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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ESTÉTICA DO NU

A noiva posta nua por seus celibatários, mesmo (vulgo O grande vidro),
1915-23, de Marcel Duchamp
"O que o nu revela é que não há nada a revelar, ou melhor, que ele é somente a própria revelação, o revelador e o revelado ao mesmo tempo; é o gesto que desnuda. O divino nu (das estátuas gregas), o pecado nu (da inquietude cristão em relação à carne) e a pele nua – esses três aspectos do nu ocupam de muitas maneiras o pensamento atual." (p. 12)

"Foi a partir do corpo como imagem que a noção de integridade pôde ser pensada. O corpo é reinventado mediante um ideal que lhe é externo e que o deslocará da natureza para a pólis: o corpo do cidadão era um artifício a ser criado, que deveria ser treinado e aprimorado. Por isso, todas as figuras humanas do Pathernon são jovens; o corpo belo e nu não é dádiva da natureza, ao contrário, é uma conquista da civilização. Compreende-se, dessa maneira, que o nu artístico é relacionado a características morais, tornando-se modelo de virtudes e qualidades subjetivas que marcam toda a arte europeia ocidental. O nu faz abstração da dimensão do particular e do próprio ao manifestar fixidez fora do tempo: a beleza. É precisamente por causa dessa vontade obstinada do homem de dar forma visível ao humano que o nu seria o signo distintivo da sociedade ocidental, de sua metafísica milenar à procura de uma imagem sensível do ideal. As estátuas gregas representam o ideal mais elevado, uma vez que elas são o signo tangível do poder de uma cultura capaz de extrair o ideal abstrato da humanidade. O nu não representava um corpo, mas uma ideia: a ideia de homem." (p. 14)

Viviane Matesco
Corpo, Imagem e Representação

sábado, 21 de dezembro de 2013

DES-PROPOSITADA-MENTE

O olho cacodilato (1921), de Francis Picabia

Penso que deveria escrever um conto de Natal. Este ano haveria tempo hábil. Historinha breve, só para dizer que escrevi. Pelo menos isso. Já faz tanto desde o último! Não é apenas questão de tempo, claro. Foi uma espécie de desencanto. Sem vontade não há ideias. Sem boa vontade não há solução. Fui resolvendo minhas inquietações de outras maneiras. Além do mais, o Natal se tornou um feriado qualquer, do qual só me dou conta uma semana antes, quando decidem as tarefas de cada familiar. Tarefas de ceia: peru, tender, essas coisas. Sempre as mesmas. O que mais me irrita na tradição é também o que mais conforta. Natal é um período melancólico, de baixa produção, de vontade de nada. Vou escrever sobre o quê? Fábulas e sonhos não cabem mais, o mundo cresceu, acordou. Realismo também não cabe. Para que vou escrever sobre a "realidade" se a vida lá fora é mais interessante? Alguém quer ler no Natal? Essa é uma pergunta que cabe. Alguém tem paciência? Tenho impressão de que ninguém mais lê nada, ninguém além do meu círculozinho de amigos. Nada há para dizer a eles que já não tenha dito antes. Não vale escrever sobre isso.
      Deixo, então, a pena deslizar sobre o papel. Deus, como sou retrógrado!, uso caneta-tinteiro em época de wi-fi e smartphone. Mero fetiche. Não tenho espaço, menos ainda teria a droga do meu conto de Natal. Fico sem ideias, desconstruindo um personagem qualquer. Que, no fim das contas sou eu mesmo, disfarçado de ficção. Os pensamentos se esvaem, vou junto deles. Alguém estaria interessado nesse eu mesmo, super sem graça, banal, entediado? Precisa ler muito para entender, sabe?
      Foi o que imaginei.
      Os pensamentos se esvaem, vou junto. Um conceito se desfaz. Um sujeito se fragmenta. Escrevo com pena e observo, sozinho, a tinta ainda líquida na folha de papel. Ela demora a ser absorvida. Fico olhando. Isso sim vale. Parte evapora e se perde no mundo, parte é incorporada. Parte da tinta se vai, a outra fica retida, uma terceira se conecta às demais páginas do caderno numa ambiguidade só. Vejo as sombras do que já escrevi espreitarem do outro lado da folha. Porém não consigo compreendê-las. Não me pertencem mais.
      Derramo água sobre este texto. Despropositadamente. Um copo cheio de otimismo. A tinta se dilui, borra, espalha por toda a superfície do papel, escorre na mesa, mancha a madeira, suja os dedos, tinge a roupa, preenche as falhas, estraga tudo, põe tudo num estado de urgência. Esfrego a tinta no meu corpo inteiro. Pego a água suja de texto e espalho no rosto. Me parece bem melhor assim. Eh... agora sim.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O fotógrafo Georges Pacheco preparou o estúdio e deixou o disparador da câmera na mão de modelos cegos, que podiam escolher o momento em que a foto seria feita. Mesmo sem enxergarem, nota-se que alguns se preocuparam com a maneira como seriam vistos. Curioso, não?

