cheiro
horrível aqui
em Pinheiros
dizem
que é do rio
eu sei
que é nosso
porém
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sexta-feira, 26 de setembro de 2014
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
A CARNE
Pode entrar que a carne
é friboi
Anúncio de açougue?
Não. De uma loja de prazeres
no Largo da Batata
é friboi
Anúncio de açougue?
Não. De uma loja de prazeres
no Largo da Batata
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
LIMITE
"A poesia se converte em religião para aquele que chegou ao limite do despossuimento da fala. Quando o mundo vai se desvanecendo e indo embora, quando os outros vão ficando estranhos e o insondável vira o nosso cotidiano companheiro, tudo o que desejamos é um religamento; um maçarico amoroso que solde novamente nossa pertença quebrada e nos retire deste divórcio de suspensão.
Quando todas as outras prosas vão morrendo e se gastando, só a poesia pode nos acordar e reintroduzir-nos na vitalidade e na trama do tempo...
Mas a poesia deve então instaurar um novo mundo, pois o antigo já não tem mais sentido para nós... já perdemos a familiaridade... e sonhamos com uma nova espessura do tempo – o tempo feito de outra tecitura."
Sabedoria do Nunca
Juliano Garcia Pessanha
Quando todas as outras prosas vão morrendo e se gastando, só a poesia pode nos acordar e reintroduzir-nos na vitalidade e na trama do tempo...
Mas a poesia deve então instaurar um novo mundo, pois o antigo já não tem mais sentido para nós... já perdemos a familiaridade... e sonhamos com uma nova espessura do tempo – o tempo feito de outra tecitura."
Sabedoria do Nunca
Juliano Garcia Pessanha
domingo, 8 de junho de 2014
sábado, 7 de junho de 2014
COINCIDENTE
o passado
aqui
e agora
o futuro
já – não muito –
adiante
tudo junto e misturado
– com-temporâneo –
num embrulho
só;
pacote inconsistente
dado de presente
aqui
e agora
o futuro
já – não muito –
adiante
tudo junto e misturado
– com-temporâneo –
num embrulho
só;
pacote inconsistente
dado de presente
sábado, 17 de maio de 2014
DEVIR = INVOLUIR
Não há passado nem presente nem futuro.
Agora não há ideia de história. Não há História.
Não há hierarquia. Somente historietas, contos, causos.
Devir diz repeito a desfazer.
Escapar dos excessos. Das finalidades. Da objetivação.
Esfacelar as exigências do sistema de produção.
Resistir, transpassar, refratar.
Há potência da suspensão de sentido.
Uma vontade muito grande de acolhê-la.
Acolher essa potência, esvaziar o mundo.
Aceitar e respeitar seus buracos.
As fendas, as lacunas.
Provocar curto-circuitos. Desvios. Errâncias.
Vagar por linhas erráticas, linhas de fuga.
Rastrear o campo. Suspender o tempo.
Silenciar.
*Palavras apropriadas de Peter Pál Pelbart. Que se apropriou das palavras de Fernand Deligny. Que se apropriou das palavras de quem não precisava delas para existir.
Agora não há ideia de história. Não há História.
Não há hierarquia. Somente historietas, contos, causos.
Devir diz repeito a desfazer.
Escapar dos excessos. Das finalidades. Da objetivação.
Esfacelar as exigências do sistema de produção.
Resistir, transpassar, refratar.
Há potência da suspensão de sentido.
Uma vontade muito grande de acolhê-la.
Acolher essa potência, esvaziar o mundo.
Aceitar e respeitar seus buracos.
As fendas, as lacunas.
Provocar curto-circuitos. Desvios. Errâncias.
Vagar por linhas erráticas, linhas de fuga.
Rastrear o campo. Suspender o tempo.
Silenciar.
*Palavras apropriadas de Peter Pál Pelbart. Que se apropriou das palavras de Fernand Deligny. Que se apropriou das palavras de quem não precisava delas para existir.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
TUDO QUE PENSO
tenho vontade de escrever
tudo que penso
e essa impossibilidade
angustia
por quê?
a fim de quê?
