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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Eu continuo a escutar Norah Jones. E continuo a cantar Norah Jones. As músicas permanecem em repeat perpetuum em minha cabeça. Mas é um pop disfarçado de jazz, você vai dizer, melancólico e inocente. Também é. Além de pop jazz, é uma porção de outras coisas.

Eu gosto cada vez mais de Norah Jones. A cada disco, descubro uma nova artista. Só que o disco que continua a tocar, nesse momento, é o seu primeiro. Come away with me, vou explicar por quê. Porque gosto tanto dele, apesar dos pesares que a crítica ácida insiste em corroer. Há um lirismo escondido atrás daquela banalidade toda. Um lirismo que, inclusive, ganha forças com a tal banalidade.

Em Feelin’ the same way, letra assinada pelo baixista Lee Alexander, Norah canta: o sol acaba de escorregar sua mensagem por debaixo da porta, e eu não posso me esconder, enterrada em meus lençóis. Eu já li aquelas palavras antes, então agora sei que o tempo chegou novamente para mim. E eu me sinto do mesmo jeito, de novo, eu canto os mesmos versos, de novo, não importa o quanto eu finja que não.

Acho lindo. Se fosse simplesmente banal, ela poderia dizer “vejo o sol na fresta, sob a porta, e eu não posso ficar na cama para sempre”. Mas o lirismo dá as caras, para nossa sorte, e o sol não aparece, ele não se deixa ver, apenas escorrega um bilhete. Um bilhete que ela já leu muitas outras vezes, e que insiste: o tempo está correndo, o novo dia veio lhe buscar, ávido por novidades; não adianta se enterrar, não adianta morrer, é preciso vencer. Dia após dia, é preciso vencer a mesmice de ser sempre você.

Na música que dá nome ao disco, essa sim escrita por Norah, para você não dizer que o mérito é alheio, ela canta o amor do jeito mais banal possível. Porém, ao invés do escorraçado “eu amo você”, que o nosso sertanejo pop esfolou ao limite, até que ele não significasse mais nada, até que não passasse de mera rima, Norah diz: venha comigo, num ônibus; venha para onde eles não podem nos tentar com as suas mentiras. Eu quero acordar com a chuva caindo num telhado de lata, enquanto estou a salvo em seus braços.

Cenas banais, fugazes, porém belíssimas. Belas justamente porque banais.

É possível ser pop, jazz e lírico, tudo ao mesmo tempo? É possível falar a mesma coisa, mas diferente? É possível retirar do banal, da rotina, do dia a dia, algo estupendo? Fazer complexo das coisas simples? Norah acredita que sim. Então eu a deixo tocar.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Acredite: arte é o que torna a vida interessante e possível de ser vivida com humanidade.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Não quero uma vida com raros momentos de prazer, muito pelo contrário; busco a cada momento uma vida de prazeres raros.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

ANTES E DEPOIS


Ok, vou fazer só mais um comentário sobre o fechamento polêmico do Cine Belas Artes:
é um dos poucos casos em que eu prefiro a foto com a legenda "antes".

domingo, 24 de abril de 2011

A condição humana (1935), de René Magritte

Tenho refletido muito sobre sonho e realidade, é o que me interessa no momento. Estou cada vez mais convicto de que ambos são a mesma coisa.

A realidade nada mais é do que um sonho. O sonho de um indivíduo em um momento determinado. Uma ilusão, um ideal.

O sonho, por sua vez, é também uma realidade. "Outra, nova, paralela, fictícia, interior", chame-o como quiser. Ainda assim, ele será real.

sábado, 23 de abril de 2011

"A previsão do tempo só vale para o momento em que é anunciada."
A frase surgiu pela manhã, enquanto eu olhava pela janela durante o banho e tentava descobrir se o dia seria quente ou frio. Quase ouvi a mulher do tempo dizer que faria frio, mas ela poderia voltar em quinze minutos e dizer o contrário. Nunca se sabe.
Escrevi a frase no vapor do box. Ela sumiu logo depois.

