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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

SOBRE LITERATURA E POLÍTICA

"Não gosto de literatura engajada. A doutrina faz parte da atividade missionária, religiosa, e um escritor deve inventar um pequeno mundo, um microcosmo com dramas e tragédias humanos, sem mensagens ideológicas ou receitas para uma vida feliz. As grandes obras falam do tempo, que é social, político, cultural. Pensar já é um ato político. O sentido da História é importante para a construção de um romance. Mas é na história particular e na trajetória de um personagem que aparecem os dramas humanos e o verdadeiro sentido da História. Numa obra de ficção, as relações de poder, os conflitos e perturbações morais estão estreitamente vinculados e devem fazer parte da subjetividade dos personagens que participam do enredo."

Milton Hatoum
Revista OCAS nº 91
Setembro/Outubro de 2013

sábado, 19 de outubro de 2013

DENTRO E FORA DA 30X BIENAL

A história oficial jamais dá conta de todos os seus personagens, ainda que reivindique para si o título de "absoluta". A mostra em cartaz no parque Ibirapuera, que reúne protagonistas das 30 edições da Bienal de SP, está sendo criticada por aqueles que ficaram de fora. Claro, é natural que alguns não participem, dados os limites da proposta. Mas qual é o critério? Quais são as questões ética envolvidas? Para a artista Maria Bonomi, a instituição se curvou ao mercado, conforme denúncia divulgada no vídeo abaixo. Alguém discorda?


Site oficial da mostra: 30 vezes Bienal

sábado, 12 de outubro de 2013

SER DE ESQUERDA

Sempre achei inconveniente a classificação de governo esquerdista ou direitista, sendo um voltado para o social e outro para o capital, conforme aprendi na escola. Comunistas e capitalistas de verdade existem apenas em filmes hollywoodianos ou livros de geopolítica. Talvez ainda em cartilhas, que ninguém segue à risca. Porque, na prática, não é bem assim; dogmas não se aplicam, maniqueísmos idem... Existem nuances. Ambas as utopias, com suas propostas extremistas, estão em desalinho com a realidade contemporânea, tampouco dão conta da sua complexidade. Ideais estáticos, rígidos, não operam em sociedades moventes, ambíguas, em transformação constante e veloz. No mundo inteiro, de modo geral, estabelecem-se governos de centro: centrados em si mesmos, nos interesses imediatos, seja o reconhecimento econômico internacional para atrair investimentos, seja uma tentativa de se livrar das ameaças para assim permanecerem no poder. Centros que em raras ocasiões se distanciam na direção da periferia social ou intelectual, e quando isso ocorre o percurso já é, desde o princípio, digno de suspeita.

 


Isso é evidente no Brasil, com nossa imensa variedade de partidos políticos que, na prática, são igualmente previsíveis: doutrinários, conservadores, patriarcais. Quer dizer, é possível diferenciar ideologias bem estruturadas, questionadoras e incompatíveis que justifiquem tantas chapas? É possível discerni-las? Veja bem, a questão não é o número, mas os motivos que levam a ele. Os partidos têm quais objetivos, quais planos de governo, quais propostas de trabalho? Ninguém sabe. Porém, existe uma infinidade de interesses pessoais postos em jogo, além de uma dança de cadeiras mais ou menos ensaiada que sustenta a mediocridade do sistema.

Por sua vez, um significado possível para o termo "esquerda" ganha força em consequência desse território esgotado estabelecido pela tal democracia como a temos hoje. Um certo tipo de pensamento e de posicionamento político em formação, que se manifesta por sua inexatidão e assim deve prosseguir. Foi ao assistir a um fragmento de entrevista com Gilles Deleuze que pude compreender melhor esse "esquerdismo", que nada tem a ver com aquele "direcionamento ao social" arrastado pela tradição. "Ser de esquerda", explica o filósofo, "é começar pela ponta e perceber que esses problemas devem ser resolvidos, pois estão mais próximos do que nossos problemas pessoais. Ser de esquerda é ser ou devir minoria".

A que ponta ele se refere? Àquela mais distante, que parece não nos dizer respeito. À fome na África, às ditaduras islâmicas, às imposições norte-americanas, às calotas polares – de lá para cá, da ponta em direção a nós; esse seria o trajeto, a estratégia de atuação. A lógica se inverte; de longe deveríamos caminhar até o nosso redor imediato e, enfim, o conhecido centro de onde costumam partir os interesses públicos.

