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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

PINTURA ENCARNADA

Estudo a partir no retrato do Papa Inocêncio X, de Velázquez – Francis Bacon

"Desde essa época de juventude, sua pintura não se afastou mais de mim. Ela agarra na gente, vive na gente. Seus 'personagens em crise generalizada' – crise moral, crise física –, como escreveu o crítico inglês John Russell, vivem ao nosso lado e nos lembram incessantemente que a vida é essa corda esticada entre nascimento e morte. Essa vida que nos traz visões exacerbadas, um vizinho de hospital, de asilo, às vezes de nós mesmos. O terror está presente, instalado em personagens que berram em silêncio. Uma crueldade veemente e visível, revelada por homens emparedados numa moldura espacial. A qualquer momento podemos nos deparar com o atroz, um acidente nos reduz a um pacote de músculos abertos. Na expectativa, possível, de uma ressurreição."

Franck Maubert, Conversas com Francis Bacon

sábado, 23 de novembro de 2013

VOCABULÁRIO DA RESISTÊNCIA

O governo chinês vasculha a internet atrás de informações compartilhadas por seus opositores. Para evitar a censura, os ativistas empregam termos que soam de maneira similar e até mesmo inventam uma espécie de "vocabulário da resistência", revisto a todo instante dadas as descobertas que lhe tiram o efeito.

"Com frequência usam homófonos, quer dizer, palavras que soam (quase) iguais. O exemplo mais famoso disso provavelmente é o 'cavalo de lama da grama' ['grass mud horse' em inglês], que se tornou uma espécie de mascote virtual entre os blogueiros que criticam o regime. O truque está no fato de que, em chinês, 'cavalo de lama da grama' soa quase exatamente como 'foda a sua mãe' ou 'foda a sua pátria-mãe' – coisa que seria censurada não apenas com base na obscenidade. Depois, há também os 'caranguejos de rio' ['river crabs']; este é um codinome para os censores do Estado, porque a palavra soa quase exatamente igual a 'harmonioso' ou 'harmonizar' – a descrição oficial da censura. Ai Weiwei, ao saber que seu estúdio de Xangai iria ser demolido, no segundo semestre de 2010, organizou um 'banquete de caranguejo de rio'. Foi uma clara estocada nos censores, da mesma maneira que o são as charges mostrando cavalos de lama da grama (representados por alpacas) vitoriosos em batalhas contra os caranguejos de rio."1

Aqui tem alguns exemplos de como termos cotidianos se tornam subversivos:

http://chinadigitaltimes.net/space/Grass-Mud_Horse_Lexicon

1JANSER, Daniela. Ai Weiwei como blogueiro e artista de internet. In: STAHEL, Urs (curadoria). Ai Weiwei – Interlacing. São Paulo: Museu da Imagem e do Som, 2013.

domingo, 10 de novembro de 2013

À RUA O QUE É DA RUA!

Uma amiga compartilhou este relato no Facebook. 

O autor comenta as intervenções urbanas que testemunhou no Minhocão, na cidade de São Paulo. Para quem não conhece, trata-se de um viaduto bizarro, que transformou a rua numa espécie de submundo, fez o comércio ao redor falir, transportou os carros para as janelas dos apartamentos, dividiu o bairro entre ricos de um lado e pobres do outro, além de resultar em teto para pessoas em situação de rua.

O texto fala de intervenções urbanas, ocupações artísticas, políticas culturais, do que fazer, das maneiras de fazer, de a quem pertence a cidade, das questões éticas... É bem interessante, forte, atual. Vale uma reflexão. Ou mais.

Copiei e colei tudo na íntegra, exceto por alguns detalhes de formatação. Desconheço o autor, e acredito que a foto também tenha sido feita por ele. Se alguém souber seu nome, ficarei feliz por citá-lo.

Enfim, achei que este é um bom assunto para o momento. Cá está:




À RUA O QUE É DA RUA!!!