Vesti meu velho robe azul. Decidi que só escolheria a roupa depois do café.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

PARA CAMINHAR DE OLHOS FECHADOS*

Tenho ouvido muito esse disco [Chopin: The Nocturnes, de Nelson Freire]. Aliás, desde que o comprei, é praticamente tudo o que tenho ouvido. Ele acalma e ajuda a controlar os nervos – para explicar de maneira racional –, e depois da ansiedade que vivi nos últimos dois meses, em diversos momentos precisei dele para manter a cabeça no lugar. Mas não é só isso, claro. Sempre admirei os Noturnos de Chopin. Acho incrível como um músico e seu piano conseguem nos transportar pelo mundo dos sonhos, e então nos trazer de volta para a noite clara, imprimindo sensações de bailes agitados e também de solidão, desde a inércia contemplativa à ludicidade total. Ouvir os Noturnos é como caminhar livremente pela inconsciência, ou sonhar acordado num outro século, num outro continente, dentro da própria imaginação. Foram minhas melhores fugas da realidade, com certeza, e não há por que me envergonhar delas se acabo sempre por retornar mais forte, mais seguro de mim mesmo, pronto para enfrentar a sólida natureza do dia que vai se impor. Enfim, não basta um músico e um piano para provocar tudo isso, claro, assim como não é possível explicar racionalmente o que Chopin, pelas mãos de Nelson Freire, me possibilitou sentir. Só posso dizer que devo muito a ele. Séculos depois, continuamos todos a dever. Espero sinceramente que, de uma maneira ou de outra, ele também lhe possibilite uma experiência especialmente bela. Já que a explicação racional não basta, é melhor ligar o som, fechar os olhos e mergulhar por si mesmo nessa nova realidade.
Um forte abraço,

*Carta aberta ao amigo João A. Frayze-Pereira.

segunda-feira, 28 de março de 2011

domingo, 6 de março de 2011

MENSAGEM NA GARRAFA


Farol e casas em Portland Head, Cape Elizabeth, Maine (1927), de Edward Hopper

"Força de atração do mar. Aspiração pelo mar. Pessoas aparentadas ao mar. Ligadas a ele. Dependentes do mar. Devem retornar a ele."
A dama do mar (1888), de Henrik Ibsen

Meus encontros com o mar, hoje em dia, são muito diferentes do que eram no passado, quando eu era criança e tudo o que desejava era brincar o máximo possível com meus primos entre as infinitas possibilidades da areia e o imprevisível estímulo das ondas. Agora, recorro ao mar com outros propósitos. Não quero permanecer na água até as pontas dos dedos enrugarem e o maxilar tiritar de frio contra a minha vontade. O mar cresceu comigo e, de parceiro de algazarra, tornou-se meu terapeuta particular. Procuro seu auxílio em tempos difíceis; vou ao seu encontro para desaguar sentimentos e ele me ouve com profunda sabedoria. Mesmo que seu humor varie, o mar está sempre disposto a me ajudar.

Prefiro-o em fins de semana frios, cinzentos, quando sei que estaremos a sós. O mar é mais bonito no verão, porém é mais poético no inverno. Ofereço-lhe então minhas angústias e, entre idas e vindas, ele me recompensa com a cura, ainda que esta seja tão efêmera quanto a forma de suas águas. Quero esquecer este instante, afastar os pensamentos sombrios, organizar a razão, as memórias e os sonhos. Ao navegar, impreciso, o mar me coloca em contato comigo mesmo. Seu balanço ininterrupto faz as obrigações e a pressão momentâneas perderem o sentido – percebo o passado, o presente e o futuro acontecerem consecutivamente, indiferentes à minha participação. Sentado na areia, com a brisa a revolver meus cabelos, sentindo o cheiro úmido de sal impregnar meu corpo, estabeleço uma ligação com a eternidade.

Um amigo certa vez me contou que o barulho das ondas, quando se caminha sozinho pela orla, reverbera em outro estado de consciência. Suas vibrações se assemelham às da meditação zen budista. Isso só fez sentido para mim anos depois, quanto pratiquei um pouco de ioga e pude verificar que sim, é verdade, o caminho do nirvana passa pelo mar. A paz interior se encontra debaixo de camadas e camadas de água, repousando como um tesouro há muito naufragado. Para chegar até ela, é necessário vestir um escafandro e mergulhar fundo no inconsciente; vencer as correntes, revelando assim os segredos da psique humana. Ao abrir a arca, veja só que surpresa, eu descubro a mim mesmo, essa revelação inconcebível do ser.