Veja as fotos aqui: Le regard des aveugles

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Clique na imagem para ampliá-la

"Método terrorista, radicalidade, transgressão absoluta são normalmente os termos utilizados para qualificar ou aferir o grau de confrontação das obras de [Artur] Barrio com o mundo do trabalho, o mundo cotidiano da conveniência e das normas sociais. As situações com as trouxas ensanguentadas têm a política brasileira como pano de fundo, em alusão a corpos esquartejados. Apesar da alusão a restos de corpos, o trabalho não se resume a uma simbologia da morte; parte, sim, da reação das pessoas diante da morte, diante do inesperado, mas não se restringe ou se deixa enclausurar em mera exemplificação. Não é a analogia entre trouxas e corpos que dá sentido ao trabalho, mas o atravessamento da vida na morte, ou seja, a relação entre erotismo e morte; o que interessa é a detonação de sentido advinda da situação. Barrio lida com a transgressão do interdito da morte, uma vez que ela é redimensionada pela pulsão de vida. É o transtorno desse atravessamento que perturba a consciência ao se experimentar separada do mundo previsível e ordenado." (p. 50)

Viviane Matesco
Corpo, Imagem e Representação

Mais informações: Enciclopédia Itaú Cultural | Blog Artur Barrio

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ACREDITAR EM NOEL

Não me recordo da época em que acreditava em Papai Noel. Quando escrevia cartinhas, tentando convencê-lo de que, apesar das artices e malcriações, eu me comportaria melhor no ano seguinte, e não me importaria se recebesse um presentinho de incentivo. Suponho que a argumentação fosse mais ou menos essa. Do mesmo modo, não me recordo de quando deixei de acreditar nele. Havia certas suspeitas, compartilhadas entre os primos, quando passamos a observar a lógica impossível do evento. Quer dizer, Papai Noel visita todas as casas do mundo numa única noite? Se dividirmos essas bilhões de pessoas em 24 horas, quantas ele precisa visitar num minuto? Como pode? Além do mais, ele trabalha só um dia por ano? Consegue ler as cartinhas, escritas em tantas línguas diferentes? Por que algumas crianças ganham presentes melhores do que outras? Por que muitas não ganham presente algum? Cadê as renas? Noel mora no Pólo Norte ou no shopping center? Aquela barba é esquisita, quem se arrisca a puxar?

Busto do filósofo grego Sócrates
Já faz tanto tempo! Todavia ainda me recordo de quando voltei a acreditar na bondade do velhinho, e percebi a tolice que foi suspeitar da sua existência. Um despropósito da razão; dessa mesma lógica racional que transforma os homens em padrões de comportamento, dogmas e protocolos. Que só acredita vendo, que exige a verdade absoluta, que toma decisões com base em estatísticas. Que sustenta preconceitos, hipocrisias, burocracias e sistemas obsoletos, ao mesmo tempo em que esvazia símbolos, afetos e intuições. Que desacredita os sentimentos mais naturais do vivo.

Foi ao ler O Brincar e a Realidade, de Donald Winnicott, que me dei conta do que tinha acontecido. Um trecho em que ele comenta o valor simbólico de certos objetos. Assim: “Se considerarmos a hóstia da Sagrada Comunhão, simbólica do corpo de Cristo, penso que tenho razão se disser que, para a comunidade católico-romana, ela é o corpo e, para a comunidade protestante, trata-se de um substituto, de algo evocativo, não sendo, de fato, o próprio corpo. Em ambos os casos, porém, trata-se de um símbolo”. Em outras palavras, determinada coisa pode ser acolhida de maneiras diferentes, dependendo de quem lida com ela e do contexto cultural no qual está disposta. No caso citado pelo psicanalista, a hóstia pode ser uma representação ou o corpo nu e cru; pode existir como realidade ou ficção, conforme seu valor simbólico for evocado.

No caso de Noel, penso que a ordem lógica do mundo nega sua possibilidade de existência. E diminui sua potência simbólica a uma anedota infantil, sustentada enquanto a ingenuidade da fantasia permitir.

Junto isso com um pensamento de Michel Foucault, que propôs a autoria, num contexto mais contemporâneo, não como um lugar estático, mas como uma função assumida e abandonada conforme convier. Nesse sentido, todos podem ser, momentaneamente, autores dos feitos. Trata-se de uma atitude perante eles; um modo de agir. Não uma questão de posse nem de direitos autorais.

Isso significa que Papai Noel não pertence a ninguém específico, mas à comunidade inteira, e somos responsáveis por ele, se concordarmos que é relevante. Compreendi, assim, que sua existência não pode se pautar no raciocínio lógico, mas no simbolismo. Claro, pois não se trata de um velhinho de carne e osso, de roupão e trenó, e sim de uma maneira de ser e estar no mundo, de partilhar desse sensível. Uma função político-social que podemos assumir com intuito de transformar a situação vigente. Isso ocorre numa época determinada – o Natal – porque está de algum modo atrelada à tradição, embora possa operar o tempo inteiro, em todos os lugares.

