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sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O BELO E A BESTA: RESSONÂNCIAS


Este é um livro escrito para o leitor rir de si mesmo. Ou melhor, rir de sua patética humanidade. Seja com ironia, espanto ou escracho, estes textos breves retomam uma questão que atravessa as fábulas de Esopo, os bestiários medievais, os seres imaginários de Borges, a bicharada de Guimarães Rosa, qual seja: há diferença entre nós e eles?

“Predicamos ‘homem’ de um homem; assim, de ‘homem’ predicamos ‘animal’”, escreveu Aristóteles em suas Categorias. Para concluir que “um homem é tanto ‘animal’ quanto ‘homem’”. Este O belo e a besta, com menos filosofia e mais absurdo, parece inverter a equação e sugerir que a humanidade não está um grau acima na evolução; ela é a limitação de uma animalidade maior e desconhecida, ainda que jamais abandonada.

O que resta a nós? Ler e rir. Porque, bem sabemos, é melhor rir do que chorar.

Saiba mais no site da editora Moinhos

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

ENTREMEIO (ALGUMA LUZ)

Foto de Shio Yang

Trinta e sete mil e quatrocentos metros de fio de cobre paralelo foi a quantidade que conseguiu comprar com todas as suas economias. Esticou-o desde a sala de estar de seu apartamento, no décimo segundo andar, atravessando ruas e avenidas, estradas, linhas de trem suburbano, terrenos baldios, pracinhas cheias de capim alto etc., desviando de feiras livres, crianças, ruínas, córregos etc., fazendo as curvas necessárias para manter uma trajetória suficientemente retilínea na direção da cidade vizinha mais próxima. Na extremidade do fio, instalou um soquete e, no soquete, uma lâmpada. Voltou para casa. Na ponta inicial, acoplou um interruptor, desses de abajur, e na sequência um plugue macho. Ligou o circuito à rede elétrica. Precisou forçar um pouco para que alcançasse a tomada localizada atrás do sofá. Tudo certo. Era noite. Acionou o interruptor. Desde então, isso já faz meses, muda a chave seletora para a posição contrária toda manhã ao acordar. Imediatamente antes de dormir, coloca-a outra vez na posição anterior. Jamais soube se, ao fazer isso, acende ou apaga a lâmpada no entremeio. Sequer tem certeza de que ela continua rosqueada no soquete a trinta e sete mil e quatrocentos metros de distância. Sua rotina é acender e apagar a lâmpada em qualquer ordem que seja e atender clientes de uma rede de lanchonetes para, todo décimo dia do mês, pagar a conta de luz.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

O BELO E A BESTA: RESSONÂNCIAS


Este é um livro escrito para o leitor rir de si mesmo. Ou melhor, rir de sua patética humanidade. Seja com ironia, espanto ou escracho, estes textos breves retomam uma questão que atravessa as fábulas de Esopo, os bestiários medievais, os seres imaginários de Borges, a bicharada de Guimarães Rosa, qual seja: há diferença entre nós e eles?

“Predicamos ‘homem’ de um homem; assim, de ‘homem’ predicamos ‘animal’”, escreveu Aristóteles em suas Categorias. Para concluir que “um homem é tanto ‘animal’ quanto ‘homem’”. Este O belo e a besta, com menos filosofia e mais absurdo, parece inverter a equação e sugerir que a humanidade não está um grau acima na evolução; ela é a limitação de uma animalidade maior e desconhecida, ainda que jamais abandonada.

O que resta a nós? Ler e rir. Porque, bem sabemos, é melhor rir do que chorar.

Saiba mais no site da editora Moinhos

quarta-feira, 14 de julho de 2021

MEIO A MEIO

Foto de Alice Pasqual em Unsplash

Oi, pai.
Oiê.
Oi, meninas. Tudo bem?
Sim.
Mais ou menos.
O que foi?
Nada.
Nada.
Que estão fazendo?
Nada.
Falando.
Falando?
Nada especial.
Só colocando a fofoca em dia.
Estão com fome?
Sempre.
Não muita. Vamos comer o quê?
Pensei em pizza.
Quatro queijos.
Como assim?
Meia quatro queijos.
Por que como assim?
Eu me referia à pizza, não ao sabor. Pai, o médico não proibiu?
De vez em quando pode.
Deixa ele ser feliz.
De vez em quando pode?
Ele não especificou.
Deixa de pegar no pé.
Eu me preocupo, tá?
Já faz tempo que estou só no filé de frango.
Ele não vai comer a pizza inteira. Nem vai comer pizza todo dia. É só hoje.
Faz quanto tempo que você colocou ponte de safena?
Então, agora estou limpo por dentro. Pronto para outra.
Ele pode comer uma fatia ou duas.
Faz três semanas.
Você fala como se eu estivesse para morrer. Logo agora que me salvei.
Tá vendo? Para com isso.
Eu... Eu falei porque não quero passar por esse sufoco mais uma vez.
Eu sei. Obrigado por se preocupar. Eu também não quero, nunca mais.
Pede meia abobrinha.
Não, nada de pizza. Eu faço qualquer coisa para comer.
Eu como abobrinha, pode ser? É mais saudável.
Meia quatro queijos, meia abobrinha. Eu peço.
Pai, por que isso?
Estou bem, de verdade. Só não posso abusar.
Alô, é da pizzaria?
Eu vi seus exames. O colesterol continua no teto.
Até o teto é bom. Não vai melhorar, é genético.
Meia quatro queijos, meia abobrinha.
Você tem feito exercício?
Ainda estou convalescendo.
Rua Tapeté, vinte e um. É casa.
Convalescente toma sopa, não come pizza.
Vou procurar um personal, ok?
Traz a máquina de cartão?
Quando?
Semana que vem.
Ok, obrigada.
Por que não amanhã?
No domingo?
Vai demorar quarenta e cinco minutos.
Então segunda.
Prometo.
Pronto. Vou arrumar a mesa. Você me ajuda?
Ajudo.
Eu também.
Você pega a toalha lá no aparador.
Eu pego os talhares. Você, os copos?
Vou colocar uma toalha especial.
Taças.
O pai não pode beber.
Posso sim.
Tinto ou branco?
Como assim, pai? Convalescente bebe vinho?
Tinto faz bem para o coração.
Você também precisa relaxar.
Como eu posso?
Eu já estou bem.
Ele está bem.
Você sabe que não é só isso. Como pode?
Alguém viu aquela toalha branca que sua mãe trouxe de Portugal?
Não vai entrar nesse assunto agora, né?
Ele precisa saber!
Alô-ô!
Procura direito, pai! Fica aí mesmo.
Eu vou contar. Não é certo.
Na primeira ou na segunda gaveta?
Você vai acabar com a noite dele. E com a nossa. Para quê?
Procura nas duas!
Estou procurando, estou procurando.
A gente conta quando a consulta estiver marcada.
Eu não consigo. Não dá! E quer saber? Será que ele pode beber, não vai fazer mal?
Achei só a vermelha e branca, de piquenique. Pode ser? A do dia a dia eu não quero, hoje é uma noite especial.
Você ouviu o cardiologista. As chances são mínimas. Deixa ele viver o quanto pode.
Se tiver uma chance, eu quero apostar nela. Eu quero acreditar.
Até que combina, parece toalha de cantina italiana. Por que você está chorando?
Não é nada.
É.
Nada?
Bobagem dela.
Eu não sei direito.
Você está estranha desde que eu cheguei. Não é aquele ator, né? Eu já falei para você.
Ator só faz cena, a gente sabe.
Não. Deixa pra lá. Eu... Lembrei agora de uma coisa que perdi.
Vou dar um conselho, tá? Deixa isso de lado e vai ser feliz. Olha aqui a sua taça. Saúde!