Para Deleuze, ser de esquerda é um fenômeno da percepção. Trata-se de uma maneira de apreender o mundo, as relações sociais, as vontades políticas, as atitudes. "Ser", afinal, é um verbo de ação, não uma determinação. As pessoas só "são" sendo. Em outras palavras, o que as constitui é a sua postura diante da vida, os atos que protagonizam; não uma programação precedente.

A esquerda está condenada à oposição. O que não significa ser o tempo inteiro contra a situação vigente, porque atacar por atacar é um egocentrismo inconsequente e ingênuo. Ser oposição está relacionado com fazer prevalecer o direito à crítica, ainda que nem sempre a alternativa seja mais indicada. Revisar as instituições e, se for o caso, propor melhorias. Experimentar outros pontos de vista, procurar novos caminhos, explorar possibilidades não consideradas até então. Dar voz às minorias. Aproximar-se delas. Deixar-se afetar.

Não tem nada a ver com o governo. Nem pode. Jamais existirá governo de esquerda. Quando a esquerda toma o poder, seu oposicionismo se esfacela. Ilude-se o povo que pretende vê-la dominar, de modo que seus desejos sejam atendidos. Isso é impossível. O governo estará centrado em si, independentemente da sua origem, pois é assim que o sistema global funciona.

É um paradoxo. Porque, se o povo se une, o esquerdismo se transfere para outra causa. Trata-se de uma instância fluida. A esquerda é a minoria, a resistência, a oposição por excelência. Não pode jamais ser estática ou instituída: é uma situação momentânea, relativa, que abrange um sujeito para logo o abandonar e se dedicar a uma nova questão. Um papel social. Não deve desejar o poder, mas derrubar as maiorias que se impõem. Jamais se torna padrão, pelo contrário: posiciona-se fora dele, combate-o, provoca-o até que se desfaça. Inconformada com qualquer que seja a situação, deslocada em relação a ela, querendo sempre repensá-la, querendo sempre renová-la.

Se a situação se dedica a algo, a esquerda exigirá que se volte a outro, irá procurar esse outro onde quer que esteja, por menor que seja, porque ele existe e necessita de espaço para se expressar; ele depende da esquerda para ser ouvido. Quando se estabelece, a esquerda o mantém sob vigilância e passa a procurar outro outro, o além outro, o novo outro, a exceção. Assim, pelo movimento contrário, promove um equilíbrio imprescindível.

Quando a maioria ganhar força, a esquerda estará distante, junto da minoria. Porque "a maioria nunca é ninguém", diz Deleuze, "mas um padrão vazio em que muitas pessoas se reconhecem. (...) A minoria é todo mundo". Nelson Rodrigues completaria com sua célebre afirmação: "Toda unanimidade é burra".

Ser de esquerda é tornar-se crítico, olhar com desconfiança, resistir às forças primárias. Não com objetivo de destruir, movido por puro preciosismo. Mas para refletir, provocar rupturas, abrir fendas, incentivar melhorias e não deixar que um ser sucumba por pressões impostas, por maiorias sufocantes, pelas normas gerais confortadas no poder. Ser de esquerda é uma possibilidade de existência condizente com o agora. É estar deslocado em relação à ordem. Tanto da política partidária, administrativa, quanto das políticas que nos afetam no dia a dia, que constituímos e sustentamos. A política própria da vida em sociedade.

[transcrevi aqui a entrevista com Deleuze disponibilizada no vídeo acima: A esquerda de Deleuze]

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

ASPECTOS DA ESTRUTURAÇÃO DO SELF DE LYGIA CLARK: PERSPECTIVAS CRÍTICAS

Clique na imagem para ampliá-la
Estou superfeliz com este convite da FAAP: vou apresentar um resumo de minha pesquisa de mestrado durante o VII Seminário de Pesquisa em História da Arte. O tema: Estruturação do Self, proposição artístico-terapêutica desenvolvida pela artista Lygia Clark no Brasil entre 1978 e 1988.

O evento oferece diversas outras palestras bem legais. Para assistir, precisa se inscrever aqui: faap.br/pos

sábado, 5 de outubro de 2013

SIGNIFICADO POÉTICO

gosto
das palavras
imprevisíveis
que aguardam
na linha
debaixo

e mudam
o sentido das coisas