para ampliá-las:

 







Leia mais sobre a exposição de Felipe Góes no Museu de Arte de Goiânia aqui: Álbum e Imagem lenta, mundo veloz

ÁLBUM

As telas de pequena dimensão acompanham o trabalho de Felipe Góes desde sempre. São quase um projeto paralelo. Entretanto, talvez devido à expectativa do público e das galerias, elas raramente ganham espaço de exibição.

Reunimos aqui cerca de 10 dessas pinturas que, como explica o artista, não são esboços – quer dizer, o objetivo delas não é planejar para depois ampliar. São experimentos. Justamente por não enfrentarem a pretensão das pinturas monumentais, elas permitem que Felipe voe mais alto, arriscando-se sem medo de errar. Nelas, seus pensamentos ficam registrados durante a formação, enquanto ele ainda não sabe aonde pode chegar.

Por conta disso, as telas pequenas revelam um artista mais fresco, livre, instintivo; ocupam um papel importante em seu processo criativo, embora não ostentem qualquer título de nobreza. São segredos de bastidores.

São cartões postais: registros de experiências visuais, plásticas e estéticas, recortadas de um contexto complexo para destacarem um ponto de atenção.

Também são obras em si mesmas, ou seja, adquiriram autonomia na produção de Felipe e caminham com seus próprios pés. Por conta disso, possibilitam outras reflexões, em especial no que diz respeito ao espaço expositivo e ao tempo de olhar do visitante.

Nesse sentido, o Museu de Arte de Goiânia não poderia ser mais apropriado: seu amplo salão desmistifica o paradigma da proporção. Acrescentamos aí a questão do alinhamento feito com prumo e esquadro; pois, deslocando as telas do nível do horizonte – eixo de equilíbrio herdado de séculos de tradição museológica –, fazemos o visitante mover o corpo, e não apenas os olhos, para observá-las, ampliando a sensorialidade proporcionada pela tinta sobre tela.

As paisagens retratadas nesses cartões postais saltam da tela e acabam se revelando no ambiente, nas pessoas ao redor, na cidade e também dentro de nós mesmos. São excertos que carregamos conosco quando voltamos de uma viagem pictórica, que compõem nosso álbum de imagens, nosso diário de bordo. Experiência marcante.

Leia mais sobre a exposição de Felipe Góes no Museu de Arte de Goiânia aqui: Grandiosidade não se mede com réguaImagem lenta, mundo veloz

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Em algum momento da atual Bienal do Livro de São Paulo se falará da iminente morte do livro e as opiniões se dividirão. Alguns dirão que o livro nunca acabará, e aí estão as bienais, as feiras e as flips para provar isto, e outros dirão que o livro caminha para a obsolescência e logo estaremos lendo tudo em tabletes, ipodes, ipedes e E-tceteras. Não se chegará a nenhuma conclusão e a conversa será transferida para a próxima bienal."

 Luis Fernado Veríssimo no Correio Popular de hoje.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

LENHA NA FOGUEIRA

Estou inconformado com o incêndio que destruiu uma porção de obras de arte no Rio de Janeiro. Mais um! Devia ter algum tipo de lei para proteger o patrimônio público. Colecionadores podem comprar as obras, tudo bem, mas elas devem ficar sob cuidados de uma instituição competente. Nada de pendurar na parede da cozinha. Nada de tê-las somente para si. Patrimônio cultural brasileiro deveria ficar só no museu, ao alcance do povo.

E agora? Vamos ressuscitar Lygia Clark e pedir para ela fazer de novo? Pedir desculpas para Di Cavalcanti e dizer que, agora sim, vamos tomar conta do seu legado? 

Leia sobre o incêndio aqui: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1136816-incendio-no-rio-destroi-apartamento-com-colecao-de-arte-valiosa.shtml

Outros incêndios que destruíram parte de nosso patrimônio artístico-cultural, só para lembrar que o desta semana não foi exceção:


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

DRAMA SOBRE O PALCO

Eu jamais imaginaria que, na falta de médicos em hospitais, policiamento nas ruas e vagas em creches, os moradores de um bairro da capital paulista se manifestariam pela reconstrução de um palco. A prefeitura tampouco. Não que eu menospreze os palcos, claro. Apenas achei surpreendente a consciência da população diante do impasse – e também a exigência subsequente, entre outras urgências que o senso comum entende como prioritárias.