terça-feira, 25 de maio de 2021

UM ANIMAL QUE FALA (E ÀS VEZES OUVE)

Veja mais sobre o livro no site da editora Moinhos

Quais são os limites da linguagem humana? Ainda é possível acessar a animalidade que nos habita? Quanto conhecemos sobre os animais e como a escrita de ficção pode contribuir nisso? O escritor e crítico Fernando Sousa Andrade me convidou para falar sobre O belo e a besta, livro composto por pequenos contos, poemas e ilustrações. Reproduzo a seguir essa ótima conversa, publicada originalmente no site Literatura & Fechadura.

1. Ao entrar num parque, temos regiões, seções, placas, sinalizações para os caminhos. Quais são eles em O Belo e a besta?
O livro propõe esse passeio por uma espécie de jardim zoológico. Mas várias lógicas se invertem, inclusive a do percurso pré-determinado. Os caminhos, as regiões do mapa, as sinalizações estão todas colocadas para o visitante se perder e, com sorte, vivenciar uma experiência diferente do espetáculo convencional. Por meio dessa errância, meu desejo era que o leitor perdesse inclusive algumas noções da própria humanidade e pudesse se reencontrar com certa animalidade sua. Assim, tentei criar meios de desfazer a ideia do “eu aqui e um outro acolá” que temos no zoológico, de modo que o leitor pudesse estranhar a si mesmo, talvez encontrar algum outro ser dentro desse “eu”. Isso feito com humor, às vezes bom, outras vezes nem tanto, num “zooilógico”.

2. Na sua escrita, o poder da sugestão é muito grande. Como foi esmiuçar ideias sobre animalidade sem, no entanto, fechar qualquer tipo de conclusão ou desfecho?
Eu tentei desconstruir algumas ideias pré-concebidas que vão sendo embutidas em nós desde pequenos, que nos formam e nos conformam a respeito da animalidade. São ideias sobre a personalidade de animais, por exemplo, como dizer que a cobra é traiçoeira, a raposa é esperta, a coruja é sábia etc. Boa parte delas estão postas desde as antigas fábulas gregas, de milênios atrás. Há outras ideias mais recentes, com a de o cachorro ser amigo do homem enquanto o aedes aegypti é inimigo, a natureza ser algo exterior a nós, enfim, essas concepções que só falam sobre nós mesmos e sobre como projetamos nossa humanidade nos outros animais. Fui tateando isso, tentando me libertar no sentido conceitual e na linguagem, que também pré-determina os nossos entendimentos. Na medida em que o leitor consegue escapar também, os significados ficam suspensos e, assim, o desfecho permanece aberto.

3. A linguagem parece andar no meio desta coexistência entre bichos e gentes. Temos frases que você coleta na loja de souvenires do parque que já estão no senso comum da vida cotidiana. Você acha que linguagem entre bichos e humanos é tão normativa a ponto de criar uma genealogia da vida em comum, aqui pensando nos animais domésticos? Disserte um pouco.
A linguagem muitas vezes é entendida como o grande abismo entre humanos e outros animais. O que parece libertário nessa capacidade de falar é, em certa medida, uma prisão. Quer dizer, não são aqueles animais que se encontraram limitados a um mundo sem a linguagem falada dos humanos; nós é que acabamos por determinar a maior parte da nossa experiência aos signos linguísticos, às redes de sentido semântico, àquilo que pode ser racionalizado e verbalizado. O mundo é muito maior e mais complexo do que isso; uma grande dimensão da vida simplesmente não cabe em palavras. Contudo, raras vezes nos permitimos escapar dos limites do discurso e vivenciar algo que os outros animais têm a todo instante, pois somos educados a permanecer sãos e salvos nesse terreno da comunicação, da lógica, do pensamento esclarecido. Esse é um ponto que aparece sugerido em alguns textos de O belo e a besta, não como tese, mas como provocação, como piada. Outro ponto é a loja de suvenires do parque, que você mencionou. Ali estão colecionadas uma série de expressões que mostram como os animais fazem parte da nossa língua: pé de cabra, espírito de porco, bico do corvo, conversa para boi dormir, bode expiatório etc. Foi divertido lembrar delas, que por sua vez mostram a complexidade do português, rico em associações e imaginários, capaz de ir muito além do sentido imediato. Temos aí uma espécie de paradoxo que me interessava manter e atiçar, em vez de propor qualquer resolução.

4. Por que os animais se prestam também ao palavrão, ao efeito pejorativo de valor? De onde vem esta relação entre bichos e seu valor para uma ação humana?
Os animais do livro dizem palavrões porque são personagens inventados por um humano que deseja falar com outros humanos. No fim, são sempre criações feitas à nossa imagem e semelhança, e por mais desconstruídas que se queira, elas ainda estão a escancarar nossa incapacidade de acessar grande parte da animalidade que habita em nós. Essa incapacidade, creio, também podemos chamar de humanidade. Sem querer que humanidade seja pior ou melhor do que animalidade. Ambas coexistem à sua maneira. E hoje me parece que a humanidade é mesmo uma pequena parcela de tudo o que nossa animalidade pode vir a ser.

Gostou? Encomende agora mesmo seu exemplar de O BELO E A BESTA no site da Editora Moinhos. Clique aqui.

quinta-feira, 25 de março de 2021

DEZ (OU ONZE) LIVROS SOBRE HUMANIDADE E ANIMALIDADE

Clique aqui para encomendar o seu direto com a editora!

As afinidades e desavenças entre humanos e outros animais estabelecem um ramo extenso da literatura, desde as fábulas de Esopo a escritores contemporâneos. Fui me embrenhando por essa selva cheia de mistérios, encantos e absurdos enquanto escrevia meu livro mais recente, chamado O belo e a besta, que está sendo lançado agora pela editora Moinhos.

Talvez você já tenha lido uma porção de histórias sem se atentar a essa questão. Às vezes, a animalidade é apenas parte de uma obra mais complexa, como no caso das próprias fábulas, que trazem fundamentos morais implicados na relação entre animais falantes, cujo comportamento simula o dos humanos.

A seguir, dou dicas de livros que marcaram minha vida de leitor e que influenciaram a escrita de O belo e a besta. Estes não são necessariamente os melhores. Nem os únicos. Mas podem ser boas portas de entrada para quem se interessar pelo assunto, assim como foram para mim.

1. Em primeiro lugar, dois personagens que já na infância me fizeram perceber que a leitura podia ser tão prazerosa quanto crítica. Não falo de um livro específico, mas de toda a obra de Bill Waterson com Calvin e Haroldo. Se você nunca leu, precisa ler. Calvin é um menininho norte-americano com um tigre de estimação, que para os adultos é uma pelúcia, mas para ele é um animal de verdade. E o engraçado é que o tigre parece bem mais civilizado do que a criança.