Nos últimos dias o espaço do Minhocão, no centro da cidade de de São Paulo, tem sido destaque na grande mídia por causa de intervenções que atualmente ocuparam visualmente as pilastras do lugar. A cobertura é sempre tendenciosa, é bom colocar o outro lado da história. Se inicialmente foi projetado para ser um local de passagem o Minhocão, foi aos poucos, e cada vez com mais intensidade, sendo ocupado por pessoas e formas de intervenção marginalizadas pela sociedade e pelo poder público, como moradores de rua, graffiteiros e pichadores. Muito tempo já passou desde que esse processo de ocupação do minhocão começou a acontecer. Muitos moradores de rua já foram enxotados de lá como bichos e voltaram, muitos graffiteiros e pichadores já foram presos ou esculachados pela polícia por pintar seus pilares e voltaram e também muitos artistas plásticos presentes nas galerias já intervieram neste espaço, mas na maioria das vezes respeitando quem já ocupava o local. Trata-se claramente de uma disputa política, entre a cidade que queremos e a cidade que o poder público tenta impor para nós.

Nas ultimas duas semanas uma boa parte das intervenções presentes nos pilares do Elevado foram substituídas por uma série de fotos gigantes de moradores da região. Para isso TODAS as intervenções presentes nestes pilares foram cobertas com tinta cinza. Coincidência, ou não, também pude reparar que os moradores de rua também não estão mais lá. No fim de semana passado estava passando pela região com a Magê e encontramos um grupo de pessoas colando as fotos e registrando o momento. Decidimos fazer alguns questionamentos para entender o que estava rolando. Estavam presentes a artista, algumas pessoas ligadas ao projeto e algumas pessoas que me pareceram pessoas contratadas para colar as fotos e pintar as pilastras de cinza. Depois de algum tempo pedimos para conversar com a artista e as coisas se esclareceram. Descobrimos que se tratava de um projeto em parceria com o SESC e com a Prefeitura, para ocupar a região, e que ela havia sido convidada para expor suas fotos no local. Perguntamos se ela sabia que aquele espaço já estava ocupado. E que esta ocupação era fruto de diversos anos de disputa entre várias pessoas e a prefeitura, tais como graffiteiros, pichadores e artistas plásticos que desejavam realizar intervenções públicas. Questionamos também se ela sabia que entre as pessoas que realizam suas intervenções nas rua de São Paulo existe uma forma de proceder em que se respeita as intervenções realizadas anteriormente nos muros, não colocando seu trabalho por cima delas, e que este proceder era fundamental para que o espaço visual da rua fosse ocupado de forma democrática, pois só assim seria possível que o trabalho de graffiteiros, pichadores e artistas plásticos mais consagrados e experientes coexistisse com os de pessoas que estão se iniciando neste mundo da intervenção urbana, sem depender de seleção prévia ou curadoria de ninguém, e muito menos dos projetos políticos da prefeitura.

A artista nos respondeu que sabia das formas de proceder da rua mas que, apesar de saber disso, o convite feito pelo SESC para fazer essa intervenção era “A SUA CHANCE”. Disse que não teve escolha, e que por causa disso tinha pedido autorização para pintar os trabalhos de 2 dos graffiteiros que ocupavam o espaço (tinha pelo menos uns 20 ou 30 graffiteiros com trabalhos nos pilares apagados). Ela nos disse também que seu trabalho era político porque questionava o uso daquele espaço e porque dava destaque para a imagem de moradores da região, principalmente moradores de rua.

Algumas reflexões sobre isso:

– Essa intervenção no Minhocão desrespeitou não só os graffiteiros, pichadores e artistas que tinham ocupado o espaço das pilastras do Minhocão, desrespeitou também todos os outros que de alguma forma lutaram por anos para ocupar este espaço. Para além disso atropelou também a história e o registro das formas de interação de uma série de outras pessoas que convivem neste espaço e que também marcam de forma ativa estas pilastras. A Prefeitura e o SESC estão dizendo que a população não tem condições de contar sua própria história, que ela só tem valor quando registrada por um terceiro, no caso a fotógrafa.

– O espaço do Minhocão sempre foi ocupado e teve vida, diferentemente do que a cobertura da mídia tenta demonstrar. Se está vida é marginalizada e incomoda os autoproclamados cidadãos de bem já é outra história. A solução do problema não está em varrer os moradores de rua para longe dos olhares dessas pessoas, muito menos em tentar cobrir de cinza as frases cores e nomes que aparecem nos muros, pois essas são vozes também fazem parte da vida urbana, e não se calarão.

– Vemos mais uma vez aqui a ideia capitalista da oportunidade individual atropelando a ação coletiva. A ideia de que esta é a minha chance e eu não tenho escolha mostra isso. SEMPRE TEMOS ESCOLHA.

