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sexta-feira, 16 de julho de 2010

MEMÓRIA, VERDADE, JUSTIÇA



A repressão durante a ditadura militar foi dura em todos os países da América do Sul. Agora, se já conhecemos pouco da história brasileira – os arquivos oficiais permanecem vergonhosamente fechados –, imagine as dos outros países.

Na cidade de Cordoba, a mais ou menos 600 quilômetros de Buenos Aires, encontrei esta antiga cadeia para presos políticos, onde muitos foram assumidamente assassinados ou simplesmente "desapareceram".

Ali funciona agora um memorial, nos moldes do nosso prédio do DOPS, no bairro da Luz, em São Paulo. As paredes externas exibem os nomes das vítimas da ditadura na Província de Cordoba. "Pessoas que entre 1969 e 1983 foram sequestradas, torturadas e executadas pelas forças repressivas do Estado", como diz o mural.

Tornar seus nomes públicos é uma maneira de mantê-los vivos na memória e dizer "Nunca Mais".


Para saber mais sobre a repressão no Brasil, acesse as Memórias Reveladas.

domingo, 4 de julho de 2010

FOTOCONSTRUÇÃO

É possível ver muita coisa numa fotografia. As cores, as formas, um sonho idílico, uma ilusão, uma definição de verdade. Há quem veja grandes volumes verdes onde outros veem montanhas. Há quem veja paz onde outros veem céu. Há quem se lembre de algo triste diante de uma abstração colorida. Trata-se de um processo de construção e descontrução pessoal.

As fotos abaixo revelam uma conversa formal com o construtivismo e destacam a necessidade que o homem tem de geometrizar o mundo. Pura construção matemática. Pura fotografia.






sábado, 3 de julho de 2010

FOTOABSTRAÇÃO

É possível fotografar o abstrato? Ou, melhor dizendo, fotografar de maneira abstrata? Pois, se a origem das fotos é sempre o mundo figurativo, lógico e racional, como pode resultar em algo diferente?

Talvez seja o trabalho do olho do fotógrafo, talvez seja o processo de fixação da imagem no suporte. Seja como for, as fotografias abaixo são minhas tentativas de compreender essa ideia. Trata-se de um projeto quase inconsciente, que ganha forma na medida em que reúno obras antes desconexas.





sábado, 26 de junho de 2010

FOTOGRAFIA, UMA QUESTÃO PICTÓRICA



Explorar com fotografia temas de que a pintura se cansou. Num primeiro momento, essa parece ser a premissa da mostra Pittoresco, de Antonio Saggese. Só que, aos pouquinhos, as cerca de setenta imagens exibidas ali vão revelando preocupações mais profundas, que abrangem aspectos formais e conceituais das artes visuais (não exclusivamente fotográficas).



A relação com a pintura é evidente, o próprio título da mostra já propõe um diálogo com o que Giorgio Vasari, lá na Itália renascentista, chamava de "a là pittoresca", e que desaguaria no inglês "picturesque" do século XVIII. Um modo de pintar e de escolher os assuntos, que busca qualidade pictórica além do objeto próprio da pintura, como lembra Saggese.



Essa relação entre foto e quadro fica mais clara quando ultrapassamos o referente – nuvens, árvores, cachoeiras – e notamos o sistema de impressão "jato de tinta" que Saggese escolheu para fixar suas imagens no papel. Pois, se a maneira tradicional de trazer ao mundo as cenas capturadas pela câmera se modifica – filme, revelação e ampliação –, talvez a palavra "fotografia" também adquira novos sentidos. Na era digital, não se trata mais de "criar com luz", mas de criar a partir daquilo que a luz nos permite ver, aproximando a fotografia de outras linguagens visuais, como a própria pintura. Assim, as águas correntes de Saggese, tal como suas nuvens, transformam-se em manchas de cor e provam que algo tão impensável quanto fotografar abstratamente pode ser possível. E a tinta de impressora sobre papel algodão rende mesmo uma textura diferente, faz com que algumas obras se assemelhem a aquarelas ou guaches, adquirindo transparências que dificilmente seriam alcançadas com o papel fotográfico comum.



O debate não acaba aí – há também outros suportes na mostra, além do papel de gravura, como por exemplo chapas de metal, vídeos e panos, cada qual com suas peculiaridades. Todos, no entanto, parecem concordar com a decomposição da imagem em camadas. Se a tinta sobre papel obtém isso com a sugestão de transparência, os vídeos o fazem com os tecidos em que são projetados, que vão se apropriando da luz na medida em que ela os atravessa; os metais, com os diferentes brilhos que proporcionam e uma outra peça, em particular, o faz separando literalmente o primeiro plano (árvores) do segundo (céu), obrigando o visitante a observá-la por determinado ângulo para reunir a imagem. Esse processo chama nossa atenção não apenas para a ilusão que cria, mas também para as diversas dimensões que uma imagem pode adquirir nas mãos de um artista. De alguma maneira, ele nos faz pensar no que estaria oculto atrás daquilo que se revela a nós em primeira mão, como na superfície de um espelho.