Deixe-me explicar melhor: ao longo dos últimos quatro meses, repórteres da rádio CBN visitaram os noventa e seis distritos que compõem a cidade de São Paulo, um a cada dia, ouvindo a opinião dos moradores acerca dos principais problemas locais. Os diagnósticos eram sempre os mesmos: saúde, educação e segurança; ameaças congênitas generalizadas no sistema sócio-político brasileiro. “Pouca saúde e muita saúva”, como dizia Policarpo Quaresma, personagem clássico criado por Lima Barreto em 1911. Males que nos levariam a um triste fim. Acontece que, em um dos distritos, pedia-se a reconstrução de um palco, demolido pela prefeitura pouco tempo antes.


Veja bem, não estou falando de um auditório com preparação acústica e capacidade para acomodar milhares de espectadores em confortáveis poltronas, mas de uma mera laje de concreto disposta na praça. Pena que não me lembro o local em questão. Não era nenhum dos nobres, cujas carências são menores e onde os moradores poderiam se “dar ao luxo” de exigir cultura. Era um dos humildes mesmo, da periferia, se não me engano.

O poder público agiu com displicência, para variar. Quando mendigos e usuários de drogas começaram a ocupar o tal palco, o povo pediu uma solução. A prefeitura respondeu com um trator e botou o problema abaixo. O problema dela, obviamente. Porque os cidadãos “indesejados” continuaram nos arredores, sem casa e viciados. Por sua vez, os moradores perderam um dos poucos recursos de lazer que possuíam.

Foi a reivindicação que me surpreendeu. A manifestação em prol da cultura, sinal de que sua importância é reconhecida. Exigiam a reconstrução do palco, mesmo diante de outras questões aparentemente mais graves.

Talvez você esteja se perguntando qual é a importância de uma estrutura rudimentar como aquela numa praça de periferia. Foi o que me instigou também. Que tanto faziam no palco?

A obra tinha um poder transformador. Era espaço de manifestação e expressão popular que, de uma hora para outra, foi vetada a cidadãos já bastante carentes. Músicos de bairro se apresentavam ali, voluntários ofereciam aulas de dança ou capoeira, escolas promoviam teatrinhos, havia festas organizadas espontaneamente. Tudo isso ruiu com a atitude irresponsável da prefeitura, que não estudou a situação com o devido cuidado.

Sabe-se que pólos de cultura possibilitam o desenvolvimento social onde estão instalados. Grandes complexos como as unidades do CEU e do SESC, por exemplo, oferecem alternativas à televisão e à vagabundagem. Crianças que passam meio período na escola encontram à disposição atividades esportivas, oficinas culturais, bibliotecas e entretenimento sadio. Adultos também têm opção de lazer para o fim de semana. Isso é ainda mais intenso entre aqueles que não têm condição financeira para viajar, fazer compras no shopping ou jantar em restaurantes sofisticados, ou seja, boa parte dos brasileiros. 

Por isso aquele palco era tão caro. Podia não ser um enorme complexo cultural, mas já era alguma coisa. Fiquei satisfeito ao descobrir que a população local está consciente disso e que se manifestou pela sua reconstrução. Quero só ver se a prefeitura receberá o pedido com o mesmo carinho. E se o realizará.

No palco, apresenta-se uma esperança de futuro. Aos poucos, fui me dando conta disso. Pode-se aprender uma profissão, ver uma porta se abrir, realizar encontros com o inusitado. Ele oferece possibilidades. Uma construção tão simples proporciona, em si mesma, alternativa potencial à dramática vida cotidiana. Pouca cultura também é um dos males do Brasil, foi o que faltou Policarpo dizer. Pouca cultura e muita saúva, há pelo menos 100 anos.
Sabe, vi muita gente criticando os oito minutos brasileiros no encerramento das Olimpíadas de Londres. Não sei, não assisti à cerimônia. Disseram que foi clichê, que o Rio de Janeiro não é apenas praia, Pelé, carnaval, samba, mulatas e índios, entre outras coisas. Ao mesmo tempo, não vi ninguém dizer o que o Rio de Janeiro e o Brasil são, afinal. Se não mostrarmos esses clichês – que fundamentam nossa cultura, querendo ou não – talvez pudéssemos apresentar outros. Como o mensalão, por exemplo. Que tal?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

CAÇA AO BRUXO

E Paulo Coelho disse que “Um dos livros que fez esse mal [de autores quererem impressionar seus pares] à humanidade foi Ulysses, que é só estilo. Não tem nada ali. Se você disseca Ulysses, dá um tuíte".