– O trabalho da artista é sim político, aliás, nada contra a ideia de colar fotos gigantes de moradores da região na rua, mas tudo contra a forma como isso foi feito. Se tivesse sido feito de forma independente e respeitando as intervenções anteriores seria algo bem interessante. Mas feito de forma institucionalizada e aliada à prefeitura e sua dita política de “revitalização” do espaço a obra muda sim de característica. Para mim deixa de contestar a ordem vigente para reproduzi-la. Não sei se a artista tem dimensão de tudo isso (me pareceu que não), mas espero que ela descubra de que lado ela está sambando.

– Por ultimo, é bem interessante como a intervenção feita sobre uma das fotos teve repercussão e incomodou a grande mídia. Teve jornal que embaçou a foto na parte da frase escrita para que não se pudesse ler, teve outro que colocou uma bola vermelha em cima dela censurando-a explicitamente. E teve outros que disseram que ali não havia nada...só vandalismo e rabiscos feitos por gente sem inteligência com a intenção de estragar a obra da fotógrafa que tinha dado vida no Minhocão. Se alguns fazem jornalismo manipulador e baseado em preconceitos que os impedem de ler imagens e pesquisar a história, pelo menos recente de um lugar, e se acham inteligentes é preciso rever essa ideia de inteligência.

A RUA ESTÁ VIVA SIM! SEMPRE ESTEVE! E SEMPRE ESTARÁ!!! À RUA O QUE É DA RUA!!!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

SOBRE LITERATURA E POLÍTICA

"Não gosto de literatura engajada. A doutrina faz parte da atividade missionária, religiosa, e um escritor deve inventar um pequeno mundo, um microcosmo com dramas e tragédias humanos, sem mensagens ideológicas ou receitas para uma vida feliz. As grandes obras falam do tempo, que é social, político, cultural. Pensar já é um ato político. O sentido da História é importante para a construção de um romance. Mas é na história particular e na trajetória de um personagem que aparecem os dramas humanos e o verdadeiro sentido da História. Numa obra de ficção, as relações de poder, os conflitos e perturbações morais estão estreitamente vinculados e devem fazer parte da subjetividade dos personagens que participam do enredo."

Milton Hatoum
Revista OCAS nº 91
Setembro/Outubro de 2013

sábado, 12 de outubro de 2013

SER DE ESQUERDA

Sempre achei inconveniente a classificação de governo esquerdista ou direitista, sendo um voltado para o social e outro para o capital, conforme aprendi na escola. Comunistas e capitalistas de verdade existem apenas em filmes hollywoodianos ou livros de geopolítica. Talvez ainda em cartilhas, que ninguém segue à risca. Porque, na prática, não é bem assim; dogmas não se aplicam, maniqueísmos idem... Existem nuances. Ambas as utopias, com suas propostas extremistas, estão em desalinho com a realidade contemporânea, tampouco dão conta da sua complexidade. Ideais estáticos, rígidos, não operam em sociedades moventes, ambíguas, em transformação constante e veloz. No mundo inteiro, de modo geral, estabelecem-se governos de centro: centrados em si mesmos, nos interesses imediatos, seja o reconhecimento econômico internacional para atrair investimentos, seja uma tentativa de se livrar das ameaças para assim permanecerem no poder. Centros que em raras ocasiões se distanciam na direção da periferia social ou intelectual, e quando isso ocorre o percurso já é, desde o princípio, digno de suspeita.

 


Isso é evidente no Brasil, com nossa imensa variedade de partidos políticos que, na prática, são igualmente previsíveis: doutrinários, conservadores, patriarcais. Quer dizer, é possível diferenciar ideologias bem estruturadas, questionadoras e incompatíveis que justifiquem tantas chapas? É possível discerni-las? Veja bem, a questão não é o número, mas os motivos que levam a ele. Os partidos têm quais objetivos, quais planos de governo, quais propostas de trabalho? Ninguém sabe. Porém, existe uma infinidade de interesses pessoais postos em jogo, além de uma dança de cadeiras mais ou menos ensaiada que sustenta a mediocridade do sistema.