Penso que é dessa maneira que deveríamos falar de Noel às crianças, quando percebemos os primeiros movimentos para desmascará-lo. Explicando que o disfarce não é uma mentira, mas uma fantasia, uma representação de certa vontade transformadora. A evocação do “espírito natalino”. Ímpeto que independe de religião. Nesse sentido, Papai Noel existe sim. Como uma ficção que criamos para combater a dureza do dia a dia, as desigualdades sociais, a descrença na força afetiva do povo. Se não sobrevive ao avanço da idade, talvez seja porque a ideia de doação como proposta de vida encontra tamanha resistência que se esfacela antes mesmo de adolescer. Imagino que cabe a experiência de tentar mantê-la ativa. E o tempo dirá se vale a pena.

Noel está abandonado à voracidade do capitalismo, deturpado por ações de marketing de todo o tipo, completamente associado ao consumo. Se pudermos reverter esse quadro, me parece que só teremos a ganhar. E não estou me referindo a presentes. Não são eles que importam, afinal. É o ato de se doar.

Quando alguma criança espertinha diz que Papai Noel não existe, respondo que existe sim. Porém não da maneira como a TV ou a “verdade científica” o vendem para nós.

Carl G. Jung explica que, “como diz o cético, símbolos e conceitos religiosos foram, durante séculos, objeto de uma elaboração cuidadosa e consciente. É também certo, como julga o crente, que a sua origem está tão soterrada nos mistérios do passado que parece não ter qualquer procedência humana. Mas são, efetivamente, ‘representações coletivas’ – que procedem de sonhos primitivos e de fecundas fantasias”.

Eu acredito em Papai Noel. E num feliz 2014 a todos.

Ho ho ho.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

PINTURA ENCARNADA

Estudo a partir no retrato do Papa Inocêncio X, de Velázquez – Francis Bacon

"Desde essa época de juventude, sua pintura não se afastou mais de mim. Ela agarra na gente, vive na gente. Seus 'personagens em crise generalizada' – crise moral, crise física –, como escreveu o crítico inglês John Russell, vivem ao nosso lado e nos lembram incessantemente que a vida é essa corda esticada entre nascimento e morte. Essa vida que nos traz visões exacerbadas, um vizinho de hospital, de asilo, às vezes de nós mesmos. O terror está presente, instalado em personagens que berram em silêncio. Uma crueldade veemente e visível, revelada por homens emparedados numa moldura espacial. A qualquer momento podemos nos deparar com o atroz, um acidente nos reduz a um pacote de músculos abertos. Na expectativa, possível, de uma ressurreição."

Franck Maubert, Conversas com Francis Bacon

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Varal (1993), de Adriana Varejão

"Hoje, a tecnologia assume o centro de um debate reflexivo sobre o seu domínio e predomínio na nossa sociedade. Não se trata de apresentá-la como vilã, mas a ética assume importância fundamental num mundo em que realidade e ficção parecem se fundir. O avanço técnico-científico, com as suas imagens de clones ou ciborgues, vem somar-se ao nosso contexto econômico e político, sobretudo na passagem do milênio, para instaurar uma nova subjetividade, hoje cada vez mais longe da ideia do sujeito autônomo postulado pela Modernidade. Hoje a subjetividade encontra-se em estado de fragmentação e disruptura, e simboliza a condição superlativa em que vivemos. E a arte, sem dúvida, rebate essa condição."

BOUSSO, Vitoria Daniela (curadoria). Por um fio. São Paulo: Paço das Artes, 2007. Catálogo de exposição.

domingo, 24 de novembro de 2013

sábado, 23 de novembro de 2013

VOCABULÁRIO DA RESISTÊNCIA

O governo chinês vasculha a internet atrás de informações compartilhadas por seus opositores. Para evitar a censura, os ativistas empregam termos que soam de maneira similar e até mesmo inventam uma espécie de "vocabulário da resistência", revisto a todo instante dadas as descobertas que lhe tiram o efeito.

"Com frequência usam homófonos, quer dizer, palavras que soam (quase) iguais. O exemplo mais famoso disso provavelmente é o 'cavalo de lama da grama' ['grass mud horse' em inglês], que se tornou uma espécie de mascote virtual entre os blogueiros que criticam o regime. O truque está no fato de que, em chinês, 'cavalo de lama da grama' soa quase exatamente como 'foda a sua mãe' ou 'foda a sua pátria-mãe' – coisa que seria censurada não apenas com base na obscenidade. Depois, há também os 'caranguejos de rio' ['river crabs']; este é um codinome para os censores do Estado, porque a palavra soa quase exatamente igual a 'harmonioso' ou 'harmonizar' – a descrição oficial da censura. Ai Weiwei, ao saber que seu estúdio de Xangai iria ser demolido, no segundo semestre de 2010, organizou um 'banquete de caranguejo de rio'. Foi uma clara estocada nos censores, da mesma maneira que o são as charges mostrando cavalos de lama da grama (representados por alpacas) vitoriosos em batalhas contra os caranguejos de rio."1

Aqui tem alguns exemplos de como termos cotidianos se tornam subversivos:

http://chinadigitaltimes.net/space/Grass-Mud_Horse_Lexicon

1JANSER, Daniela. Ai Weiwei como blogueiro e artista de internet. In: STAHEL, Urs (curadoria). Ai Weiwei – Interlacing. São Paulo: Museu da Imagem e do Som, 2013.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

