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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ESTÉTICA DO NU

A noiva posta nua por seus celibatários, mesmo (vulgo O grande vidro),
1915-23, de Marcel Duchamp
"O que o nu revela é que não há nada a revelar, ou melhor, que ele é somente a própria revelação, o revelador e o revelado ao mesmo tempo; é o gesto que desnuda. O divino nu (das estátuas gregas), o pecado nu (da inquietude cristão em relação à carne) e a pele nua – esses três aspectos do nu ocupam de muitas maneiras o pensamento atual." (p. 12)

"Foi a partir do corpo como imagem que a noção de integridade pôde ser pensada. O corpo é reinventado mediante um ideal que lhe é externo e que o deslocará da natureza para a pólis: o corpo do cidadão era um artifício a ser criado, que deveria ser treinado e aprimorado. Por isso, todas as figuras humanas do Pathernon são jovens; o corpo belo e nu não é dádiva da natureza, ao contrário, é uma conquista da civilização. Compreende-se, dessa maneira, que o nu artístico é relacionado a características morais, tornando-se modelo de virtudes e qualidades subjetivas que marcam toda a arte europeia ocidental. O nu faz abstração da dimensão do particular e do próprio ao manifestar fixidez fora do tempo: a beleza. É precisamente por causa dessa vontade obstinada do homem de dar forma visível ao humano que o nu seria o signo distintivo da sociedade ocidental, de sua metafísica milenar à procura de uma imagem sensível do ideal. As estátuas gregas representam o ideal mais elevado, uma vez que elas são o signo tangível do poder de uma cultura capaz de extrair o ideal abstrato da humanidade. O nu não representava um corpo, mas uma ideia: a ideia de homem." (p. 14)

Viviane Matesco
Corpo, Imagem e Representação