Muito me admira a insistência do mar, a perseverança que não o deixa desistir de subir à praia, de avançar os limites da natureza, de perturbar o equilíbrio universal. Milhões de anos comprovaram que a vitória é impossível, só que o mar não desistirá. A beleza incorruptível da sua tentativa supera em muito o lampejo de qualquer sucesso. O mar age em prol de um ideal que, como todo ideal verdadeiro, jamais será alcançado. Respeito, justiça, moral em primeiro lugar. Essa atitude revela a integridade de seu caráter. O mar não é volúvel como o ar; é mais concreto do que a rocha, que sempre acaba por ceder às suas investidas.

Atraco finalmente em terra firme. A sessão acabou, é hora de voltar para casa. Sacudo a calça, tento deixar a areia onde a encontrei, viro as costas e caminho. Mas o mar não me larga, não aceita rejeição. Ninguém o abandona depois de conhecê-lo. O mar caminhará comigo, mesmo sem sair do lugar.

As memórias persistem, as angústias vêm à tona, os medos saem da toca. Tudo volta ao normal. A vida acontece agora, numa realidade que não posso me dar ao luxo de ignorar. Nasci condenado a permanecer nesse plano de consciência e, conhecendo as rotas de fuga, acho que o melhor mesmo é enfrentá-lo.

Só que o mar transforma. Sou prova incontestável disso. Carrego-o comigo para onde vou e, mesmo assim, quando a lembrança não basta, quando a saudade aperta, corro ao seu encontro. Sei onde encontrá-lo. Sei o que estará fazendo, sei que posso incomodá-lo a qualquer hora sem incomodar de verdade. Impassível. Meu gigantesco exemplo. Eu respeito o mar. Acima de tudo, eu o respeito. Pelo que fui, pelo que sou e pelo que serei. O mar estará sempre lá. Ele é minha certeza de completude. Permanência. Sobrevida.

quarta-feira, 2 de março de 2011



A coletânea de tiras dos PIRATAS DO TIETÊ que eu estava lendo me fez pensar na atual situação do LAERTE. Você já teve ter ouvido alguma coisa sobre seu CROSS-DRESSING, essa mania de se vestir de mulher que ele chama de 'pesquisa comportamental' – ou qualquer coisa assim. Então, toda vez que aparece uma nota na mídia, falam da saia, do corte de cabelo, das unhas pintadas, etc., mas ninguém fala da obra, do grande artista que ele é e da importância de seus cartuns. Só que foi ele mesmo que provocou essa situação. Sei lá, não entendo. Prefiro continuar a ler meus Piratas e afogar a indignação numa garrafa de rum.

No programa Provocações, da TV Cultura, você vê o Laerte com seus próprios olhos e ouve com os próprios ouvidos: Provocações

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O QUE ACONTECE NA LÍBIA TAMBÉM PODERIA ACONTECER AQUI?

O general dá ordens aos pilotos da força aérea:

– César, bombardeie o bairro de Santana.
– Mas, senhor, eu moro ali, senhor.
– Tudo bem. Então, bombardeie Pinheiros. Você, Luis, você bombardeia Santana.
– Senhor, sim senhor.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Errar é humano.
Ter tempo para corrigir é privilégio para poucos.
Temos um ano pela frente.
365 chances para ser feliz.
Será que vai dar?

FELIZ 2011

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

LEMBRANÇA DE OLINDA

Minha irmã esteve em Olinda e me trouxe de presente este desenho, assinado por Souza, um artista local.

Ele me lembra de quando eu era criança e tinha paciência para fazer desenhos assim, com bico de pena e nanquim, tracinho por tracinho. Naquela época, os adultos se aproximavam e perguntavam: como você tem paciência para fazer isso? É admirável! E eu pensava: ué, como é que você não tem?


(clique para ampliar)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

IT'S CHRISTMAS TIME!