CAMADAS DE UM TRABALHO ARTÍSTICO

Tinha ido à Pinacoteca de São Paulo por ocasião de uma palestra, se me lembro bem. Havia um horário a cumprir, e eu chegara trinta minutos antes. Decidi circular. Uma espécie de túnel cruzava o Octógono de um lado até o outro. Para quem não conhece, trata-se de um átrio localizado no centro do edifício, cuja forma geométrica lhe rendeu o nome. É costume que projetos especiais o ocupem (intervenções, esculturas de grande dimensão, performances etc.), ao invés de exposições convencionais. Dessa vez, havia um túnel branco, feito de madeira. De tempos em tempos, ouvia-se um estrondo, uma espécie de baque seco e potente, refletindo-se nas paredes ao redor. Fiquei curioso. Dei a volta até encontrar a entrada. O túnel se afundava em escuridão; não podia ver nada além de cinco ou seis metros à frente. O som, ali, era bem mais impactante. A identificação dizia "Um homem entre quatro paredes, de Alexandre Estrela". Entrei.

Um homem entre quatro paredes, de Alexandre Estrela. Vista interna da instalação.

Percorri toda a extensão no escuro, com cautela, tentando não esbarrar em nada nem ninguém. Segundo o artista, o objetivo do canal era executar uma "compressão prévia do sujeito". O volume do som crescia, enquanto o intervalo entre as batidas ficava mais curto. No fim, quando os olhos se acostumaram, me encontrei numa sala toda pintada de preto, com uma gigantesca imagem projetada numa das paredes e diversas pessoas acomodadas em pé ou no chão para observá-la. Descobri um espaço livre ao lado do subwoofer (caixa de som grave) que produzia aqueles estrondos e fazia tudo ao redor vibrar. No vídeo, apenas um pedaço de pele humana – uma fotografia, com enquadramento tão invasivo que mostrava os pelos, os poros e cinco pintas dispostas de modo matemático, formando esquinas de um quadrado mais um ponto no meio, bem centralizado.

Planta baixa do projeto de instalação
A foto se movia: emergia do centro até ocupar a tela inteira, sobrepondo a si mesma repetidas vezes. A cada sobreposição, uma pancada sonora; um incômodo evidente e cada vez mais veloz. Experiência angustiante, sem dúvida; algo claustrofóbica também. O som tomava conta do corpo, fazendo-o vibrar, ainda que sem vontade, sem querer se entregar à experiência. A imagem chamava atenção para as vibrações na pele, para o reflexo daquelas sensações no restante do organismo, para o andamento do coração em descompasso com o ambiente. Um conflito se impunha, e o resultado era a instabilidade, o desequilíbrio, a subserviência do sujeito em relação ao sistema dominante. Com a aceleração da imagem e do som, a angústia crescia. Eu queria sair da sala a todo custo, ao mesmo tempo em que precisava saber como aquilo acabaria.

Quando o ritmo das pulsações se aproximou do insuportável, tudo terminou de repente. O vídeo sumiu, o subwoofer silenciou. Fiquei no escuro. Tive a sensação ser empurrado para longe de mim; também certo alívio e solidão. Permaneci mais alguns minutos sentado, incorporando a experiência. Aos poucos, as pessoas deixavam a sala, caminhando pelo túnel na direção da luz. Segui junto com elas.

Na mesma semana, falei sobre a instalação com os alunos do curso de Terapia Ocupacional, na USP. Estudávamos os tecidos constitutivos do corpo, suas relações com o mundo, as camadas da pele, a reverberação, o pulso vital, percepção e sentimento, vivências disruptivas. Era possível pensar isso tudo por intermédio da experiência estética proposta na Pinacoteca.

Túnel no Octógono da Pinacoteca do Estado de SP.
Vista externa da instalação.
Meses depois, adquiri um livreto de entrevista, em que Alexandre Estrela comenta a obra. Meu entendimento a respeito dela se ampliou de maneira considerável. Pois aquilo que eu pensava serem pintas eram, na realidade, uma tatuagem comum entre presidiários portugueses. Os cinco pontos representavam o sujeito encarcerado; um homem entre quatro paredes. A instalação fora montada pela primeira vez em exposição promovida por uma companhia de seguros, batizada de Putting fear in its place (Colocando o medo em seu devido lugar). A entrevista envereda por ilusão de ótica, hospital do câncer, geometria, carga simbólica de tatuagens e seus limites como manifestação artística, divergências culturais, sistema carcerário, repetição serial como método de trabalho, realidade e veracidade, passividade do público do cinema, técnica e tecnologia, linguagem, marca e afetação, indústria do medo, entre outros assuntos. Tudo isso vinha à tona por conta de uma criação artística, cujas camadas de significado foram sendo dissecadas, aprofundando-se na direção de um núcleo – "centro conceitual e perceptivo", que perdura independentemente da montagem realizada, nas palavras de Alexandre. Uma "base de leitura", quer dizer, uma essência que se preserva qualquer que seja a roupagem empírica a envolvendo.