Por sua vez, um significado possível para o termo "esquerda" ganha força em consequência desse território esgotado estabelecido pela tal democracia como a temos hoje. Um certo tipo de pensamento e de posicionamento político em formação, que se manifesta por sua inexatidão e assim deve prosseguir. Foi ao assistir a um fragmento de entrevista com Gilles Deleuze que pude compreender melhor esse "esquerdismo", que nada tem a ver com aquele "direcionamento ao social" arrastado pela tradição. "Ser de esquerda", explica o filósofo, "é começar pela ponta e perceber que esses problemas devem ser resolvidos, pois estão mais próximos do que nossos problemas pessoais. Ser de esquerda é ser ou devir minoria".

A que ponta ele se refere? Àquela mais distante, que parece não nos dizer respeito. À fome na África, às ditaduras islâmicas, às imposições norte-americanas, às calotas polares – de lá para cá, da ponta em direção a nós; esse seria o trajeto, a estratégia de atuação. A lógica se inverte; de longe deveríamos caminhar até o nosso redor imediato e, enfim, o conhecido centro de onde costumam partir os interesses públicos.

Para Deleuze, ser de esquerda é um fenômeno da percepção. Trata-se de uma maneira de apreender o mundo, as relações sociais, as vontades políticas, as atitudes. "Ser", afinal, é um verbo de ação, não uma determinação. As pessoas só "são" sendo. Em outras palavras, o que as constitui é a sua postura diante da vida, os atos que protagonizam; não uma programação precedente.

A esquerda está condenada à oposição. O que não significa ser o tempo inteiro contra a situação vigente, porque atacar por atacar é um egocentrismo inconsequente e ingênuo. Ser oposição está relacionado com fazer prevalecer o direito à crítica, ainda que nem sempre a alternativa seja mais indicada. Revisar as instituições e, se for o caso, propor melhorias. Experimentar outros pontos de vista, procurar novos caminhos, explorar possibilidades não consideradas até então. Dar voz às minorias. Aproximar-se delas. Deixar-se afetar.

Não tem nada a ver com o governo. Nem pode. Jamais existirá governo de esquerda. Quando a esquerda toma o poder, seu oposicionismo se esfacela. Ilude-se o povo que pretende vê-la dominar, de modo que seus desejos sejam atendidos. Isso é impossível. O governo estará centrado em si, independentemente da sua origem, pois é assim que o sistema global funciona.

É um paradoxo. Porque, se o povo se une, o esquerdismo se transfere para outra causa. Trata-se de uma instância fluida. A esquerda é a minoria, a resistência, a oposição por excelência. Não pode jamais ser estática ou instituída: é uma situação momentânea, relativa, que abrange um sujeito para logo o abandonar e se dedicar a uma nova questão. Um papel social. Não deve desejar o poder, mas derrubar as maiorias que se impõem. Jamais se torna padrão, pelo contrário: posiciona-se fora dele, combate-o, provoca-o até que se desfaça. Inconformada com qualquer que seja a situação, deslocada em relação a ela, querendo sempre repensá-la, querendo sempre renová-la.

Se a situação se dedica a algo, a esquerda exigirá que se volte a outro, irá procurar esse outro onde quer que esteja, por menor que seja, porque ele existe e necessita de espaço para se expressar; ele depende da esquerda para ser ouvido. Quando se estabelece, a esquerda o mantém sob vigilância e passa a procurar outro outro, o além outro, o novo outro, a exceção. Assim, pelo movimento contrário, promove um equilíbrio imprescindível.

Quando a maioria ganhar força, a esquerda estará distante, junto da minoria. Porque "a maioria nunca é ninguém", diz Deleuze, "mas um padrão vazio em que muitas pessoas se reconhecem. (...) A minoria é todo mundo". Nelson Rodrigues completaria com sua célebre afirmação: "Toda unanimidade é burra".

Ser de esquerda é tornar-se crítico, olhar com desconfiança, resistir às forças primárias. Não com objetivo de destruir, movido por puro preciosismo. Mas para refletir, provocar rupturas, abrir fendas, incentivar melhorias e não deixar que um ser sucumba por pressões impostas, por maiorias sufocantes, pelas normas gerais confortadas no poder. Ser de esquerda é uma possibilidade de existência condizente com o agora. É estar deslocado em relação à ordem. Tanto da política partidária, administrativa, quanto das políticas que nos afetam no dia a dia, que constituímos e sustentamos. A política própria da vida em sociedade.

