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sexta-feira, 23 de maio de 2014

SP PRETO E BRANCO

Fotografia de Carlos Moreira, publicada pelas Edições Sesc em livro que leva o nome do autor
e reproduzida na revista do Sesc de maio de 2014

terça-feira, 20 de maio de 2014

ROMANCE SINCERO

Se eu escrevesse um romance sincero, começaria com uma frase lida em Formas de voltar para casa, de Alejandro Zambra (p. 60): "Este romance devia ser escrito por outra pessoa. Eu gostaria de lê-lo".

Com isso, isentaria a mim próprio – ou ao menos mostraria intenção de me isentar – de tudo aquilo que o autor dissesse. Não quero participar das ocorrências, não quero ser cúmplice de meus algozes.

É sobre isso que gostaria de escrever, sobre um romance que não deveria ser escrito – ou melhor, sobre um romance que não deveria ter sido escrito por mim.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

ANTES DE ATIRAR UMA OPINIÃO CONVÉM SABER:

Rero [trabalho exposto na Caixa Cultural de SP]

Quem é? De onde veio? O que faz? Como faz? O que deseja? Como gostaria que fosse? Para onde vai? Como se sente? Do que precisa? Do que gosta? O que tem? Como obteve? O que falta? Como se chama? Como é chamado? Como se vê? Como os outros o veem? Como pensa que é visto? Como compartilha? Por que é assim? Como se define sua situação? Quais preconceitos estão implícitos nisso? Essa definição serve para alguma coisa? O que está em volta? Onde vive? Que território habita? Que coisas possui? Que coisas o possuem? Qual é o sentimento? Quem está junto? Quem se afasta? Quem não veio? Quem já se foi? De quem sente saudade? Como pode? O que pode e o que não pode? Por que não pode? O que pode mas não consegue? O que não pode mas se dá um jeitinho? Quem é [você] que olha? Por qual ponto de vista / perspectiva? Qual é a relação que se estabelece? Que ideias já vieram formadas antes do encontro? Quais delas permaneceram? Quais ideias se desfizeram? Quais processos estão em operação? O que está dado? O que está implícito? O que foi soterrado? Que corpo é esse? Que gesto produz? Como se expressa? Escreve, pinta, canta, dança? Como se coloca no mundo? Em que situação se impõe? Que situação é imposta a ele? Quando é ignorado? Qual é a sua cor? Qual é o seu cheiro? Como é tocá-lo, qual é a sensação? Como se sente quando tocado? Que vontade surge quando está por perto? Do que lhe faz lembrar? O que sente quando se distancia? Onde está sua força? Onde está o seu olhar? O que pensa do mundo? Como administra a vida? Em que lugar dorme? Em que lugar acorda? Com quem? O que comeu ontem? O que bebeu? De que alimentos gosta mais? Tem mãe, pai, filhos, irmãos, animais de estimação, família de qualquer gênero, raça, cor, imaginação? Qual é o seu bicho favorito? Com o que sonha? Quais são os seus medos? Como se imagina daqui a dez anos? Já dirigiu um carro? Já andou de moto? Avião? Navio? Já pescou? Pratica esporte? Torce para algum time? Como foi parar ali? Vive do quê? Trabalha? Qual é o seu talento? Para que coisa não leva o menor jeito? Tem apelido? Conta bancária? Sabe cozinhar? Toma conta de alguém? Alguém cuida dele? Como se sustenta? O que aprendeu? Frequenta ou frequentou escola? Quais assuntos mais interessam? O que gostaria de saber? É bom de matemática? Português? Geografia? Filosofia? Para que lado fica o seu norte? Quais são as suas condições? O que pensa quando vê as estrelas? Qual é a sua cor favorita? Gosta mais de calor ou de frio? Conhece o mar? Sabe nadar? Visitou o zoológico? Sabe andar de bicicleta? Patins? Cavalo? Qual é a sobremesa preferida? E prato salgado? Aliás, prefere salgado ou doce? Sorvete de massa ou picolé? Gosta de ler? Qual foi o livro mais marcante? Vai ao cinema? Drama, comédia, ação ou suspense? Documentário? Com que frequência? Qual é o seu melhor amigo? Como se sente em dias nublados? Quando foi ao médico pela última vez? Dentista? Sente-se bem? Alguma queixa? Conhece os parques da cidade? Os museus? Qual é o seu favorito? Gosta de algum artista em particular? Cantor? Frequenta teatro? Já assistiu a uma peça de Shakespeare? Gosta de música? De que tipo? Qual canção arranca suspiros toda vez que se ouve no rádio? Qual banda ainda quer ver ao vivo? Qual foi a última vez que viu uma? Qual foi a mais legal? Dança sozinho ou em par? Em grupo, talvez? Sabe o que é amor? Ama? É amado? Foi amado? Faz amor? Qual foi a última vez? Que tipo de amor? Gosta de flores? Quais? Gostaria de enviar algum recado, tem algo a manifestar? Tem vontade de quê? Como se veste? Já usou gravata borboleta? Tem religião? Acredita em Deus ou coisa similar? Qual? Como? Por quê? Acredita em vida após a morte? Gostaria de ser cremado ou enterrado? Doará órgãos? Já tomou banho em banheira? E banho de rio? Para onde vai quando quer se esconder, pode dizer? Ou quando vai descansar? Para onde gostaria de ir? Onde costuma passear? Que cidades gostaria de visitar? Qual celebridade gostaria de conhecer pessoalmente? Mesmo? Por quê? O que diria na ocasião? Sabe contar piadas? Qual é a sua lembrança mais feliz? Qual é a mais triste – fique à vontade para não responder, se preferir. Está à espera de quê ou de quem? Já infringiu alguma Lei? Acredita em ética? Já arrancou um dente do siso? Qual é a cor dos olhos? Dos cabelos? São lisos ou crespos? Admira alguém? Algum ídolo? Por quê? Gostaria de ser mais feliz? Já morou fora do país? Em outra cidade? Outro bairro? Gostaria de experimentar? Onde? Está apaixonado? Cadê a poesia? Como o seu sensível se manifesta? Qual é o aspecto político? Por sinal, o que pensa da política? Como participa? Como se sente na sociedade? Pertencente? Quais são os encontros e as conexões? Tem algo a propor? Algo de que reclamar? O que produz? O que se perde? O que resta? O que gostaria de dizer, de livre e espontânea vontade? O que prefere deixar subentendido? O que não pode ser dito?