Levei meses até descobrir essa dimensão do trabalho, e tenho certeza de que é possível ampliá-lo ainda mais. Vale lembrar que estamos falando de uma só instalação. Tamanha a força de certas pesquisas contemporâneas.

Curiosamente, num curso sobre arte e filosofia que se realiza agora na mesma Pinacoteca, dois senhores na plateia, em dias distintos, revelaram-se encantados com as produções artísticas atuais. Os relatos foram similares: ambos descobriram a arte contemporânea somente com a chegada da aposentadoria, estavam impressionados com o seu potencial de conhecimento, crítica e reflexão, ao mesmo tempo em que frustrados por terem sido apresentados tão recentemente. Por que ninguém falou de arte contemporânea antes? Por que não se trata disso nas escolas? Por que tão pouca divulgação e tanta leviandade da mídia?

Faço minhas as palavras dos colegas.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

THE BOOK IS ON

Alguns números para refletir:

O brasileiro lê, em média, 1 livro por ano.
O alemão lê 25.

68% dos brasileiros são analfabetos funcionais.
7% são analfabetos completos.

Se entendeu os dados acima, você faz parte dos 25% restantes da população.

Uma editora com quem trabalhei disse que jamais teve problemas com roubos de carga. Nem um sequer. Afinal, se já é difícil vender livros de maneira lícita, imagine no comércio informal ou no mercado negro.

Por experiência própria, sei que boa parte dos usuários de internet, frequentadores de redes sociais, profissionais gabaritados de empresas riquíssimas, sim, boa parte deles sequer consegue se fazer entender. Não sabe escrever e-mails, conjugar verbos, ligar uma ideia na outra.

Ao contrário de muitos românticos, eu não acredito que livros mudarão o mundo. Nem acho que livros são mais importantes do que cinema ou TV. Ou qualquer outro meio de comunicação. Existem livros de todos os gêneros, bons e ruins. Assim como existem filmes e programação de todos os níveis.

O mercado de livros tem se expandido no Brasil. Mas o que as pessoas estão lendo? E o que estão fazendo com essas leituras?

Escolas transformam o mundo, sem dúvida. Professores transformam o mundo. Dedicação transforma o mundo. Boa vontade...

Penso que uma sociedade decente se constrói com vontade política e olhar crítico. Se, no caso do Brasil, isso não vem dos livros, será que vem de outros lugares?

No meu caso, e se é preciso apostar em alguma coisa, prefiro continuar com os livros.

Façam suas escolhas.

domingo, 10 de novembro de 2013

À RUA O QUE É DA RUA!

Uma amiga compartilhou este relato no Facebook. 

O autor comenta as intervenções urbanas que testemunhou no Minhocão, na cidade de São Paulo. Para quem não conhece, trata-se de um viaduto bizarro, que transformou a rua numa espécie de submundo, fez o comércio ao redor falir, transportou os carros para as janelas dos apartamentos, dividiu o bairro entre ricos de um lado e pobres do outro, além de resultar em teto para pessoas em situação de rua.

O texto fala de intervenções urbanas, ocupações artísticas, políticas culturais, do que fazer, das maneiras de fazer, de a quem pertence a cidade, das questões éticas... É bem interessante, forte, atual. Vale uma reflexão. Ou mais.

Copiei e colei tudo na íntegra, exceto por alguns detalhes de formatação. Desconheço o autor, e acredito que a foto também tenha sido feita por ele. Se alguém souber seu nome, ficarei feliz por citá-lo.

Enfim, achei que este é um bom assunto para o momento. Cá está:




À RUA O QUE É DA RUA!!!

Nos últimos dias o espaço do Minhocão, no centro da cidade de de São Paulo, tem sido destaque na grande mídia por causa de intervenções que atualmente ocuparam visualmente as pilastras do lugar. A cobertura é sempre tendenciosa, é bom colocar o outro lado da história. Se inicialmente foi projetado para ser um local de passagem o Minhocão, foi aos poucos, e cada vez com mais intensidade, sendo ocupado por pessoas e formas de intervenção marginalizadas pela sociedade e pelo poder público, como moradores de rua, graffiteiros e pichadores. Muito tempo já passou desde que esse processo de ocupação do minhocão começou a acontecer. Muitos moradores de rua já foram enxotados de lá como bichos e voltaram, muitos graffiteiros e pichadores já foram presos ou esculachados pela polícia por pintar seus pilares e voltaram e também muitos artistas plásticos presentes nas galerias já intervieram neste espaço, mas na maioria das vezes respeitando quem já ocupava o local. Trata-se claramente de uma disputa política, entre a cidade que queremos e a cidade que o poder público tenta impor para nós.