Saggese capturou muitas imagens de nuvens, que exemplificam perfeitamente essa mistura ilusionista de planos. Pois, ao mesmo tempo em que parecem se fundir com o céu, as nuvens estão se movimentando, se transfigurando sobre aquele palco de aparência estática. Em outras palavras, as nuvens e o céu, que teoricamente pertencem ao mesmo plano, na verdade se encontram nele apenas durante um breve instante – o instante da foto –, pois pertencem a unidades de tempo diferentes. O céu é constante, nuvens são volúveis. Enquanto juntos apresentam seu maravilhoso espetáculo natural, mexem com nossa imaginação, ficamos a observá-las numa brincadeira de criança, procurando reconhecer ali personagens, ações e, talvez, a nós mesmos. É o efeito da nossa vivência sobre aquela massa plástica pendurada entre molduras. É também o convite de Saggese à nossa participação. Novamente, fotografia e pintura se encontram, uma comunhão de presente e passado, tendo a natureza como princípio de criação artística.


São as viagens atentas de Saggese por diversas localidades do país que nos permitem viajar também por mundos distantes, interiores e exteriores; é a busca do artista que nos proporciona tantas descobertas novas. Tudo isso tendo como tema... o quê? Nuvens? Árvores? Cachoeiras? Não, suspeito de algo maior, que extravasa esses limites meramente figurativos. Talvez tudo se resuma a uma conversa com o branco, a cor da modernidade, das múltiplas possibilidades, da alvura do papel que fixa e também expande infinitos significados através da atitude pictórica do artista. A atitude criadora, luz do princípio de tudo, oposta à caixa preta e à câmara escura. Há uma foto praticamente toda branca na exposição que contém essa ideia. Ela sugere uma possível paisagem, um pedaço de existência deixado ao nosso critério. A totalidade da luz e a ausência de pigmento. E vice-versa.

PITTORESCO
De Antonio Saggese
Instituto Tomie Ohtake
De 15 de junho a 25 de julho

quarta-feira, 12 de maio de 2010

ILHA BELA





É bela, é verdade
Não somos os únicos a notá-la
Bela porque foi feita assim
E assim permanece
Ela

domingo, 2 de maio de 2010

PERDA DA AURÉOLA


Marilyn Monroe, foto de Bert Stern

– O quê? Você por aqui, meu caro? Num lugar suspeito? Você, o bebedor de quintessências? O comedor de ambrosia? Na verdade, tenho de surpreender-me!
– Você conhece, caro amigo, meu pavor pelos cavalos e pelos carros. Ainda há pouco, quando atravessava a avenida, apressadíssimo, e saltitava na lama em meio a esse caos movediço em que a morte chega a galope por todos os lados ao mesmo tempo, minha auréola, num movimento brusco, escorregou da minha cabeça para a lama da calçada. Não tive coragem de juntá-la. Julguei menos desagradável perder minhas insígnias do que deixar que me rompessem os ossos. E depois, pensei, há males que vêm para bem. Posso agora passear incógnito, praticar ações vis e me entregar à devassidão, como os simples mortais. E aqui estou, igualzinho a você, como vê!
– Você deveria ao menos mandar pôr um anúncio pela auréola, ou mandar reavê-la pelo delegado.
– Não, ora essa! Sinto-me bem aqui. Só você me reconheceu. A dignidade, aliás, me entedia. E também, me alegra pensar que algum poeta ruim há de juntá-la e vesti-la impudentemente. Fazer alguém feliz, que prazer! Principalmente um feliz que ainda vai me fazer rir! Pense em X ou em Z, puxa! Que engraçado vai ser!

Charles Baudelaire, em Pequenos poemas em prosa

sexta-feira, 2 de abril de 2010

ANDES




















Pequeno em meio a tanta grandeza, tu te encantas, não há como conter a emoção, ela te invade por todos os poros, a cada inspiração, a cada olhar, a cada sopro de vento ou canto de pássaro. É o deserto para os pobres de alma, o paraíso para os de rica sensibilidade.

É ver o infinito começar seu caminho ilógico a partir dos teus pés.

Beleza imensurável. Se puderes ser parte dela – basta imaginar que tudo se realiza –, se deixares a natureza carregar teus pensamentos e te mostrar a pureza mais pura que já existiu, a pureza da vida primitiva, dos instintos, tu voarás livremente, crescerás com ela, voltarás para casa muito diferente do que sempre fostes; terás experimentado o sublime, ele te transformará e dele jamais te esquecerás.

Não esperes a montanha vir até ti.

segunda-feira, 29 de março de 2010


Floralis Generica, de Eduardo Catalano. Escultura em metal cujas pétalas se abrem e fecham conforme a hora do dia. (Plaza de las Naciones Unidas, Buenos Aires/Argentina). Foto de Eduardo de Almeida.

"Dizemos de um homem que passa na rua, que ele é mal feito. Sim, segundo nossas pobres regras; mas segundo a natureza, é outra coisa. Dizemos de uma estátua que ela se encontra nas proporções mais belas. Sim, segundo as nossas pobres regras; mas segundo a natureza?"
Denis Diderot, em Ensaios sobre a pintura