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terça-feira, 10 de março de 2009

PECADO DA CAPITAL

Esta crônica foi publicada há um ano e pouco me surpreende o fato de que nada mudou. Ou, se mudou, foi para pior.
Com ou sem crise, as montadoras continuam produzindo e vendendo milhares de veículos todo mês. Com ou sem crise, o povo continua comprando. Com ou sem crise, todos ficam parados no trânsito falando sobre a crise.

O que mais me desanima, no entanto, é que fui obrigado a parar com o ioga. Depois de 9 meses de prática, não consegui mais chegar no horário.

Demoro em média duas horas para ir de casa ao trabalho e o mesmo tempo para fazer o percurso inverso. É uma insanidade que só São Paulo explica (a cidade, não o santo). Acordo cedinho, pego ônibus, metrô, faço baldeação, pego outro metrô, caminho três quarteirões, pego um segundo ônibus e vou a pé os últimos quinze minutos. Daria para ir à praia, mas meu bate-e-volta diário é para o escritório mesmo.

Há aproximadamente dois meses, eu e minha namorada inventamos de fazer ioga nas manhãs das segundas-feiras, pertinho do trabalho, o que significaria sair de casa às cinco e meia da madrugada. Achei cedo demais e optei por um dos maiores sacrilégios da cidade: tirar o carro da garagem. Seria apenas uma vez por semana, duas pessoas no veículo e, na minha ingenuidade, acreditei que haveria chance de absolvição.

O início foi tentador: era janeiro, muita gente ainda estava de férias e nós precisávamos de apenas uma hora e dez para chegar lá. A volta demorava um pouquinho mais, hora do rush, sabe como é; mas tudo bem, aceitei a penitência.

No entanto, a primeira segunda-feira após o carnaval revelou a gravidade do meu pecado. Era a releitura mais atual do Inferno, de Dante, com as almas penitentes sofrendo fechadas em seus círculos individuais, engolindo fumaça, suando sob o sol quente do verão, torturadas por buzinações intermináveis.

Minha namorada ficou desconsolada. Queria usar a ioga para curar aquilo: colocar um new age em cada carro, levantar o megafone e fazer todos aqueles motoristas estressados recitarem juntos o mantra Óóóóhuummm...

Percebi que, para continuar chegando no horário, seríamos obrigados a sair de casa ainda mais cedo e retornar ainda mais tarde. Comparando com o tempo de ônibus + metrô, ficava, como dizem, elas por elas.

E a situação só tende a piorar. Qualquer bom-senso consegue imaginar a enorme e assustadora leva de novos motoristas que chega às ruas todo mês. Basta olhar as notícias sobre as montadoras: é um recorde atrás de outro. Em fevereiro, chegamos a seis milhões de veículos licenciados na cidade e uma média de oitocentos emplacamentos por dia. Mesmo o rodízio já não resolve nada há tempos.

No domingo passado, fiz uma experiência: percorri o mesmo trecho que durante as últimas segundas-feiras me tomou uma hora e meia de vida. Precisei de apenas vinte minutos.

Em outras palavras, o carro, que todo mundo tira da garagem para economizar tempo, acaba se revelando um dos grandes problemas da atualidade. E isso vale para a maioria das metrópoles, porque todos nós somos um bando de preguiçosos inconsequentes. Poluímos, gastamos absurdos com combustível, estacionamento e manutenção do veículo e acabamos com nossa própria saúde no meio daquela loucura.

Sempre gostei de transporte público por dois motivos: 1. Não suporto o processo de engatar a primeira marcha, avançar um metro, desengatar, esperar alguns instantes e fazer tudo de novo, e de novo, e de novo, durante uma eternidade; 2. Uso o tempo que passo no ônibus e no metrô para ler, ouvir música, conversar etc. Não é perdido; ao contrário, é tempo bem aproveitado.

Analisando dessa maneira, o carro se mostra cada vez uma economia mais burra. E, acredite, eu adoro dirigir.

Sempre que proponho a outros motoristas convictos largar o volante e tomar um ônibus, ouço que o transporte público é caro e precário. O pior é que é verdade. É ruim e mal-administrado. Mas as avenidas superlotadas, mal-sinalizadas e esburacadas nunca me pareceram muito melhores.