Nas ultimas duas semanas uma boa parte das intervenções presentes nos pilares do Elevado foram substituídas por uma série de fotos gigantes de moradores da região. Para isso TODAS as intervenções presentes nestes pilares foram cobertas com tinta cinza. Coincidência, ou não, também pude reparar que os moradores de rua também não estão mais lá. No fim de semana passado estava passando pela região com a Magê e encontramos um grupo de pessoas colando as fotos e registrando o momento. Decidimos fazer alguns questionamentos para entender o que estava rolando. Estavam presentes a artista, algumas pessoas ligadas ao projeto e algumas pessoas que me pareceram pessoas contratadas para colar as fotos e pintar as pilastras de cinza. Depois de algum tempo pedimos para conversar com a artista e as coisas se esclareceram. Descobrimos que se tratava de um projeto em parceria com o SESC e com a Prefeitura, para ocupar a região, e que ela havia sido convidada para expor suas fotos no local. Perguntamos se ela sabia que aquele espaço já estava ocupado. E que esta ocupação era fruto de diversos anos de disputa entre várias pessoas e a prefeitura, tais como graffiteiros, pichadores e artistas plásticos que desejavam realizar intervenções públicas. Questionamos também se ela sabia que entre as pessoas que realizam suas intervenções nas rua de São Paulo existe uma forma de proceder em que se respeita as intervenções realizadas anteriormente nos muros, não colocando seu trabalho por cima delas, e que este proceder era fundamental para que o espaço visual da rua fosse ocupado de forma democrática, pois só assim seria possível que o trabalho de graffiteiros, pichadores e artistas plásticos mais consagrados e experientes coexistisse com os de pessoas que estão se iniciando neste mundo da intervenção urbana, sem depender de seleção prévia ou curadoria de ninguém, e muito menos dos projetos políticos da prefeitura.

A artista nos respondeu que sabia das formas de proceder da rua mas que, apesar de saber disso, o convite feito pelo SESC para fazer essa intervenção era “A SUA CHANCE”. Disse que não teve escolha, e que por causa disso tinha pedido autorização para pintar os trabalhos de 2 dos graffiteiros que ocupavam o espaço (tinha pelo menos uns 20 ou 30 graffiteiros com trabalhos nos pilares apagados). Ela nos disse também que seu trabalho era político porque questionava o uso daquele espaço e porque dava destaque para a imagem de moradores da região, principalmente moradores de rua.

Algumas reflexões sobre isso:

– Essa intervenção no Minhocão desrespeitou não só os graffiteiros, pichadores e artistas que tinham ocupado o espaço das pilastras do Minhocão, desrespeitou também todos os outros que de alguma forma lutaram por anos para ocupar este espaço. Para além disso atropelou também a história e o registro das formas de interação de uma série de outras pessoas que convivem neste espaço e que também marcam de forma ativa estas pilastras. A Prefeitura e o SESC estão dizendo que a população não tem condições de contar sua própria história, que ela só tem valor quando registrada por um terceiro, no caso a fotógrafa.

– O espaço do Minhocão sempre foi ocupado e teve vida, diferentemente do que a cobertura da mídia tenta demonstrar. Se está vida é marginalizada e incomoda os autoproclamados cidadãos de bem já é outra história. A solução do problema não está em varrer os moradores de rua para longe dos olhares dessas pessoas, muito menos em tentar cobrir de cinza as frases cores e nomes que aparecem nos muros, pois essas são vozes também fazem parte da vida urbana, e não se calarão.

– Vemos mais uma vez aqui a ideia capitalista da oportunidade individual atropelando a ação coletiva. A ideia de que esta é a minha chance e eu não tenho escolha mostra isso. SEMPRE TEMOS ESCOLHA.

– O trabalho da artista é sim político, aliás, nada contra a ideia de colar fotos gigantes de moradores da região na rua, mas tudo contra a forma como isso foi feito. Se tivesse sido feito de forma independente e respeitando as intervenções anteriores seria algo bem interessante. Mas feito de forma institucionalizada e aliada à prefeitura e sua dita política de “revitalização” do espaço a obra muda sim de característica. Para mim deixa de contestar a ordem vigente para reproduzi-la. Não sei se a artista tem dimensão de tudo isso (me pareceu que não), mas espero que ela descubra de que lado ela está sambando.

– Por ultimo, é bem interessante como a intervenção feita sobre uma das fotos teve repercussão e incomodou a grande mídia. Teve jornal que embaçou a foto na parte da frase escrita para que não se pudesse ler, teve outro que colocou uma bola vermelha em cima dela censurando-a explicitamente. E teve outros que disseram que ali não havia nada...só vandalismo e rabiscos feitos por gente sem inteligência com a intenção de estragar a obra da fotógrafa que tinha dado vida no Minhocão. Se alguns fazem jornalismo manipulador e baseado em preconceitos que os impedem de ler imagens e pesquisar a história, pelo menos recente de um lugar, e se acham inteligentes é preciso rever essa ideia de inteligência.

A RUA ESTÁ VIVA SIM! SEMPRE ESTEVE! E SEMPRE ESTARÁ!!! À RUA O QUE É DA RUA!!!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

SOBRE LITERATURA E POLÍTICA

"Não gosto de literatura engajada. A doutrina faz parte da atividade missionária, religiosa, e um escritor deve inventar um pequeno mundo, um microcosmo com dramas e tragédias humanos, sem mensagens ideológicas ou receitas para uma vida feliz. As grandes obras falam do tempo, que é social, político, cultural. Pensar já é um ato político. O sentido da História é importante para a construção de um romance. Mas é na história particular e na trajetória de um personagem que aparecem os dramas humanos e o verdadeiro sentido da História. Numa obra de ficção, as relações de poder, os conflitos e perturbações morais estão estreitamente vinculados e devem fazer parte da subjetividade dos personagens que participam do enredo."