é uma vontade boba
pois tudo que penso
está cá registrado
nalgum lugar
todinho meu
lugar aberto
a quem quiser
visitar,
revisitar
na porta, a poética
dos livros de ouro
recebe os chegados,
marca a passagem
onde público e privado
se misturam
em gentilezas
literalmente
faladas,
pensadas,
compartilhadas
ainda assim escrevo
minhas vontades
a fim de quê
não sei
não saber
é bom também
escrever, impreciso
tudo que penso
e essa impossibilidade
angustia
por quê?
a fim de quê?
é uma vontade boba
pois tudo que penso
está cá registrado
nalgum lugar
todinho meu
lugar aberto
a quem quiser
visitar,
revisitar
na porta, a poética
dos livros de ouro
recebe os chegados,
marca a passagem
onde público e privado
se misturam
em gentilezas
literalmente
faladas,
pensadas,
compartilhadas
ainda assim escrevo
minhas vontades
a fim de quê
não sei
não saber
é bom também
escrever, impreciso
quarta-feira, 5 de março de 2014
A MINHAS OBRIGAÇÕES
Este trecho seria perfeito para a manhã de hoje, quarta-feira de cinzas. Só que eu estava trabalhando e não podia lê-lo, o que é uma pena. Também uma doce ironia.
A todos tenho que dar algo
a cada semana e cada dia,
um presente de cor azul,
uma pétala fria do bosque,
e então de manhã estou vivo
enquanto os outros mergulham
na preguiça, no amor,
eu estou limpando minha redoma,
meu coração, minhas ferramentas.
Pablo Neruda, Navegações e Regressos
A todos tenho que dar algo
a cada semana e cada dia,
um presente de cor azul,
uma pétala fria do bosque,
e então de manhã estou vivo
enquanto os outros mergulham
na preguiça, no amor,
eu estou limpando minha redoma,
meu coração, minhas ferramentas.
Pablo Neruda, Navegações e Regressos
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
FEITO
cidadão de bem
muito lugar
comum
muitos lugares
como
se muitos
fossem
bons
como se
muito fosse
bem
muito bem, muito bem
tapinha nas costas
tapa na oreia
muito lugar
comum
muitos lugares
como
se muitos
fossem
bons
como se
muito fosse
bem
muito bem, muito bem
tapinha nas costas
tapa na oreia
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
POT-POURRI (À MODA DA CASA)
Pot Pourri (1897), Herbert James Draper |
cenas cruéis
com requintes
de humanidade
cenas vulgares
com pitadas
de piedade
cenas finais
com leves toques
de eternidade
cenas irônicas
recheadas
de ambiguidade
cenas profanas
à moda
da artificialidade
cenas picantes
apinhadas
de religiosidade
cenas poéticas
apuradas
na ociosidade
cenas imperdíveis!
bem passadas,
da pior qualidade
cenas banais
com fervor
de realidade
cenas póstumas
em repouso
por arbitrariedade
cenas improváveis
seguidas à risca
e leviandade
cenas rocambolescas
pré-aquecidas
por cretinidade
cenas imprestáveis
defumadas
com naturalidade
cenas inspiradoras
congeladas
com especificidade
cenas impossíveis
salpicadas
de passividade
cenas grandiosas
ensopadas
de moralidade
homem
manjar dos deuses
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
DESEJO PUERIL
queria morar numa rua
com nome de poeta
onde errar fosse coisa certa
rua de tripla mão
para ir, vir, devir
não julgue vazio
meu desejo pueril
nessa minha rua
todos que passassem
deixariam um rastro
de boa recordação
de presente
levariam sentimento
sem matéria
nem razão
uma rua de gente
justa e honesta
em que todas as memórias
fossem pura invenção
com nome de poeta
onde errar fosse coisa certa
rua de tripla mão
para ir, vir, devir
não julgue vazio
meu desejo pueril
nessa minha rua
todos que passassem
deixariam um rastro
de boa recordação
de presente
levariam sentimento
sem matéria
nem razão
uma rua de gente
justa e honesta
em que todas as memórias
fossem pura invenção
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
AFIA A DOR
assovia,
afiador,
assovia
sua gaita me lembra os tempos
de casa,
quando pertencia ao chão
e o dividia
com quem não merecia
saudade, sim
tristeza,
é verdade
afia!
a dor
Fiu-ru-lin
Fiu-ru-lon
afiador,
assovia
sua gaita me lembra os tempos
de casa,
quando pertencia ao chão
e o dividia
com quem não merecia
saudade, sim
tristeza,
é verdade
afia!
a dor
Fiu-ru-lin
Fiu-ru-lon
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