O livro de Joyce é até hoje um tesouro para a literatura, repleto de experimentos vanguardistas, intelectuais e práticos. Os de Paulo Coelho são uma piada – ou vinte e duas, considerando o recente "Manuscrito Encontrado em Accra", que originou o infeliz comentário. São piadas literárias que vendem bem, sem dúvida alguma. Mas, daqui uns anos, esse tesouro vai acabar. E o de James Joyce provavelmente permanecerá incrivelmente rico.

Aliás, Ulysses tem vendido milhões de exemplares ao longo dos anos, o que põe abaixo a questão econômica – e a comparação dela com a qualidade de cada obra.

Pelo jeito, Paulo Coelho entende tanto de dissecação quanto de arte. Com um detalhe: o escritor é um dos "imortais" da Academia Brasileira de Letras. Pois é.

Para saber mais sobre a polêmica, vale a pena ler o texto de Rodrigo de Moraes no Correio Popular de hoje:

(clique na imagem para ampliá-la)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Sem uma dimensão crítica não podemos refletir sobre a singularidade da experiência artística, principalmente em um momento em que as fronteiras entre as artes, e mais do que isso, entre arte e vida, parecem cada vez mais confusas. A obra de arte é um meio através do qual o homem revela sua percepção do tempo e do espaço. Essa busca se faz através de uma síntese temporal que implica a percepção do presente, a memória do passado e a antecipação do futuro.”

Marco Gianotti em Breve História da Pintura Contemporânea

segunda-feira, 23 de julho de 2012

PAUSA PARA LITERATURA

 
Começaram a surgir, nos embalos da Festa Literária de Paraty (FLIP), uma série de eventos promovidos por editoras e livrarias em outras cidades do país. São lançamentos de livros, debates, sessões de autógrafo etc. Acho ótimo, é sinal de que a ideia surtiu efeito e está se proliferando. Mas tem uma coisa que torna a FLIP incomparável a qualquer outro evento de literatura no Brasil e no mundo, algo impossível de substituir, que aparece discretamente representado na sigla pela letra P: a cidade de Paraty.

Este ano, a festa completou 10 anos. Li uma matéria publicada no último 4 de julho, dia da abertura oficial, em que diversos críticos e jornalistas discutiam seu futuro, listando prós e contras, sugerindo novos caminhos. É fato que se encontrou uma fórmula de sucesso. Seria a hora de mudar para não sucumbir à mesmice?

Chegaram a sugerir que a FLIP fosse transferida para uma cidade maior, já que Paraty mal comporta o contingente de visitantes. Sabe, eu aceitaria várias mudanças numa boa, sou a favor de experimentar. Mas jamais trocaria aquele local. Porque, para mim, Paraty traduz perfeitamente a essência da literatura, que é viver outra vida em outro mundo.

Quem participou alguma vez da FLIP entende o que estou dizendo. Tentarei explicar, em poucas palavras, para quem nunca foi.


A festa começa sempre numa noite de quarta-feira, com solenidades e show de abertura. Até esse momento, já li a programação inteira, acompanhei as notícias no site, comprei ingressos para uma ou outra mesa, enfim, estou ansioso. Quando soam as primeiras notas no palco, ainda estou em São Paulo, trabalhando. Chegarei a Paraty apenas no sábado, quando muita coisa já aconteceu. Infelizmente, é o máximo que posso fazer.

Tudo bem, não tem problema, entro no carro e parto cedinho. A estrada oferece paisagens maravilhosas. O frio vai ficando para trás, o sol do Rio de Janeiro começa a dar as caras, sei que estou perto.

Este ano, havia obras na estrada. Trânsito parado, sensação de que não vai dar tempo. Até aqui? Ai, ai...