Milton Hatoum
Revista OCAS nº 91
Setembro/Outubro de 2013

sábado, 19 de outubro de 2013

DENTRO E FORA DA 30X BIENAL

A história oficial jamais dá conta de todos os seus personagens, ainda que reivindique para si o título de "absoluta". A mostra em cartaz no parque Ibirapuera, que reúne protagonistas das 30 edições da Bienal de SP, está sendo criticada por aqueles que ficaram de fora. Claro, é natural que alguns não participem, dados os limites da proposta. Mas qual é o critério? Quais são as questões ética envolvidas? Para a artista Maria Bonomi, a instituição se curvou ao mercado, conforme denúncia divulgada no vídeo abaixo. Alguém discorda?


Site oficial da mostra: 30 vezes Bienal

sábado, 12 de outubro de 2013

SER DE ESQUERDA

Sempre achei inconveniente a classificação de governo esquerdista ou direitista, sendo um voltado para o social e outro para o capital, conforme aprendi na escola. Comunistas e capitalistas de verdade existem apenas em filmes hollywoodianos ou livros de geopolítica. Talvez ainda em cartilhas, que ninguém segue à risca. Porque, na prática, não é bem assim; dogmas não se aplicam, maniqueísmos idem... Existem nuances. Ambas as utopias, com suas propostas extremistas, estão em desalinho com a realidade contemporânea, tampouco dão conta da sua complexidade. Ideais estáticos, rígidos, não operam em sociedades moventes, ambíguas, em transformação constante e veloz. No mundo inteiro, de modo geral, estabelecem-se governos de centro: centrados em si mesmos, nos interesses imediatos, seja o reconhecimento econômico internacional para atrair investimentos, seja uma tentativa de se livrar das ameaças para assim permanecerem no poder. Centros que em raras ocasiões se distanciam na direção da periferia social ou intelectual, e quando isso ocorre o percurso já é, desde o princípio, digno de suspeita.

 


Isso é evidente no Brasil, com nossa imensa variedade de partidos políticos que, na prática, são igualmente previsíveis: doutrinários, conservadores, patriarcais. Quer dizer, é possível diferenciar ideologias bem estruturadas, questionadoras e incompatíveis que justifiquem tantas chapas? É possível discerni-las? Veja bem, a questão não é o número, mas os motivos que levam a ele. Os partidos têm quais objetivos, quais planos de governo, quais propostas de trabalho? Ninguém sabe. Porém, existe uma infinidade de interesses pessoais postos em jogo, além de uma dança de cadeiras mais ou menos ensaiada que sustenta a mediocridade do sistema.

Por sua vez, um significado possível para o termo "esquerda" ganha força em consequência desse território esgotado estabelecido pela tal democracia como a temos hoje. Um certo tipo de pensamento e de posicionamento político em formação, que se manifesta por sua inexatidão e assim deve prosseguir. Foi ao assistir a um fragmento de entrevista com Gilles Deleuze que pude compreender melhor esse "esquerdismo", que nada tem a ver com aquele "direcionamento ao social" arrastado pela tradição. "Ser de esquerda", explica o filósofo, "é começar pela ponta e perceber que esses problemas devem ser resolvidos, pois estão mais próximos do que nossos problemas pessoais. Ser de esquerda é ser ou devir minoria".

A que ponta ele se refere? Àquela mais distante, que parece não nos dizer respeito. À fome na África, às ditaduras islâmicas, às imposições norte-americanas, às calotas polares – de lá para cá, da ponta em direção a nós; esse seria o trajeto, a estratégia de atuação. A lógica se inverte; de longe deveríamos caminhar até o nosso redor imediato e, enfim, o conhecido centro de onde costumam partir os interesses públicos.

Para Deleuze, ser de esquerda é um fenômeno da percepção. Trata-se de uma maneira de apreender o mundo, as relações sociais, as vontades políticas, as atitudes. "Ser", afinal, é um verbo de ação, não uma determinação. As pessoas só "são" sendo. Em outras palavras, o que as constitui é a sua postura diante da vida, os atos que protagonizam; não uma programação precedente.

A esquerda está condenada à oposição. O que não significa ser o tempo inteiro contra a situação vigente, porque atacar por atacar é um egocentrismo inconsequente e ingênuo. Ser oposição está relacionado com fazer prevalecer o direito à crítica, ainda que nem sempre a alternativa seja mais indicada. Revisar as instituições e, se for o caso, propor melhorias. Experimentar outros pontos de vista, procurar novos caminhos, explorar possibilidades não consideradas até então. Dar voz às minorias. Aproximar-se delas. Deixar-se afetar.

Não tem nada a ver com o governo. Nem pode. Jamais existirá governo de esquerda. Quando a esquerda toma o poder, seu oposicionismo se esfacela. Ilude-se o povo que pretende vê-la dominar, de modo que seus desejos sejam atendidos. Isso é impossível. O governo estará centrado em si, independentemente da sua origem, pois é assim que o sistema global funciona.