2. Atualizando a tradição popular existe o sensacional A ovelha negra e outras fábulas, do escritor hondurenho Augusto Monterrosso. Com histórias repletas de humor, ironia e política, ele subverte a lógica e a moral das fábulas convencionais.

3 e 4. Dois escritores latinos criaram inventários de animais reais ou fantásticos, que nos lembram bestiários medievais e as descrições da fauna americana feitas durante a colonização, quando tudo aqui parecia selvagem e violento aos olhos estrangeiros. Refiro-me ao argentino Jorge Luis Borges, com O livro dos seres imaginários, e ao brasileiro Wilson Bueno, que publicou O jardim zoológico, entre outros títulos com a mesma temática. Em ambos, lemos o nome e uma descrição desses animais, que mostram até onde vai a nossa inventividade sobre a natureza.

5. Eu ia dizer “até onde vai nossa fantasia sobre a alteridade que os animais apresentam”, mas quem explora isso com mais afinco é Guimarães Rosa. A tal animalidade permeia boa parte dos seus textos, e talvez o ápice seja Meu tio o Iauaretê, publicado na coletânea Estas histórias. O conto mostra um matador de onças que vive na mata e que, vamos descobrindo aos poucos, descende das próprias onças; um homem-bicho cujas características correspondentes a um ou a outro são meio indiscerníveis.

6. Falando nisso, outro livro que marcou minha juventude é A revolução dos bichos, de George Orwell, que critica os regimes totalitários usando animais como metáforas de certas organizações sociais. É curto, impactante, e os governos atuais nunca o deixam envelhecer ou se tornar inoportuno.

7. Maus, de Art Spiegelman, tem com ele algumas semelhanças. Inspirado na experiência do pai do autor na Segunda Guerra Mundial, ali as nacionalidades ou etnias são representadas como animais. Os norte-americanos são cachorros, os alemães são gatos, os judeus são ratos e assim por diante. Mais interessante do que as questões de perseguição e dos campos de concentração, já bastante desenvolvidas em outras obras literárias, essa história em quadrinhos mostra como a experiência marca não apenas quem lá esteve, mas inclusive quem nasceu quando a guerra já tinha acabado.

8. Eu poderia citar vários outros títulos de ficção, mas quero aproveitar a oportunidade para compartilhar também três obras ensaísticas que ajudam a problematizar o assunto. A primeira delas é Literatura e animalidade, da brasileira Maria Esther Maciel, que me mostrou a possibilidade de realizar uma abordagem poética para além das alegorias do comportamento humano, por vezes baseadas em animais estereotipados. Boa parte do meu livro foi escrita em diálogo com suas análises.

9 e 10. Duas obras de leitura mais complexa são O que os animais nos ensinam sobre política, do canadense Brian Massumi, e O aberto: o homem e o animal, do italiano Giorgio Agamben. Ambos os filósofos expandem, pesam e cruzam os conceitos de humanidade e de animalidade, revendo-os historicamente, buscando outros sentidos possíveis advindos de diferentes áreas do conhecimento e mostrando como a nossa perspectiva sobre os animais quase sempre é estreita e preconceituosa.

Demais títulos de não ficção que eu poderia citar aqui foram encontrados nas referências bibliográficas desses três. Sugiro que você dê uma olhada, caso também se interesse. A lista é imensa.

Por fim, convido você a conhecer meu O belo e a besta. Ele propõe uma espécie de passeio por um jardim zoológico em que se pode olhar os animais e onde eles olham de volta. O livro é composto por cerca de setenta textinhos que buscam um tom entre a ironia e o bom humor, ou entre o natural e o bizarro. Foi escrito para ser divertido, causar espanto, inquietar. E eu espero que também possa sugerir o que os animais têm a dizer sobre a nossa humanidade.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

TESTEMUNHO OCULAR AGORA EM EBOOK!


 Primeira boa notícia de 2021! Meu livro Testemunho ocular, esgotado na editora, acaba de ganhar uma versão digital. Dá para ler no celular, no computador e no Kindle. 

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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

CRIAR, GUARDAR, COLECIONAR

Na Companhia dos Objetos #8 (2009), de Flávia Junqueira

A história da humanidade pode ser contada por meio dos objetos que utilizamos, acumulamos, passamos de geração em geração, descartamos ou até mesmo sepultamos com nossos restos mortais. Por menos materialistas que pretendamos ser, temos com eles uma relação especial, que é exclusiva da nossa espécie. Uma relação que se manifesta de diferentes maneiras ao longo do tempo e dos povos, mas que mantém um princípio comum com a sobrevivência. São marcas da civilização: as ferramentas, as vestimentas, os adornos; os objetos sagrados e os profanos, os especiais e os banais. Artesanias que passam a existir por meio de um gesto transformador, o qual diferencia a matéria da sua natureza original. Todo artefato é também um artifício justamente porque criado pelo homem e incorporado a uma cultura. Adquire, de algum modo, um aspecto simbólico, um sentido prático, uma função.

O que são esses objetos no rack da sala, exibidos às visitas? Quais são os que guardamos no quartinho da bagunça, longe dos nossos próprios olhos? O que dizem sobre nós, proposital ou inadvertidamente? Quando foram adquiridos, em que circunstância? Quais desejos estão associados a eles? Por que ainda os temos? Que memórias eles sustentam? Que sentimentos produzem?

Lemos no poema Aspectos de uma casa, de Carlos Drummond de Andrade: “Ajudemos Maria (dizem eles / no dizer sem nome dos objetos) / a compor sua casa / como de um baralho de sons / se compõe a estrutura musical”. Antes, ainda, ele escreve: “Maria cria sua casa / como o pássaro cria seu voo”. Ao longo dos demais versos, o poeta enumera coisas que fazem daquele teto um lar, cada qual no quarto do seu respectivo dono, outros no espaço comum do living. São elas as protagonistas da narrativa; são elas que, numa dada organização, compõem o cenário, expõem o enredo e nos fazem imaginar os coadjuvantes humanos que não estão ali, exceto por seus rastros. Não obstante, Maria cria sua casa por instinto, num certo improviso que reage às ações da vida, tal como o pássaro cria o voo.

A organização para uns é a desorganização de outros. Como vemos no breve documentário Nova Iorque, mais uma cidade, que acompanha a indígena Patrícia Ferreira durante sua visita ao Museu Americano de História Natural, onde observa peças dos nativos sul-americanos. Nas vitrines, encontra coisas que em sua opinião não deveriam estar ali, descontextualizadas e distantes das pessoas que as possuíam, abertas a interpretações quaisquer, o que para a cineasta configura um desrespeito à cultura guarani.

O que provocamos ao transferir objetos de lugar, ao reorganizá-los em novas composições, ao exclui-los da vista ou ao trazer à tona os costumeiramente invisíveis? Essas questões foram caras a artistas como Marcel Duchamp, Kurt Schwitters, Pablo Picasso e Salvador Dalí, entre outros que fizeram e ainda fazem, desde o Modernismo, experiências do gênero. Penso, por exemplo, no mictório que Duchamp levou ao espaço expositivo; nos pertences de amigos incorporados por Schwitters a sua Merzbau; nos materiais da vida comum que Picasso agregou as suas pinturas, como retalhos de tecido e jornais; nos objetos oníricos de Dalí, modificados em sua forma e função originais.