[transcrevi aqui a entrevista com Deleuze disponibilizada no vídeo acima: A esquerda de Deleuze]

domingo, 15 de setembro de 2013

A CONDENAÇÃO LÓGICA

"Aquilo que o condenado, em silêncio, compreende finalmente, na sua última hora, é o sentido da linguagem. Os homens, poder-se-ia dizer, vivem a sua existência de seres falantes sem entenderem o sentido da linguagem; mas para cada um deles trata-se de uma sexta hora na qual até o mais estúpido vê a razão abrir-se. Naturalmente, não se trata da compreensão de um sentido lógico, que também poderia ser lido com os olhos; trata-se de um sentido mais profundo, que não pode ser decifrado a não ser através das feridas, e que só é atribuível à linguagem enquanto punição (é por isso que o domínio da lógica é o do juízo: de fato, o juízo lógico é uma sentença, uma condenação). Compreender esse sentido e medir a culpa própria é um trabalho difícil; e só depois de concluído esse trabalho se pode dizer que foi feita justiça."

Giorgio Agamben
Ideia da Prosa

HOJE, NO TREM:

1.
– A senhora viu ou sonhou?
– Eu vi. Só não sei se eu estava dormindo ou acordada.

2.
– Você está desconectada.
– Em que sentido?

3.
– Se eles querem ou não Jesus, o problema é deles. Se eles querem ou não servir o senhor, o problema é deles.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

IDEIA DA VERDADE

"Verdadeiramente desconsolador seria o conhecimento útimo ter ainda a forma da objetualidade. É precisamente a ausência de um objeto último do conhecimento que nos salva da tristeza sem remédio das coisas. Toda verdade última formulável num discurso objetivante, ainda que em aparência feliz, teria necessariamente um caráter destinal de condenação, de um ser condenado à verdade."

Giorgio Agamben
(no livro Ideia da Prosa)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

     Para que serve a pintura
a não ser quando apresenta
     precisamente a procura
daquilo que mais aparenta,
     quando ministra quarenta
enigmas vezes setenta?

Paulo Leminski
La vie en close, 1971
[grifo nosso]

quinta-feira, 27 de junho de 2013

"para todo movimento, um contramovimento;
para todo golpe, um contragolpe;
e como consequência disso,
para todo beijo, um contrabeijo."

Kamasutra, de Vatsyayana

quinta-feira, 20 de junho de 2013

CURAR DE QUÊ?



"Existem muitos modos de ser mulher, de ser homem, de ser homossexual, de ser bissexual, de ser transexual. As classificações são sempre uma construção para orientar a percepção, organizar o mundo, e também para manipular e controlar. E a realidade sempre escapa a elas."

Este artigo de Cristina Veiga Judar veio na hora certa. Pois, por meio da arte, ajuda a pensar as atitudes equivocadas do Infeliciano e sua turminha machochô. Leia aqui: Entre ele e ela, quem? (Revista da Cultura nº 71)

terça-feira, 18 de junho de 2013

DIREITO AO GRITO

Reproduzo aqui texto publicado pela editora Cultura e Barbárie. Clique nas imagens para ampliá-las ou baixe o arquivo .pdf aqui: Direito ao Grito





sexta-feira, 14 de junho de 2013

CORPO E SUBJETIVIDADE

"Nossas memórias e planos, nosso passado e possibilidades de futuro, existem na concretude de nossos corpos e de nossas ações. O corpo mais que todo, a se ultrapassar como ação orgânica e histórica, parte de um mundo-ação. Corpo não identitário, impossibilitado de isolar-se em um “si mesmo”. (...) Corpo-no-mundo, memória concreta do passado todo superfície, colapsado no presente, de onde se atualizam novas ações, as quais são o futuro no agora, a concretude do vir-a-ser."

"Erigimos então, com a subjetividade, um campo todo superfície, formado apenas pelas contingências, pelas predicações em constante movimentação verbal, tudo ocorre, acontece. Existimos, então, em um mundoexpressão, no qual vagamos-expressamos, impelidos por nossas forças em arranjo. E, assim, nos vamos implicando com as demais expressões, as quais jamais são as próprias, mas a criação de um encontro."

"Subjetivação, diferenciação da diferença que não está constituída em algo, mas que está sempre se afirmando na força de uma ação, em um processo de agenciamento de práticas, em atravessamentos os quais, no seu encontro fluido, expressam o que denominamos indivíduo. E, aqui, indivíduo não significa mais o que não pode ser dividido em si, por constituir uma unidade fundamental do ser (identidade); mas sim, o que não pode ser dividido do que lhe envolve, do que o envolveu, enfim, de suas implicações."