“Este mundo, em que eu suporto tudo o que suporto (...), este mundo moderno, enfim, que diabo querem que eu faça nele?”, já se perguntava André Breton, em 1924, no primeiro Manifesto do Surrealismo.

Pois seu mundo sem nexo ainda tem tudo a ver com a nossa realidade.

Um amigo, por esses dias, me confessou um inconformismo parecido: a frase que mais ouvia das pessoas era “O mundo está assim porque ninguém faz nada”. “Bom, o que você tem feito ultimamente?”, respondia ele.

Quer dizer que os problemas não se resolvem sozinhos?

Cruzar os braços e reclamar também não é a solução.

Outro amigo, grande mestre, aconselharia sabiamente o uso de seu método TBC – Tire a Bunda da Cadeira (no caso, do assento do motorista). Pois é, o único modo de melhorarmos o transporte público é mostrar nosso interesse em utilizá-lo e lutar por melhorias, tais como: maiores frotas, novas linhas e preços mais baixos. “Fazer acontecer”, como diria o publicitário e escritor Júlio Ribeiro. É nosso dever exigir o melhor de um serviço pelo qual estamos pagando. Entenda, ninguém está nos fazendo um favor ao oferecer transporte.

Não sei se, moralmente falando, o processo deveria ser assim. Acho que não, mas é só partindo da população que o transporte público funcionaria aqui no Brasil. Infelizmente, sempre falta o povo. O povo e sua teórica força.

Se formos esperar que as empresas, assim, de repente, tomem a atitude de mudar por si sós, podemos esperar sentados. Em casa. No entanto, se todos preferirem continuar acordando alguns minutos mais tarde, enfrentando horas de trânsito, enfartando aos quarenta e achando que é vantagem, tudo bem, mantenham a bunda sentada, eu os perdoo e à sua estupidez também. Consciência não é algo que se força, que se obriga, e eu não vou catequizar ninguém. Vamos ver no que dá. Se o trânsito for o Juízo Final, todo mundo vai chegar atrasado no além. E terá muita inércia a confessar.

domingo, 8 de março de 2009

TRATADO VEGETARIANO DE NÃO-AGRESSÃO

Esta foi minha segunda crônica no Correio Popular, publicada dez dias após a primeira. Logo depois disso, estipulamos que as publicações aconteceriam apenas uma vez por mês. Assim, o jornal poderia ceder espaço a outros autores e eu teria mais tempo para desenvolver novos textos. Tem muita gente que funciona bem sob pressão e acaba tirando assuntos maravilhosos da cartola. Eu, sinceramente, prefiro um ritmo mais lento.
Uma curiosidade: a palestrante em questão tinha sido minha orientadora na pós-graduação. Coincidência ou não, a brincadeira não foi direcionada a mim, embora no começo eu tivesse ficado um tanto desconfiado.


Um tempo atrás, fui até a Pinacoteca de São Paulo prestigiar uma amiga que lá palestraria, convidada especialmente para a ocasião: a inauguração de uma grande exposição, dessas internacionais.

Estava na platéia com minha namorada e alguns colegas da área; ao todo, não somávamos cinqüenta pessoas e, num ambiente convidativo como aquele, eu me sentia em casa.

O artista em questão, Kurt Schwitters, revolucionou a arte alemã praticamente sozinho e ficou famoso por suas esquisitices: catava “lixinhos” nas ruas (engrenagens, parafusos perdidos, bilhetes usados de trem etc.), purificava-os seguindo um ritual de água e sabão e os incorporava à sua grande obra Merzbau, uma série de colagens esculturais que, aos poucos, tomou conta de sua casa.

Infelizmente, ele acabou incluído na lista de “artistas degenerados” de Hitler e, perseguido, foi obrigado a fugir para morrer isolado na Inglaterra alguns anos depois. Sua casa foi bombardeada pelos aliados e, da Merzbau original, nada restou a não ser umas poucas fotos e breves relatos de amigos que puderam visitá-la.