Seja em casa ou no museu, por que acumulamos coisas? E por qual motivo as colecionamos, instituindo métodos de escolha e preservação? Quais legendas acompanham essas coleções? Que histórias elas formulam? Que conhecimentos advêm delas?

No conto O colecionador, Maria Esther Maciel fala de um homem que reunia nomes de mulheres. Primeiro os que traziam o som da água, depois os nomes florais, por vezes aqueles com uma inicial específica. Os que não se enquadravam nas categorias “ficaram apenas em sua memória como uma causa perdida”. Até que um dia, sem motivo aparente, tal homem desiste da pesquisa e passa noites em claro, perturbado com o desafio de achar uma mulher sem nome.

Pode, no domínio da humanidade, haver existência não nomeada, talvez naquele “dizer sem nome dos objetos”, como Drummond escreveu? Pode existir objeto que não esteja acompanhado de palavra? No desenlace do poema, acontece algo semelhante ao que vemos no conto de Maciel: após observar as coisas que se encontram na casa de Maria, uma pomba alça voo e vai-se embora. Pois tanto elas quanto seus nomes, para o pássaro, nada significam.

segunda-feira, 30 de março de 2020

VÍRGULAS FORA DO LUGAR, SENTIDOS FORA DE CENTRO

Logaritmosentido (editora Penalux, 2019), de Fernando Andrade, é composto por textos curtos, com uma ou duas páginas, a maioria deles em prosa. São, entretanto, exigentes, vão se deixando decifrar aos poucos e, para isso, pedem para ser lidos e relidos, buscando-se sentidos por meio de uma lógica que talvez não exista. Eles apresentam uma operação claramente linguística; um desafio ao leitor. Percebi, vez ou outra, que me debruçava sobre o livro como se lesse um caça-palavras. À procura de quê? Fiquei intrigado com inúmeras questões pontuais, mas para a entrevista a seguir mantive um plano mais geral, de modo que não nos prolongássemos demais e pudéssemos apresentar, a quem ainda não leu, uma primeira visão da obra.

1) Desde o título está anunciado o tensionamento entre a lógica matemática e o sentido, talvez entre a racionalidade e a emoção. Nos textos do livro, por vezes uma explicação de tom científico põe em jogo a própria ciência por trás das explicações. Como você entende essa relação entre a ciência e a literatura?

Na verdade tento colocar em jogo a racionalidade de uma sentença (tese) que às vezes chamo-a de nucleada. Nos meus livros de poesia, também, tento trabalhar a noção de núcleos que detém verdades ontológicas, certezas definitivas. Meu jogo com a matemática vem desta durabilidade infinita dos conceitos fechados (nucleados) ou binários. Portanto meu deleite com a ciência é partir do sentido de suas exposições, teses, para através do jogo lúdico das palavras na linguagem, deslizar a imanência do signo decifrável, criar uma interface de comunicação não unilateral. Quando ludico a palavra do conto Mark onde o próprio destino do personagem é sua língua, crio um efeito potencial, exponencial, de saber até onde os sentidos podem ir na frente de uma narrativa polissêmica.

2) Os títulos das seções que compõem o livro poderiam ser os de uma tese: Sentido exponencial, Infância e normatividade, Corpo poético, Teatralizantes, Ensaio, Paródicos, Gêneros. Mas o conteúdo que os segue não quer provar nada, apenas degustar certo apuro linguístico em cenas de enredo enxuto. Essas seções, curtas, com cerca de dois ou três textos cada, dão ao livro uma estrutura singular. Por que optou por essa forma?

Trabalho sempre com seções nos livros. Na primeira parte, os sentidos se desdobram em vórtices, passam pela palavra ideia e potencializam significâncias como a pedra do conto Petrificante (pedra de crack, pedra preciosa). Tinha alguns contos com teor de fatos sobre a infância e via que eles passavam por alguma função de nomear-normatizar. Aí fui colocando temas. Claro que na maioria das vezes o conteúdo do livro desnormatiza-se de classificações e rótulos. Mas não queria fazer a linha de costura do livro inteiramente solta sem um fio de caminho. Por exemplo o conto-poema Colher de chá colher de sopa poderia entrar em duas seções, tanto Infância quanto a própria seção Gêneros; aliás, ele fala e é da questão entre prosa e poesia, da questão do gênero biológico masculino e feminino.

3) A pontuação, o jogo de palavras, a alternância de narradores, a sonoridade e o retorno a elementos dos próprios textos, entre outros recursos típicos da poesia, produzem certo estranhamento da língua — e dos sentidos — convencionais. Como se você inventasse outra língua ou farreasse com esta nossa, estranhando-a, querendo-a incomum. Buscando, talvez, um “sentido exponencial”, como diz o título da primeira seção. Como este livro se relaciona com os seus anteriores, todos, até então, de poesia?

Acho que este último se relaciona muito com meu anterior de poemas, pois ambos são divididos em seções, parecidas. A perpetuação da espécie (editora Penalux) também tem Infância e gêneros, e nos dois pude trabalhar a questão do hibridismo de gêneros, formatando o meu texto entre a prosa e a poesia. Uma psicanalista do Sul (Porto Alegre), ao ler A perpetuação da espécie, comentou num texto dirigido a mim que ela via vários pequenos romances dentro da condução dos poemas, como se dentro de um subtexto eu falasse ou contasse um tipo de enredo de um homem e sua história de casamento/separação. Já em outros mais antigos há esta brincadeira com o som das palavras, sua grafia, resvalando para polissemia dos sentidos.

4) Há uma experimentação marcante ao longo do Logaritmosentido, com torções e provocações sofisticadas, que exigem do leitor o desejo de vivenciar algo diferente, apreço pela forma e por narrações desconstruídas, que às vezes partem de um ponto desconhecido e nada revelam, sustentando o mistério. Aliás, existe mesmo em alguns dos seus logaritmos essa espécie de problema sem solução, cujo sentido falta ou falha? Ou será que, em vez de sentido, que está mais próximo das sensações e dos sentimentos, deveríamos dizer que quem falta são os significados?

Não há nos contos uma solução para uma investigação sobre a linguagem. Até pela minha dificuldade com coisas fechadas e binárias, tento ir criando status de suspenses e pequenos enfrentamentos linguísticos para dosar forma e conteúdo, mostrando que ao utilizar bem as palavras e seus sentidos, até ocultos, podemos aumentar a rede de interpretações ou signos sobre uma arte literária. Trump e seu trumpete é o olhar semiológico do signo com sons próximos, parecidos, que faz aproximar mundos distintos do jazz ao da política; faz Trump, que é conservador, pois nunca deixo de referencializar ele no conto, até crio um verbete para isso, ser um trompetista de jazz e morar no Rio, na Lapa. Talvez a significação esteja no olhar do leitor que olha para um texto que se move, se pluraliza, busca o outro na sua referência tacanha.