"O corpo é uma pluralidade de vontades de potência em conexão com os fluxos de forças do mundo em uma alternância de arranjos, sem uma essência por trás das forças, pois, estas mesmas são o ser. Corpo-rizoma, não completamente dividuado do mundo, diferencia-se a si e ao mundo, transformandoos. Corpo que não nega ou aparta sua subjetividade, mas sim, afirma sua singularidade móvel e sua parcialidade perspectivista."

"O corpo é abertura para o mundo – e não fechamento. Ao invés de nos separar do mundo, ele nos permite fazer parte dele: o habitar, o impressionar e impor nossa existência que é uma existência conectada."

"Subjetividade, não no sentido de referente a aquilo que é particular a um “si mesmo”, mas sim, subjetividade enquanto tentativa de apreender aquelas linhas fugidias que transpassam e constituem os fluxos produtores do nosso mundo vivido. Aquilo que é menor e mutável, que se encontra invisibilizado por representações gerais, tampões da diversidade, como as definições de normal e patológico."

Trechos colhidos em DA DIVERSIDADE: UMA DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE SUBJETIVIDADE, de Luis Artur Costa e Tania Mara Galli Fonseca

Leia o artigo completo aqui: Revista Interamericana de Psicologia, vol. 42, n. 3

quinta-feira, 6 de junho de 2013

CORPO E CONSCIÊNCIA

"Importa insistir na ideia de que a consciência do corpo não nasce de uma operação que modifica o regime normal da consciência vígil, mas que constitui uma espécie de regime subjacente a todo o estado de consciência, mesmo o da mais pura consciência reflexiva. Não há consciência sem consciência do corpo. Não há consciência sem que os movimentos corporais intervenham nos movimentos da consciência."

José Gil, em Abrir o Corpo

quinta-feira, 9 de maio de 2013

"É da dialética entre o indivíduo e a obra que nascem os significados, e é no corpo como aparato de percepção e significação que essas relações são reveladas."

Maria Alice Milliet
(em Lygia Clark: Obra-Trajeto, p. 92)

sexta-feira, 3 de maio de 2013

"A ilusão não se opõe à realidade, ela é uma outra mais sutil, que envolve a primeira com o signo do seu desaparecimento."
Jean Baudrillard

terça-feira, 9 de abril de 2013

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Clique na imagem para ampliar.
Olha só que surpresa boa! O Anuário Dasartes recém-publicado tem uma página sobre o artista Felipe Góes e cita um trecho do texto que escrevi para sua exposição em Porto Alegre. Já nas bancas, rs!

Site oficial: Dasartes 2013

terça-feira, 2 de abril de 2013

AOS VINTE E TANTOS

Li o poema abaixo e o adorei de imediato. Li e reli uma dezena de vezes então. Só depois percebi que renderia um ótimo pensamento para este meu dia de aniversário.

Penso nos milhares de sonhos que gostaria de já ter realizado com 29 anos. Penso que o tempo é curto demais para tanto.

Penso também que não quero envelhecer, não quero ser envelhecido, não quero pessoas que me envelheçam. Quero, ao contrário, somente a companhia de quem me faz crescer; todos os outros estão dispensados, podem voltar para a salmoura do dia a dia, o vazio do egoísmo, o subterrâneo da ética e da fé.

Penso nos milhares de sonhos acumulados, nos lugares a conhecer, nas obras a construir, nas descobertas a fazer. Penso nos 29 anos, tão fugidios! Penso demais, talvez.

Tenho meu próprio tempo. O tempo de uma vida pela frente.

Quando?

Agora.

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os dentes afiados da vida
preferem a carne
na mais tenra infância
quando
as mordidas doem mais
e deixam cicatrizes indeléveis
quando
o sabor da carne
ainda não foi estragado
pela salmoura do dia a dia

é quando
ainda se chora
é quando
ainda se revolta
é quando
ainda

Paulo Leminski, em Quarenta clics em Curitiba
(1976, aos 32 anos de idade)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

"Sei que isso soa estranho. Mas tais ideias me ocupam cada vez mais, e preciso de cada vez mais esforço para voltar ao cotidiano."

Milva, quando ela ainda era bem jovem
(conto do alemão Ingo Schulze publicado na coletânea Celular).