A palestrante, doutora em história da arte, aproveitou o momento trágico para provocar um outro amigo seu que também estava na platéia: falou sobre a personalidade perturbada de Hitler – algo como “Ele era maníaco e vegetariano” ou “Promovia matanças desumanas e não comia carne”. Não me lembro da frase exata, mas foi engraçado e todo mundo riu.

Mais tarde, nos minutos reservados às perguntas da platéia, descobri que aquela brincadeira deixou indignada uma garota sentada perto de mim. Ela pediu o microfone, disse que o vegetarianismo é coisa séria, não havia motivo para risos, e que o comentário sobre a atitude de Hitler era um tanto impertinente.

A palestrante pediu desculpas, disse que não teve intenção de ofender ninguém e que o vegetarianismo do ditador obviamente não tinha nenhuma relação com as atrocidades que ele cometeu – era apenas uma provocação particular, coisa de amigos que o ambiente intimista permitia. E era mesmo. Duvido que, em algum momento, alguém levou o comentário a sério, exceto a tal garota.

De qualquer modo, com aquele bate-boca bem polido, o clima na sala ficou tenso. Todos estavam desconcertados. Eu, também vegetariano, fiquei sem-graça, tive vontade de pedir o microfone e dizer a ela: “Por favor, não se leve tão a sério. É bom ter uma ideologia e isso é raro hoje em dia. Acredite, lute por ela, mas não faça a bobagem de acreditar que é a única verdade sobre a Terra. Foi exatamente isso que Hitler fez, e veja só os resultados... Então, vamos deixar o mal-entendido de lado e continuar com as perguntas?”

Fiquei pensando no que dizer, nas palavras exatas, e acabei perdendo a oportunidade: a garota se levantou e sumiu.

Tentamos voltar ao Schwitters, mas o assunto não engatava e acabamos a palestra rindo com o amigo vegetariano provocado, que tomou posse do microfone e tentava expor sua tese sobre a origem do costume de Hitler, atrapalhando-se mais do que explicando: era alguma coisa sobre Wagner, Nietzsche e uma dieta antiesquizofrênica. Ninguém entendeu nada, mas foi divertido. Devo admitir, o cara era espirituoso. Aliviou a tensão e fechou a palestra com a famosa chave de ouro.

Só mais tarde, quando todos estavam indo embora, descobri que a vegetariana ofendida continuara na sala – tinha apenas mudado de lugar. Fiquei mesmo arrependido de não ter dito a ela que defendesse seus pontos de vista somente quando eles são realmente atacados. Que não fosse tão impulsiva e não se ferisse com tão pouco, porque, no final das contas, duvido que alguém seja contra os vegetarianos e, se forem, como vamos provar que são eles os errados da história? É uma importante questão a ser debatida, porém, acho que o momento não foi oportuno. Quando isso acontece, normalmente dispersamos a atenção dos outros e geramos um preconceito que é difícil derrubar.

Enfim, encarar a vida considerando um único lado (o seu) não me parece muito saudável. Bom mesmo seria poder compreender todos à nossa volta, mas, como isso é praticamente impossível, simplesmente não os leve muito a sério e não se leve tampouco. Essa é a minha filosofia.

domingo, 1 de março de 2009

SOBRE A PINTURA AÍ EM CIMA, COM MEU NOME ESCRITO BEM NO MEIO DELA

Quando comecei a montar este blog, não entendia praticamente nada do assunto. Sabia apenas que, hoje em dia, seria uma tarefa simples, mas nada é verdadeiramente simples até que o conheçamos de fato. Como um colega publicitário costuma dizer, todo projeto é complicado até surgir uma boa idéia. Depois dela, as coisas ficam bem mais fáceis.

Aqui não foi diferente. Escolhi um layout entre os padrões oferecidos pelo Blogger e não demorei muito para perceber que ele era “padrão demais”, quer dizer, um monte de gente por aí teria um blog igual (ou, considerando que o meu era um dos mais recentes, ele é que seria parecido com os outros).

Decidi que pelo menos o cabeçalho poderia ter um pouco mais a minha cara e, talvez, ser um diferencial. Então comecei a pensar com que coisa minha cara se parece. Não literalmente, claro, para sua sorte.