5) Há no livro uma variedade de temas como humor, sonhos, erotismo, política, religião, entre outros. Há também citações mais ou menos explícitas a outros livros, personalidades, produtos culturais. Enquanto lia, voltaram-me os Cronópios, de Julio Cortázar, e o surrealismo de Boris Vian, por exemplo. Daí aquele livro curtinho começou a se desdobrar, como se eu abrisse um origami para conhecer sua estrutura, e assim ele se alongou no tempo e no espaço, também se adensou — como a pedra que afunda no rio, naquele continho “Atire a primeira pedra”, que mais parece um provérbio chinês. Como é possível juntar isso tudo numa obra com somente 82 páginas?

Este olhar quase de editor não tive, risos. Foi acontecendo pelas valises de conteúdo que ia depositando no fundo das páginas. A escrita é um pouco inconsciente, levamos talvez uma ordem de séries, objetos, deslizes, imitações, até porque estes contos foram escritos não para um livro direto e único. Foram traçados por temas e motes no Clube da Leitura de que participo desde 2013, aqui no Rio, e cujo exercício é de ler motes que levamos e escrever sobre o mote escolhido como referência da noite. Depois vem a escrita de até duas páginas de um conto levemente inspirado no mote. Estas narrativas, portanto, foram bailadas neste percurso de 7 anos a maioria delas, dos 18 contos, 14 são do Clube da Leitura.

segunda-feira, 2 de março de 2020

“TESTEMUNHO OCULAR” REFLETE OS ESTÍMULOS DAS IMAGENS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A resenha abaixo foi publicada originalmente pelo escritor Fernando Sousa Andrade no portal Literatura & Fechadura. A primeira edição do Testemunho Ocular se esgotou na editora, mas ainda restam os últimos exemplares comigo. Se tiver interesse, mande e-mail para edualmeida@artefazparte.com e enviarei um para você com o maior prazer.


O eu e o objeto que lhe devolve o olhar. O objeto sorri, já que foi nutrição do olhar do outro. Não vamos aqui discursar sobre o efeito do sujeito. Pois aquele que olha (a sujeição do olhar) também pode virar uma imagem fremida dentro da retina de alguém.

Trocar efeitos de visão, ambos serem matéria concentrada do olho-entorno. Mas aqui situamos um narrador, aquele que conta uma ação sobre algo, e sua imagem toda serrilhada de sinapses, sensações que parecem que dão até arrepios em quem emite.

O que acontece quando procuramos o que não achamos? Não é somente a fuga, a falta de respostas. Um narrador precisa decifrar suas imagens, elas precisam ter receptores que encaixem na sua rede de quebra-cabeças. O que procura? Mas o objeto que procura também é seu desejo, que recebe estímulos de trocentas imagens por raios afora.

Diríamos que há uma poluição de imagens sem seu devido reconhecimento? Estas incitações, diríamos filosóficas, encontrei no livro Testemunho ocular, do escritor Eduardo A. A. Almeida, editora Lamparina Luminosa. São textos cujo arcabouço teórico investigam relações de causa e efeito das sondagens pelo que têm dentro de ações muitas vezes engendradas por enganos, cuja refração enganosa da imagem nos ofusca tal entendimento.

Se a paranoia é um delírio de uma imagem fabricada por uma fuga do real, inventamos narrativas para indexar o real de pura fantasia, assim como o medo de um urubu no conto Rapinagem, pode ter algum trauma oculto sob a ofensa da sua pulsão de morte. É como uma corrida atrás de algo como o pote de arco-íris atrás da montanha. E se este ideário fosse apenas um efeito de contraluz do que tem de estranho, oculto familiar, pela abordagem, aquele mesmo do caminho trilhado pelos arquétipos narrativos, um desejo, às vezes, é apenas seu medo camuflado.

domingo, 18 de agosto de 2019

UM ANO DE TESTEMUNHO OCULAR


Hoje faz um ano que publiquei o Testemunho ocular, livro que me trouxe novos amigos, abriu portas no mercado editorial e me encorajou a oferecer oficinas de escrita, dialogar com outros autores por meio de resenhas críticas e escrever mais. De certo modo, foi o livro que me ofereceu um lugar no universo da literatura.

 
O lançamento foi um momento de muita alegria ao lado de amigos e familiares, além dos outros três autores selecionados comigo no concurso da editora Lamparina Luminosa. Algumas fotos do dia podem ser vistas clicando aqui.

Só tenho a agradecer ao carinho de todos que participaram desse processo, em especial a Christian Piana, Michele Navarro, Ana Rosa Carrara e Lolita Campani Beretta, que trabalharam diretamente na edição e fizeram com que meu livro ficasse ainda mais especial.

Os exemplares continuam à venda no site da editora, basta clicar aqui e encomendar o seu: Testemunho ocular 

Em breve, publicarei aqui no blog uma curiosidade sobre o processo de criação da capa do livro. E em outubro, meu primeiro romance, intitulado Bem diante dos meus olhos, será lançado também numa noite especial. Todos estão convidados. Aguarde as novidades!

terça-feira, 23 de abril de 2019

E-BOOK GRATUITO SÓ ATÉ DOMINGO

Para celebrar o Dia Mundial do Livro, a versão digital da minha primeira publicação está disponível para download gratuito na Amazon até domingo (28 de abril). É só clicar e começar a ler no computador, celular ou Kindle: Por que a Lua brilha

Baixe o seu agora mesmo e divulgue para amigos e inimigos. ;)

Veja o que já se disse sobre o meu livro Por que a Lua brilha:

O conto é uma ficção disfarçada de ensaio científico. Em que o autor investiga a relação entre os seres humanos e os fenômenos luminosos da Lua, com intenção de avaliar as implicações culturais do projeto de Lei que visa apagá-la.

Em Por que a Lua brilha, Eduardo A. A. Almeida inventou uma realidade – não tão alternativa assim – em que os homens exploram a vida de outros seres para o próprio bem.

Apesar do caráter fantástico, o livro possui diversas referências à política e a instituições científicas que legitimaram ou ainda legitimam comportamentos autoritários, opressivos e fascistas.

Com o subterfúgio da forma ensaística, o escritor coloca em questão o poder que a própria linguagem tem de produzir verdades, por mais absurdas que possam parecer. Denuncia também o argumento intelectual científico que influencia o comportamento das pessoas com o pretexto de oferecer informações verídicas ou de formar opiniões incontestáveis.

Sua distopia parece cada vez mais factível de se realizar no mundo atual, em que se banalizam os métodos sórdidos do Neoliberalismo, o terrorismo, os levantes militares, a perseguição e a cegueira religiosas, o racismo, o machismo, o ódio pelo diferente, entre outras violências enraizadas, incorporadas, instituídas e legitimadas.

Trata-se de um livro provocante, que nos faz questionar as nossas próprias maneiras de pensar, fazer e dizer a realidade contemporânea.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

DICA DE LIVRO: EM CONFLITO COM A LEI

“O menino sem pai sem mãe sem tio sem tia sem irmão sem irmã com polícia com promotor com juiz” (trecho do livro Em conflito com a lei).

Li esse livro no final de 2017 e o reli em 2018, algo que faço raramente. Trata-se de um projeto literário difícil de definir, embora o leitor desavisado suponha ser apenas um apanhado de contos curtos sobre jovens infratores. Lucas Verzola os criou com base em autos processuais, conversas de oficina e textos de adolescentes em conflito com a lei. “Ainda que verossímeis, as narrativas fazem parte do universo da ficção”, adverte.