Chego em cima da hora, estaciono onde dá e aperto o passo para alcançar a tenda onde ocorrem os debates. Então, acontece. Sou dominado pela magia que só a cidade de Paraty tem. Ao pisar nas ruas do centro histórico, pavimentadas com aquelas pedras enormes e irregulares, as casinhas pintadas de branco, os batentes coloridos, um monte de gente papeando com alegria no rosto e sacolas na mão... a realidade se transforma. É a tal essência literária de que falei. Sou imediatamente transportado para outro mundo. Diminuo a velocidade, respiro fundo, sinto cheiro de praia e livro no ar. Cedo à ficção.

O tempo se espreguiça em Paraty. Vira página por página, vagueia sem compromisso pelas linhas. Conheço a cidade desde criança, mas ainda me perco em suas ruas. Elas foram feitas para isso. É fabuloso.


Assisto aos debates, que têm sempre um tom gostoso de informalidade. Os autores falam de seus livros, do método de escrita, do que têm lido ultimamente. Falam também da gozada – e perigosa – experiência de beber caipirinha e depois sair para um passeio. Invariavelmente alguém se perde. Ou acaba virando o pé, perdendo o chinelo e caindo de bunda. Ouvi isso da boca de diversos estrangeiros.

Diz a lenda que a cachaça é que dá o molejo para pular de pedra em pedra sem se machucar. Pode ser verdade, não faltam cachaçarias por ali. Ainda assim, prefiro deitar os olhos no chão.

A plateia faz perguntas e, terminado o bate-papo, saio à caça de um lugar para almoçar. Tem sempre um restaurante charmoso à espera. Aproveito para dar uma volta, ver as crianças brincarem com os livros que pendem das árvores, na praça, e com os bonecões feitos com papel machê, inspirados em faz-de-conta.

Depois do almoço, a sobremesa vem trotando pelas ruas em carrinhos de doces típicos. Pé-de-moleque, quebra-queixo, cocada, bolo de mandioca. Bate um sono danado. E também uma vontade de pertencer ainda mais àquilo tudo, de ficar ali para sempre.


Tem muito mais na FLIP. Lojas, estandes de editoras, shows, bares animados, cafés, saraus, artistas de rua... Programação para todas as idades. O que eu mais gosto, no entanto, é deixar o mundo real durante algumas horas para participar daquela fantasia coletiva, em que as pessoas se divertem em torno de um bem comum: o amor à literatura.

Assim que voltei para casa, li um artigo em que Liz Calder, criadora do evento, se dizia muito satisfeita e que não pretende fazer mudanças drásticas. Para ela, a FLIP atingiu o tamanho certo, não precisa crescer mais. O que precisa haver é outras festas similares no Brasil.

Reconheço o esforço de quem lê em tempos de internet, TV, congestionamentos e horas extras. Quem contraria a falta de paciência, a ansiedade por informação, o conhecimento objetivo, a velocidade acelerada do mundo real. A ficção tem seu próprio tempo, assim como Paraty. Também como Paraty, ela exige que você se deixe envolver, que entre no ritmo. Caso contrário, você tropeça e cai de volta na banalidade do dia a dia.

terça-feira, 3 de julho de 2012

AQUECIMENTO FLIP 2012: PENSAMENTO

“Dizem as estatísticas que as editoras [brasileiras] produziram em 2010 23% mais livros que em 2009. Mas a perplexidade continua: tirante os best-sellers, que têm uma dinâmica específica, as edições dos livros ‘normais’ continuam em torno de 2 mil a 3 mil exemplares. Se lembrarmos que quando o país tinha 30 milhões de habitantes (lá por 1920) as edições eram de 500 exemplares, veremos que há algo errado no nosso ‘progresso’. Naquele tempo cerca de 60% da população eram de analfabetos, hoje se diz que são 9%. Façam a conta com os quase 200 milhões de habitantes hoje. Portanto, há algo errado não apenas com a produção de livros mas com a ‘produção’ de leitores.”

O leitor, onde está o leitor?, de Affonso Romano de Sant’Anna, Jornal Rascunho, ed. 140, dezembro de 2011.

quinta-feira, 28 de junho de 2012