Primeiro, resolvi pegar uma fotografia ou uma pintura que tinha feito nos últimos tempos e sobrepô-la com o título do blog. Escolhi uma pintura. O formato não ajudava muito, as cores tampouco e o resultado foi bizarro. Optei então por uma foto preta e branca, fui escurecendo-a para ser mais fácil de ler o nome e, no fim, quase não dava mais para ver a foto – ficou parecendo uma tarja preta com algumas manchas acidentais.

Foi então que me lembrei do Liu Ding.

Para quem não conhece, trata-se de um artista plástico contemporâneo chinês que tem conquistado espaço mundo afora e construído certa fama. Conheci seu trabalho na primeira (e ótima) exposição de arte chinesa contemporânea realizada no Brasil, no MASP, que ficou em cartaz de novembro de 2008 a fevereiro de 2009 com o nome de “CHINA: CONSTRUÇÃO / DESCONSTRUÇÃO”.

Nesta ocasião, ele apresentou uma obra bastante interessante chamada “Liu Ding’s Store – Take Home And Create Whatever the Priceless Image In Your Heart Is” (algo como “A loja do Liu Ding – leve para casa e crie qualquer que seja a imagem de valor inestimável que esteja em seu coração”). Trata-se de uma série de pinturas não-acabadas, cada uma delas exibindo um trecho de paisagens tipicamente chinesas, elaboradas pelo artista e executadas por dez artesãos do vilarejo de Dafen*. Em outras palavras, cada tela tem um pedaço pintado e todo o resto é deixado propositalmente em branco, com a bonita proposta de que o público a termine como bem entender. Me identifiquei imediatamente e comprei uma das duas últimas telas, que são reproduzidas em série. Não bastasse o conflito proposto entre o original e a cópia – já bastante discutido por teóricos importantes desde Walter Benjamin –, esta obra de Liu Ding fala também do papel do público na arte contemporânea, que precisa cada vez mais dar sua interpretação para que ela possa existir. É um tema que venho pesquisando desde a pós-graduação e que me parece importante, levando-me sempre a aprofundar os estudos.

Teorias à parte, eis que surgiu a boa idéia que tornaria a construção do blog bem mais fácil: resolvi finalizar minha tela transportando-a para este novo projeto, utilizando-a de plano de fundo no cabeçalho que você vê acima. Assim, consegui encontrar algo com que me identificasse sem ficar diretamente preso aos meus próprios trabalhos. Em outras palavras, ao invés de colocar aqui um retalho de foto escurecida e, por isso mesmo, sem graça, optei pela tela do Liu Ding, que me permitiu fazer uma referência às minhas pesquisas de arte e aos textos deste blog – afinal, eles também precisam ser lidos e interpretados para existirem. E, se não fosse por você, leitor, eu não os estaria publicando aqui.

Enfim, é por isso que esta pintura não-acabada está aí em cima. Não esperava me prolongar tanto com uma explicação tão simples, mas, como disse anteriormente, nada é verdadeiramente simples até que o conheçamos de fato.

Que bom.

*O vilarejo de Dafen é hoje um dos principais pólos de produção artística do mundo, onde pintores chineses fazem cópias e as vendem por preços bem mais baixos do que os dos originais.
O dinheiro arrecadado com a venda das pinturas de Liu Ding é revertido para a reconstrução das cidades atingidas pelo Tsunami de 2004, que arrasou boa parte do sudoeste da China, entre outros países da Ásia, além de manter o projeto funcionando. Uma ótima idéia, cá entre nós. E também muito atual, pois alia os conceitos de arte e sustentabilidade de maneira exemplar.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

MINHAS FÉRIAS

Esta crônica marcou minha estréia no jornal Correio Popular de Campinas. Foi publicada em 3 de janeiro de 2008, apesar de ter sido escrita alguns meses antes. Nela, vemos uma característica que se repetiria muitas vezes depois - a atemporalidade. Como não consigo saber com certeza o dia da publicação, preciso ficar sempre atento ao escrever para não cometer gafes. Por exemplo, seria bastante estranho você ler algo como: “Ontem, na novela, vi o Marquinho xingar a Mariazinha” e esta novela já ter acabado na semana anterior. Isto tem vantagens e desvantagens. Sinceramente, gosto de escrever assim, pois ganho liberdade para explorar temas que fogem às notícias do momento e tanto eu quanto os leitores podemos pensar em algo diferente, para variar.