Os textos têm quase sempre um parágrafo único e apresentam cenas flagrantes, por assim dizer – um conflito, uma situação derradeira, uma ação breve capaz de marcar para sempre a vida de um personagem. Alguns são violentos, outros são delicados; a maioria é violenta e delicada ao mesmo tempo, o que põe abaixo idealizações sobre a criminalidade, a pobreza e o sistema socioeducativo, além de permitir ao leitor uma aproximação com esse universo. Tudo pela via da humanidade, que não é boa nem má; é apenas complexa demais para ser reduzida a uma classificação, um preconceito ou um clichê do gênero “mocinhos x bandidos”.

O autor usa recursos de apropriação, diálogos, formatos pouco convencionais como listas e documentos, entre outros. Mais do que esse ou aquele conto, é a consistência do projeto que sobressai. A edição cuidadosa da Reformatório contribui.

O livro nos ajuda a compreender as contradições, as linhas de força e os paradoxos do que por vezes simplesmente condenamos como “violência”. Também ajuda a perceber que os conflitos com a lei não são “problema do outro”, a serem resolvidos pelo endurecimento das regras e das punições. Trata-se de uma falta grave de todos nós.

Em conflito com a lei
Lucas Verzola
(Reformatório, 2016, 136 páginas)

Obs.: Este destaque do que li em 2018 foi escrito para compor as dicas de leitura do coletivo Discórdia, que você encontra aqui: Medium do Discórdia

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

ENTREVISTA: COMO EU ESCREVO

José Nunes tem um projeto incrível chamado Como Eu Escrevo, que apresenta o processo criativo de escritores, acadêmicos e juristas (Juristas? José cursa Doutorado em Direito na UnB. Ah!).

O arquivo está à disposição e já tem centenas de entrevistas. O propósito é oferecer inspiração às pessoas com dificuldade para escrever. Aplausos para José Nunes. Compartilhar ideias é mesmo uma excelente maneira de enfrentar os desafios da escrita.

Tive o prazer de responder às perguntas do projeto. A entrevista abaixo foi publicada em comoeuescrevo.com/eduardo-a-a-almeida


Se você ainda não leu meu livro mais recente, encomende seu exemplar aqui: Testemunho Ocular. Ou entre em contato comigo e receba o livro com dedicatória: edualmeida@artefazparte.com

 
1. Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Quem me desperta é minha filha de 8 meses, quase sempre entre 6h e 6h30. Às vezes mais cedo. A essa hora, minha esposa já saiu para trabalhar. Lavo a louça da noite anterior, troco fralda, dou mamadeira e tomo café com a nenê no colo, tentando fazendo com que ela pare de puxar a toalha da mesa e jogar tudo no chão. Brincamos até às 9h, quando a deixo no berçário. Só então a escrita tem início.

2. Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

Sempre escrevi melhor de manhã, quando a mente ainda está fresca. É meu período criativo favorito. Também gosto de ler e estudar nesse horário. Sinto que, depois do almoço, a cabeça vai dormir e deixa o restante corpo a fazer trabalhos mais mecânicos como pagar contas, responder emails, revisar textos. À noite estou exausto, raras vezes consigo botar uma boa frase em pé.

Não tenho um ritual propriamente dito, mas gosto de abrir espaço na mesa de trabalho, que quase sempre está atulhada de livros e anotações, esqueço o celular em algum canto da casa e tento não ligar o computador. Gosto de silêncio e caneta-tinteiro. São poucas as ocasiões em que consigo realizar isso tudo porque sempre existe alguma tarefa banal a convocar minha atenção e a abalar o mundinho ideal. Mesmo longe o telefone toca. Chega um email urgente. Tenho que resolver qualquer coisa na rua. Além disso, estão subindo um prédio atrás do outro em meu bairro, e já são anos que passo as manhãs a ouvir serras elétricas, martelos, bate-estacas, entre outros prenúncios do caos.

3. Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

Escrevo quando é possível e quase sempre incentivado pelo prazo que se esgota. São os prazos que ditam as prioridades. Preciso entregar a coluna do jornal, depois tenho que ler o livro para resenhar, não posso esquecer de revisar o artigo acadêmico, e então, ou antes, ou assim que puder, preciso desenvolver os itens deste e daquele projeto, preparar a aula, enxugar a palestra, enviar o orçamento.

A literatura sobrevive em meio a isso tudo porque é mais forte, atravessa as ordenações, me arranca da cadeira ou da cama, nas madrugadas, e me obriga a desenhar palavras no papel. Minha meta diária é terminar alguma coisa, seja o que for, contanto que termine e abra espaço para algo mais. Não é comum eu escrever à toa. Mas quando tenho um projeto na cabeça, ele volta e meia me requer, sugere ideias, atira a agenda longe para ocupar o tempo possível e, com sorte, o impossível também.

4. Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

Costumo acumular ideias, interesses, imagens. Então sento e escrevo de uma só vez. Acontece de nascer um texto que escapou de todas as anotações, como se tivesse se contorcido por entre elas. Outras vezes o texto é uma costura de notas que, a princípio, não tinham nada em comum. Às vezes a pesquisa leva anos, outras vezes o texto aparece sem qualquer pesquisa que esteja diretamente relacionada com ele. Mas é claro que toda obra se realiza a partir dos materiais reunidos ao longo da vida, tivessem ou não um propósito específico. Isso varia conforme o tipo de texto. Ensaios costumam exigir muitas notas, leituras, diálogos. Textos ficcionais, por outro lado, saem à revelia do planejamento. Não é difícil escrever; difícil é arranjar as condições para que a escrita se realize.

5. Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

A escrita só destrava quando escrevo. Antes de começar, o texto parece impossível. Entretanto uma palavra solicita outra, um sentido sugere outro, e assim o processo anda. Às vezes desanda e o texto nasce torto, requer muita plástica ou a lixeira, a depender de quão grave é seu estado. Não costumo forçar demais a barra. Se um texto não quer nascer, gesto um pouco mais, escrevo outro para compensar. Quando vier, será saudável.

As expectativas, por sua vez, podem ser minhas ou dos outros. Dou atenção às expectativas em textos de não ficção, cuja ideia a ser transmitida deve ser mais precisa. No caso de textos artísticos, a expectativa é tanto uma ilusão quanto uma violência. Ilusão porque não se pode prever a reação do leitor. Violência porque, quando se acredita em tal previsão, o escritor está determinando um perfil, um público-alvo, um preconceito. O leitor não deve ser reduzido nem menosprezado assim. Textos que preveem seus receptores são publicitários.

Um projeto precisa se manter vivo durante sua realização, tenha uma página ou cinco mil. Sua longevidade não tem a ver com longitude. Se o projeto estiver vivo, consigo trabalhar nele quanto tempo for preciso. Se morreu, escrever uma só linha será doloroso e, no fim das contas, uma falácia. O melhor teste de vitalidade ainda é a gaveta: pego o texto inconcluso e o guardo. Se volta e meia a gaveta se mexer, gritar, liberar algum feromônio, é meu dever retomá-lo.

6. Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Uma coluna de jornal, por exemplo, é reescrita por volta de três vezes antes de ser publicada. Adoro mostrar rascunhos ou ao menos contar a ideia a alguém para saber sua opinião, embora nem sempre consiga, por razões variadas.

Textos acadêmicos são reescritos algumas vezes também, mas nunca estão de fato finalizados porque as ideias vão se transformando, novas associações são tecidas, novas leituras levam a diferentes concepções etc.

Contos, romances, poesias são reescritos muitas vezes, lidos por amigos, compartilhados aos pedaços. Meu livro Testemunho Ocular foi lido por uma dezena de cúmplices antes de ser publicado, em especial os escritores do coletivo Discórdia, do qual faço parte. Eles comentaram os textos, sugeriram mudanças, compartilharam impressões de leitura. Alguns contos do livro vinham sendo reescritos há anos, outros eram recentes.

Meu primeiro romance, que deve ser publicado em 2019, teve sua versão inicial escrita dez anos atrás, e desde então foi reescrito uma porção de vezes. Já foi lido por vários amigos, algumas versões foram inclusive premiadas, mas só agora estou prosseguindo com a publicação.

A vontade de publicar logo e me livrar do texto é imensa. Ainda bem que outras tarefas me ajudam a controlá-la. Enquanto isso o livro fica se rebelando dentro da gaveta.

7. Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

Sempre gostei de escrever as primeiras versões à mão e só depois digitá-las. O manuscrito é mais lento, e esse tempo colabora com o pensamento. Sem contar que é muito mais fácil desenhar setas no papel, rabiscar, tracejar etc. É uma artesania que depois ganha outros contornos quando passa ao computador. Essa fase seguinte privilegia o ritmo, a técnica, a revisão.

Neste ano de 2018 estou integrando o Núcleo de Dramaturgia do SESI - British Council. Entrei ali com a proposta de experimentar modos diferentes de fazer. Tenho escrito as peças diretamente no computador. É um processo estranho, com prós e contras que ainda estou avaliando. Tem sido uma boa oportunidade para tentar e errar.

8. De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

As ideias vêm do mundo. Elas ganham forma escrita e recaem no mundo. É ingenuidade pensar que têm origem na “profundidade do ser”, no “interior obscuro”, nesses lugares de teor expressionista. O mundo nos atravessa e, com sorte, conseguimos sustentar uma ideia ou outra, quase como uma peneira a sustentar uma pedra maior, que não poderia atravessá-la sem provocar um rombo.

Os hábitos que cultivo são todos relacionados a manter essa abertura na relação com o outro. Leio sobre assuntos variados, interesso-me pelas demais artes, prefiro caminhar entre as pessoas a dirigir minha bolha espacial. Gosto de ouvir histórias.

9. O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

Com muito esforço fui desconstruindo algumas idealizações e apurando o senso crítico em relação às criações. Aprendi técnicas de escrever, revisar e apreciar. Mas principalmente quis conhecer melhor as potências estéticas e políticas das artes, suas relações com as pessoas, as organizações sociais, os regimes de ver, pensar e dizer. Ainda há tanto para aprender!

Se pudesse voltar àqueles escritos antigos, eu diria para não deixarem a satisfação durar tempo demais. É vital que um texto satisfaça seu autor porque ninguém consegue sobreviver em constante frustração. Mas a satisfação precisa ruir para assinalar um movimento. Não se trata de evolução, mas de pulsação; não se trata de fazer melhor numa escala qualitativa trazida de fora, mas de fazer de um jeito que renove o próprio fôlego, os pensamentos, os interesses. Se um texto antigo ainda me satisfaz, alguma coisa em mim não saiu do lugar desde que o escrevi, e isso é perigoso.

10. Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Difícil identificar quais projetos ainda quero fazer, mas de alguma maneira eles já foram iniciados. A pesquisa e a criação precedem o projeto, que vem apenas dar forma a elas.

Nos próximos anos pretendo lançar um estudo sobre a Estruturação do Self, trabalho derradeiro da artista Lygia Clark, que comecei a pesquisar durante o mestrado. É uma proposta instigante que inventou um lugar entre a arte e a clínica, e que infelizmente é pouco conhecida. Passados vários anos das minhas primeiras investigações, sua obra ainda pulsa.

Eu gostaria de ler um livro que provocasse em mim um corte radical, como os cortes que Lucio Fontana fazia em suas telas. Será que ainda não existe? Deve estar por aí, eu é que preciso encontrá-lo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

LEIA UM CONTO DO MEU NOVO LIVRO

Meu conto “Bons tempos, aqueles” foi publicado na revista Originais Reprovados #12. É uma pequena amostra do que você encontra no livro Testemunho Ocular, recém-lançado pela editora Lamparina Luminosa.


Minha avó e três dos seus irmãos juram de pés juntos que era um índio, ele se perdera da tribo e foi dar na cidade. Seus outros cinco irmãos, menos preconceituosos, falam num negrinho, só não têm certeza da origem. Meus pais sorriem da anedota. Todos concordam apenas neste ponto: a árvore genealógica da família teve um ramo enxertado, e daquele tio-avô, de que tanto falam e pouco sabem, resta somente uma fotografia embaçada, sem cores; um homem enrugado, com lábios grossos e chapéu de linho, que podia ser tanto índio quanto negro. Restou também um nome, Jacó Bento de Lima, que não devia ser negro nem índio, mas era.

Falam da caridade do bisavô, que o adotara de imediato, ainda muito menino. Quantos anos? Ninguém sabe.

Calam-se sobre a morte trágica da bisavó, afogada no poço da fazenda.

Pensam na maldição que contaminou aquela água e a todos que beberam dela durante gerações. Sentem um arrepio.

Que fazenda era essa?

Virou cidade, não existe mais.

Contam, orgulhosos, que o bisavô apareceu certo dia com esse menino meio negro ou meio índio, botou no meio dos filhos, batizou com seu sobrenome. Calam sobre o fato de que, daquele dia em diante, a bisavó viveu amuada.

Onde foi parar esse homem?

A família ignora minhas impertinências.

Teve filhos? Onde estão meus primos índios ou meus primos negros?

Minha avó e seus irmãos se entreolham, meus pais pensam um instante. Calam-se.

Minha avó diz que, quando geava na fazenda, todos os irmãos corriam a acender tochas para proteger a plantação. Uma correria danada, eles se lembram muito bem.

Gostou? Compre o livro aqui: www.lamparinaluminosa.com

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

LER PARA CRER

Foto por Lamparina Luminosa

Entre as diversas sensações que a literatura pode provocar, uma das mais promissoras é o estranhamento. Digo promissora no sentido da experiência estética que desloca o leitor do seu lugar-comum, de maneira a terminar a leitura diferente de como a iniciou. Por vezes confundimos o estranho com o grotesco, o exagerado ou o explícito. Não é a isso que me refiro, mas ao estranhamento tão sutil que chega a ser difícil identificar. Como uma pecinha que não se encaixa no conjunto e gera um ruído. Apenas a escuta atenta é capaz de distingui-lo. No entanto, uma vez percebido, o ruído se transforma numa espécie de “punctum”, para usar o conceito que Roland Barthes criou ao analisar fotografias. Com isso quero dizer que aquele pormenor quase imperceptível, assim que notado, domina a cena, sendo impossível desconsiderá-lo. Ele escapa das nossas convicções e expectativas, incitando-nos a perguntar: por quê? Será isso mesmo? Como é possível?