[para ajudar na construção de um pensamento crítico]

sábado, 17 de maio de 2014

DEVIR = INVOLUIR

Não há passado nem presente nem futuro.
Agora não há ideia de história. Não há História.
Não há hierarquia. Somente historietas, contos, causos.

Devir diz repeito a desfazer.
Escapar dos excessos. Das finalidades. Da objetivação.
Esfacelar as exigências do sistema de produção.
Resistir, transpassar, refratar.

Há potência da suspensão de sentido.
Uma vontade muito grande de acolhê-la.
Acolher essa potência, esvaziar o mundo.
Aceitar e respeitar seus buracos.
As fendas, as lacunas.

Provocar curto-circuitos. Desvios. Errâncias.
Vagar por linhas erráticas, linhas de fuga.
Rastrear o campo. Suspender o tempo.
Silenciar.

*Palavras apropriadas de Peter Pál Pelbart. Que se apropriou das palavras de Fernand Deligny. Que se apropriou das palavras de quem não precisava delas para existir.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

O AMOR É UMA CONSTRUÇÃO

Na imaturidade do amor, imaginava situações de perigo, querendo ser herói, querendo que a bravura conquistasse a mulher amada. Como nos filmes de Hollywood ou nos romances de cavalaria. Todo homem já quis ser herói. Todo homem sonhou que, num ato de bravura, conquistaria a frágil dama em perigo, sua princesinha trancafiada na torre. E algo me diz que toda mulher também já quis ser princesa. Coisa de criança que às vezes persiste a vida inteira. [Fantasia?] Como se a mulher viesse até nós por conta de um mal que a aflige. Como se precisasse de nós. No fundo é um pensamento machista. Mas na superfície é só ingenuidade mesmo. O heroísmo do dia a dia é muito diferente. Ele existe de maneira tão sutil que nem sempre se faz notar.

Quando conheci você não havia King Kong, prédio em chamas, floresta sem fim. Nenhum risco iminente a meu favor. A fantasia se assumiu como realidade e me enganou. Fiquei inerte, sem saber como agir. Não tinha sido instruído a lidar com os desafios do cotidiano. As fábulas não eram tão literalmente banais. Nós trabalhávamos juntos. E só.

Se o desafio não era salvá-la da torre, qual seria? Como eu poderia ser herói? Precisava descobrir as suas fantasias. Torná-las realidade. Pois todos se permitem ficcionar, ainda que nem sempre se deem conta.

Suas fantasias diziam respeito a conquistar independência, sucesso profissional, constituir família. Você não queria – não precisava – de um príncipe encantado, mas de um companheiro de carne e osso. Talvez nem soubesse que era assim. Fez a bravura ganhar outro significado. A coragem se mostrar nas questões mais simples. Era um desafio maior do que eu imaginava. Topei porque acreditava no desconhecido, naquilo ainda por se fazer. Você também topou. Nós.

* * *

Em nossa relação, nunca vi motivo para deixar de ser o que sou. O que fui. Seria fácil chegar aqui e dizer que mudei, aprendi, tomei outro rumo depois que lhe conheci. Aconteceu, admito. Foi bom. Mas eu mudei sem que existisse tal cobrança. No geral, não existiu. De nenhum dos lados.