O inferno começou quando vieram me dizer que, se fazemos o que gostamos, trabalhar é uma grande diversão. Na ingenuidade de minha adolescência, escolhi uma profissão (sou publicitário). Acho que eu queria concentrar em uma única faculdade várias atividades que me eram agradáveis. Pura ilusão... Nem me dei conta de que os sábios a me darem tão valoroso conselho eram os mesmos que esperavam ansiosamente a redenção de suas férias – uma época de divina felicidade justamente porque nela não precisamos nos execrar pela grande diversão de acordar às quinze para as seis, voltar para a cama à meia-noite e perceber que o melhor momento do dia foi quando, no ônibus, vagou um assento bem na nossa frente e não havia nenhum velhinho por perto para reivindicar a preferência do cochilo.
Enfim, se conselho fosse bom...

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De qualquer modo, caí no conto do vigário e entrei para a turma dos tarados por férias. Conquistei as minhas exatamente um mês atrás, quando estava a ponto de me fazer entender na linguagem do tabefe. Um para “sim”, dois para “não”, cem para “vá encher o saco de outro!” O pessoal andou dizendo que eu estava estressado. Tentei explicar “Não é estresse, é excesso de diversão”.

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Ah, esses 30 dias de alforria foram maravilhosos. Havia sol mesmo quando chovia, os passarinhos cantavam e meu consumo de café caiu aos índices normais, considerando-se um humano que pretende continuar vivo nos próximos anos.
Fui ao cinema numa terça-feira à tarde, entrei no meio da sessão e tinha somente duas outras pessoas na sala. A paz que eu sempre desejei! Fiquei todo animado para compartilhar “Vocês também estão de férias? Bom, né?”, mas achei melhor não interromper o descanso dos coitados.
Voltei para casa e, numa breve recordação do cárcere, disse para mim mesmo “Nãoquerovoltarnãoquerovoltarnãoquerovoltar!”

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E pensar que, segundo a teoria “trabalho é diversão”, as férias não deveriam ser agradáveis, mas tristes: estaríamos afastados daquilo de que realmente gostamos! Uma espécie de descanso forçado.
Mais um paradoxo para a coleção.

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Férias fazem bem para a saúde dos funcionários e da empresa.
Mudar de ares é essencial para a criatividade.
Pensar em outras coisas além do trabalho, por incrível que pareça, é a melhor fórmula para melhorar o desempenho e aumentar a qualidade do próprio trabalho.

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Isso, no entanto, não obstrui minha visão de mundo melhor, onde a oferta de emprego seria grande o bastante para todos poderem mudar de idéia quando quisessem.
Cansei, tchau, vou para outra.

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A rotina conturbada me fez deixar para esses míseros 30 dias tudo que eu deveria ter feito durante o último ano. Sei que reclamo de barriga cheia, porque são pouquíssimos os iluminados que dispõem de tanto tempo contínuo de retiro, mas, sinto muito, não podemos nivelar nossa satisfação por baixo.
Ainda assim, como não poderia ser diferente, todos os meus planos afundaram comigo quando sentei a primeira tarde no sofá e tirei um cochilo.

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Cinco minutos depois já era hoje e amanhã recomeça a contagem regressiva dos próximos longos onze meses. Passei a tarde a arrumar minhas coisas, deixar separada uma roupa como aquela criança que prepara o uniforme certa de voltar à escola com uma redação sobre suas férias.
Já dizia o sábio Minduim “Que puxa...”
Como professor, eu aconselharia “Não estraguem aquilo de que gostam transformando-o em trabalho. Hobby deve continuar hobby!” e ainda “Ao invés de redação, vamos analisar os prós e os contras de cada profissão para que vocês, no futuro, não sejam surpreendidos por uma divertida brincadeira de mau gosto”.
Enfim, se conselho fosse bom...