Foto por Lamparina Luminosa

Tentei explorar essa sensação nos contos do livro Testemunho Ocular, publicado algumas semanas atrás. Ali, o estranhamento está quase sempre associado ao invisível, ao implícito, ao “assassinato do Real”, como dizia Jean Baudrillard. Minha aposta é produzir tensionamentos entre territórios bem delimitados, conhecidos e habitados. De maneira que o leitor encontre nesse atrito a possibilidade de criar junto com o livro, imaginando justamente as imagens que não estão dadas – elas são, no máximo, sugeridas.

É verdade que não antecipei a proposta. Ela foi surgindo na medida em que eu escrevia, e o resultado é um livro de literatura, não uma tese. Durante o processo de criação, quando percebi um fio condutor a atravessar os textos, reuni a coletânea sob o título de Testemunho Ocular, aludindo à condição da imagem como legitimadora de verdades.

Temos ao nosso redor uma lógica perigosa ganhando força política, pautada na certeza e na razão absolutas, opressoras, fascistas na medida em que denegam formas menores de existência. Minha resposta poética para isso é celebrar a ambiguidade, o paradoxo, a obscuridade.

Capa do livro
Testemunho Ocular venceu o concurso da editora Lamparina Luminosa em 2017, e o processo de edição durou cerca de um ano. A definição da capa foi especialmente trabalhosa. Afinal, como é possível escolher uma imagem para um livro que tenta colocar em questão a nossa dependência da visualidade? Nestes tempos em que somos filmados, produzidos e compartilhados a todo instante, qual imagem contrariaria a sua própria vocação de evidenciar, esclarecer e testemunhar?

Eu e Christian Piana, editor responsável pelo projeto gráfico, consideramos diversas alternativas, até enfim concordarmos que os urubus voando em círculos resolveriam a questão sem de fato solucioná-la por completo. Era fundamental que a cena não fosse explícita. As aves têm relação com um dos contos da coletânea, chamado Rapinagem, e à primeira vista parecem lindos passarinhos voando livres no céu. Lá de cima são capazes de testemunhar extermínios das mais variadas ordens, dos quais somos cúmplices.

O projeto editorial condiz com o conceito do livro, que é espelhado desde a epígrafe do início à que o encerra. Há também dois poemas e vinte textos em prosa. No centro se encontra um trecho de páginas pretas com letras em branco, que chamo carinhosamente de “ponto cego”, repleto de provocações, expressões corriqueiras revisitadas e jogos de palavras que tentam escapar dos seus sentidos imediatos.

Foto por Lamparina Luminosa

Se existe um lugar de sobrevivência da literatura neste oceano de esclarecimento em que estamos naufragados, atormentado por ondas de verborragia, realismos e certezas moralizantes, talvez seja a poética do incerto, do não dito, do desvio, do obscuro e do estranhamento que o contato com o diferente pode provocar. Talvez possamos abrir aí uma brecha por onde a ameaça escoe e onde apareçam formas de vida mais contemporâneas.

Gostou? Compre seu exemplar aqui: www.lamparinaluminosa.com

quinta-feira, 12 de julho de 2018

MEU NOVO LIVRO ESTÁ CHEGANDO


Está confirmado o lançamento do meu novo livro de contos em São Paulo!
Será 18 de agosto na Tapera Taperá, a partir das 14h.
A livraria fica na avenida São Luís, 187, loja 29, pertinho do metrô República.

Junto comigo estarão outros três vencedores do concurso da editora Lamparina Luminosa (categorias poesia, HQ e autor regional). Os livros estão lindos. Então venham, aguardamos vocês!

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"ESQUENTA" PARA O LANÇAMENTO DO MEU PRÓXIMO LIVRO

Meu conto Justa Medida compõe a 2ª edição especial da revista gueto | direitos humanos e minorias.

Além do orgulho de participar da coletânea ao lado de muita gente talentosa, aproveito para dizer que o conto serve de "esquenta" para o lançamento do meu livro Testemunho Ocular, pela editora Lamparina Luminosa. Mais notícias em breve! ;)

Baixe a revista em PDF, ePub ou Mobi aqui: revista gueto

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

POR QUE A LUA BRILHA: IMPRESSÕES DE LEITURA

Quando escritores que admiro fazem comentários elogiosos sobre meu livro, deixo a modéstia de lado e compartilho a alegria com vocês. Obrigado pelas palavras, pessoal.

Terminei aqui a leitura deste "mimo" de livro "Por que a lua brilha" , do Eduardo A. A. Almeida. Belíssima edição artesanal (numerada - costurada à mão), que traz, numa linguagem apurada, metáforas análogas à nossa vida, mostrando imposições subjetivas que nos influenciam como verdades sociais, em referencias à política, aos comportamentos autoritários e opressivos impostos sem que percebamos. Indico a leitura. É belo, original e reflexivo, portanto, relevante.

Marcelo Nocelli (editora Reformatório)


"Por que a lua brilha" é um ensaio ficcional excelente. Me diverti muito lendo essa deliciosa reflexão sobre as estrelas. É um texto irônico e sensível, até comovente, em certas passagens (amei a menina das lágrimas de cristal).
Este ensaio ficcional aproxima você de outros autores interessantes, que curtem o gênero. Por exemplo, o Italo Calvino de "As cidade invisíveis".
E o projeto gráfico também ficou muito gracioso. O livrinho é um mimo.
Você acertou na mosca, ao recusar o formato do conto e abraçar o da reflexão criativa. Quem nos dera as teses e dissertações da Academia fossem assim: inventivas.

Nelson de Oliveira (escritor, ilustrador e professor)



Gostou? A versão impressa do livro está esgotada, mas você pode clicar aqui e adquirir o ebook na Amazon

segunda-feira, 22 de maio de 2017

E A LUA BRILHOU


Apesar da chuva, do frio e do Temer, houve lançamento do meu livro, houve sarau do coletivo literário Discórdia e houve a publicação do zine "Isso não é literatura". Foi uma deliciosa tarde de domingo no Creuza Cultural, em São Paulo. E teve comida boa, música e companhia de muita gente querida.


 
Compartilho agora algumas fotos e também alguns recados.
 
A tiragem do meu livro Por que a Lua brilha está praticamente esgotada. Se você ainda não comprou, encomende já no site da editora Cultura e Barbárie (atualização: desculpe, a tiragem se esgotou em agosto). Se preferir, adquira a versão para Kindle e leia no computador, eReader ou smartphone.

Conheça e acompanhe o trabalho do coletivo Discórdia, do que faço parte, curtindo a página do Facebook e lendo as nossas publicações no Medium.

Agradeço todos que estiveram presente e também quem gostaria de ter estado, mas não pôde, e mesmo assim mandou energias positivas.

Ainda este ano teremos a publicação do meu Testemunho Ocular, ou seja, mais um livro para a gente celebrar juntos!

 




Zine "Isso não é literatura", do coletivo Discórdia, também lançado na ocasião
  



O coletivo Discórdia