O que sempre me fez apostar nessa relação é que um respeita o outro e o outro respeita o um do jeito que somos. Já lhe disse uma porção de vezes. Quase nos confundimos sem desperdiçarmos nossa individualidade. Discordamos quase sempre de quase tudo. Somos nem iguais nem diferentes.

Poder discordar e ainda assim sustentar a relação é muito bonito. E muito difícil. Só dá certo porque não queremos que o outro mude pelo um – ou às vezes até queremos, humanos que somos, porém não exigimos. A vontade de um não pode ser condição.

Nas entrelinhas desse acordo silencioso, as coisas foram se transformando a seu bel-prazer. Acontecendo. A relação foi se reformulando. Porque o amor não é uma solidez, uma entidade inerte, superior a todas as outras. Isso é fantasia. Enquanto o amor é uma construção. Não está pronto nunca; ele se faz no dia a dia. Não pertence a nós; ele depende de nós. Existe por nossa causa, por tudo o que fazemos; através de nós, dentro e fora, numa troca incessante.

Mudei muito nesses últimos anos. Não porque você exigiu, mas por sua causa, em sua causa, para fazer você feliz. Para me adaptar àquilo que inventávamos, num improviso só. Por vontade nossa. Misturei-me às suas fantasias, fiz de algumas delas minhas também. Seus planos começaram a me constituir. E as minhas ficções tinham você no elenco. O espetáculo já não poderia se realizar sem a sua companhia.

Juntos aprendemos que o amor não precede. Primeiro vem um desejo, uma disposição. Depois vem a dedicação, o esforço, a mão na massa. E assim o amor cresce todo dia. A gente mistura, sova, espera crescer, sova de novo, põe no forno, sente o prazer de fazê-lo, o aroma, o sabor. Usufruímos do amor.

Não tem nada a ver com cavalo branco, predestinação, metade da laranja, vestido de noiva. Isso tudo é ingenuidade. Faz parte de uma fantasia instituída distante do afeto, do sentimento e da vontade de construção. A bravura do amor está no dia a dia, no esforço para estar junto, tomar café da manhã; está nos emoticons de celular, na preocupação, nas compras de supermercado, nas surpresas, nas conversas sérias e nas levianas, nos desabafos, risos e saudades. No silêncio confortável. Em sustentar tensões e tesões. Está no abraço acolhedor, no beijo de boa noite, na presença. Concessões e consentimentos. Habitar e ser habitado. Movimentação entrosada. Nessas pequenas coisas que vamos construindo cotidianamente. Porque a gente quer. Porque optamos por fazer assim. Porque você me ama e eu sei. Porque eu amo você.

* * *

Eduardo A. A. Almeida e Juliana L. Andrucioli se casaram no último 26 de abril. Este texto é dedicado a todos os casais que tomaram a mesma decisão. Simplesmente porque acreditam que vale a pena.

sábado, 26 de abril de 2014

Da série "O que não é?"

37ª questão:
O QUE NÃO É ENVOLVIMENTO?

sexta-feira, 25 de abril de 2014

quarta-feira, 23 de abril de 2014

HIPOCRISIA MIDIÁTICA

O sujeito atira para matar, as câmeras mostram tudo ao vivo, e os jornais, revistas, rádios etc. o chamam de 'suspeito'. Criminoso não, bandido não, é suspeito. Ao mesmo tempo em que alguém vai para uma manifestação qualquer, quebra uma coisa qualquer e, mesmo sem saber de quem se trata e de por que quebrou, a mídia o chama de vândalo. Acho esse comportamento muito suspeito.

domingo, 20 de abril de 2014

sábado, 19 de abril de 2014

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Da série "O que não é?"

 33ª questão:
O QUE NÃO É APRENDIZADO?

quinta-feira, 17 de abril de 2014

quarta-feira, 16 de abril de 2014

TUDO QUE PENSO

tenho vontade de escrever
tudo que penso
e essa impossibilidade
angustia

por quê?
a fim de quê?

é uma vontade boba
pois tudo que penso
está cá registrado
nalgum lugar
todinho meu

lugar aberto
a quem quiser
visitar,
revisitar

na porta, a poética
dos livros de ouro
recebe os chegados,
marca a passagem

onde público e privado
se misturam
em gentilezas
literalmente
faladas,
pensadas,
compartilhadas

ainda assim escrevo
minhas vontades
a fim de quê
não sei

não saber
é bom também
escrever, impreciso
Da série "O que não é?"

31ª questão:
O QUE NÃO É CRÍTICA?

terça-feira, 15 de abril de 2014

segunda-feira, 14 de abril de 2014

domingo, 13 de abril de 2014

sábado, 12 de abril de 2014

Da série "O que não é?"

27ª questão:
O QUE NÃO É CORRUPÇÃO?

sexta-feira, 11 de abril de 2014

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A constante possibilidade de violência já é uma violência em si.