É um paradoxo. Porque, se o povo se une, o esquerdismo se transfere para outra causa. Trata-se de uma instância fluida. A esquerda é a minoria, a resistência, a oposição por excelência. Não pode jamais ser estática ou instituída: é uma situação momentânea, relativa, que abrange um sujeito para logo o abandonar e se dedicar a uma nova questão. Um papel social. Não deve desejar o poder, mas derrubar as maiorias que se impõem. Jamais se torna padrão, pelo contrário: posiciona-se fora dele, combate-o, provoca-o até que se desfaça. Inconformada com qualquer que seja a situação, deslocada em relação a ela, querendo sempre repensá-la, querendo sempre renová-la.

Se a situação se dedica a algo, a esquerda exigirá que se volte a outro, irá procurar esse outro onde quer que esteja, por menor que seja, porque ele existe e necessita de espaço para se expressar; ele depende da esquerda para ser ouvido. Quando se estabelece, a esquerda o mantém sob vigilância e passa a procurar outro outro, o além outro, o novo outro, a exceção. Assim, pelo movimento contrário, promove um equilíbrio imprescindível.

Quando a maioria ganhar força, a esquerda estará distante, junto da minoria. Porque "a maioria nunca é ninguém", diz Deleuze, "mas um padrão vazio em que muitas pessoas se reconhecem. (...) A minoria é todo mundo". Nelson Rodrigues completaria com sua célebre afirmação: "Toda unanimidade é burra".

Ser de esquerda é tornar-se crítico, olhar com desconfiança, resistir às forças primárias. Não com objetivo de destruir, movido por puro preciosismo. Mas para refletir, provocar rupturas, abrir fendas, incentivar melhorias e não deixar que um ser sucumba por pressões impostas, por maiorias sufocantes, pelas normas gerais confortadas no poder. Ser de esquerda é uma possibilidade de existência condizente com o agora. É estar deslocado em relação à ordem. Tanto da política partidária, administrativa, quanto das políticas que nos afetam no dia a dia, que constituímos e sustentamos. A política própria da vida em sociedade.

[transcrevi aqui a entrevista com Deleuze disponibilizada no vídeo acima: A esquerda de Deleuze]

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

ASPECTOS DA ESTRUTURAÇÃO DO SELF DE LYGIA CLARK: PERSPECTIVAS CRÍTICAS

Clique na imagem para ampliá-la
Estou superfeliz com este convite da FAAP: vou apresentar um resumo de minha pesquisa de mestrado durante o VII Seminário de Pesquisa em História da Arte. O tema: Estruturação do Self, proposição artístico-terapêutica desenvolvida pela artista Lygia Clark no Brasil entre 1978 e 1988.

O evento oferece diversas outras palestras bem legais. Para assistir, precisa se inscrever aqui: faap.br/pos

sábado, 5 de outubro de 2013

SIGNIFICADO POÉTICO

gosto
das palavras
imprevisíveis
que aguardam
na linha
debaixo

e mudam
o sentido das coisas

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

EXCESSIVAMENTE NADA

Na companhia de objetos #2, 2008, de Flávia Junqueira
Faço um monte de nada. Tenho feito um monte de nada desde... sei lá. Quer dizer, faço coisas, um monte de coisas, excessos – ler, andar, comer, espreguiçar, trabalhar, checar e-mails compulsivamente – que resultam em nada, um monte de nada. Até que, um dia qualquer, resultam em alguma – outra – coisa e me trazem a sensação de que fiz muito. A sensação do muito dura pouco. Retorno ao nada. Que me conduz ao lugar algum. Ao tempo oco. Ao reverso do mundo. Ao buraco negro. Um grande buraco no espaço que atrai tudo ao seu redor para transformar tudo em nada. Outrora. Outra hora. Mais. Para nada.

Saiba mais sobre: Flávia Junqueira.

domingo, 15 de setembro de 2013

A CONDENAÇÃO LÓGICA

"Aquilo que o condenado, em silêncio, compreende finalmente, na sua última hora, é o sentido da linguagem. Os homens, poder-se-ia dizer, vivem a sua existência de seres falantes sem entenderem o sentido da linguagem; mas para cada um deles trata-se de uma sexta hora na qual até o mais estúpido vê a razão abrir-se. Naturalmente, não se trata da compreensão de um sentido lógico, que também poderia ser lido com os olhos; trata-se de um sentido mais profundo, que não pode ser decifrado a não ser através das feridas, e que só é atribuível à linguagem enquanto punição (é por isso que o domínio da lógica é o do juízo: de fato, o juízo lógico é uma sentença, uma condenação). Compreender esse sentido e medir a culpa própria é um trabalho difícil; e só depois de concluído esse trabalho se pode dizer que foi feita justiça."

Giorgio Agamben
Ideia da Prosa

HOJE, NO TREM:

1.
– A senhora viu ou sonhou?
– Eu vi. Só não sei se eu estava dormindo ou acordada.

2.
– Você está desconectada.
– Em que sentido?

3.
– Se eles querem ou não Jesus, o problema é deles. Se eles querem ou não servir o senhor, o problema é deles.