Era o programa favorito do país. Depois que descobriram a verdadeira vocação do Papai Noel, seu índice de celebridade bateu no teto e ele foi parar na TV. Era o apresentador mais simpático da telinha e... dava presentes! O IBOPE, das 14h às 23h de domingo, era exclusividade sua. Bons tempos. Eu adorava o quadro "Renas da Fortuna", embora os mais populares fossem a "Porta do Pólo Norte" e as "Cartas ao Vento". Meu sonho era estar naquela plateia, na caravana da minha cidade, para sorrir e cantar com o bom velhinho. Lá, lá, lalá. Lá, lá, lalá. Era o sonho de muita gente, embora nem mesmo o Papai Noel pudesse realizar todos. Então, um dia, descobriram a farsa. Papai Noel tinha outra identidade, era um inescrupuloso homem de negócios, escondido sob a barba, a roupa vermelha e o microfone de lapela. Foi quando deixei de acreditar nele.

sábado, 2 de outubro de 2010

FELIZ ANIVERSÁRIO, MASP

Estive lendo a linha do tempo do MASP, que fizeram para comemorar os 63 anos do museu – sim, é hoje! –, e descobri a foto abaixo. Foi tirada em 1950, durante exposição de Le Corbusier, e achei tão singela que precisava compartilhar.

Fica aqui também minha homenagem a esse que, apesar das crises, continua a ser um dos museus mais importantes do país.

Também é um dos mais importantes para mim. Parabéns!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

FREUD ESPIRRA

Um homem conversa com o psicanalista:
– Sabe, sou louco por símbolos, metáforas e mistérios.
– Sei.
– Só que ninguém me entende.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

AS PEQUENAS COISAS DA VIDA

Encontro muitas pessoas curiosas nas aulas de arco e flecha. Até porque quem pratica arco e flecha no Brasil é índio ou, no mínimo, diferente. E o diferente é sempre curioso.

Por exemplo, descobri ontem que um dos colegas tem o braço torto porque, quando criança, ele o quebrou. Depois, devido a uma calcificação errada, o braço foi quebrado mais nove vezes, exatamente o número de tombos que o menino colecionou. O resultado é que a articulação do seu cotovelo emperrou, o bíceps atrofiou e, para compensar, o corpo desenvolveu uma estrutura diferente. A clavícula direita, por exemplo, ficou grossa, e os músculos das costas cresceram mais do que o normal. É por isso que ele consegue puxar a corda do arco.

Mas não era bem disso que eu queria falar. Acontece que fiquei pensando naquela história do anão sequestrado e, coincidentemente, um colega arqueiro – obstetra nas horas vagas – começou a falar do parto de uma anã. Disse que ocorreu um recentemente no hospital em que trabalha, que isso é raríssimo, talvez até mais raro que enterro de anão, e que o pai também é anão e que, mesmo assim, a criança pode nascer normal. Tem alguma coisa a ver com herança genética e cromossomo modificado. Perguntei se essa criança, especificamente, nasceu anã. Ele disse que não dava para saber. A criança ainda era muito pequena.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

FICÇÕES


A traição das imagens (1928-9), de René Magritte
(tradução do francês: "Isso não é um cachimbo.")

Estava almoçando com mais nove colegas do trabalho quando alguém começou a contar o caso de um amigo do amigo do cunhado que, de tão bêbado e drogado que estava, confundiu um anão com um gnomo, colocou-o debaixo do braço e o levou para casa. Eles estavam num ponto de ônibus quando aconteceu. Aparentemente, o anão está processando o raptor até hoje.

Todos rimos por bastante tempo. De repente, um colega me olhou com cara de quem achava tudo aquilo muito suspeito. Como assim? O cara tomou o ônibus com um anão se debatendo e gritando debaixo do braço e ninguém fez nada?

"É tudo ficção", respondi. "O importante é ser divertido".

Às vezes, eu queria que as pessoas não fossem tão racionais.
Às vezes, eu queria que tudo na vida fosse fição.
Às vezes, tenho certeza de que tudo é.
Em certo grau.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Trata-se apenas de um teste.
Sempre um teste.
A etapa oficial é na verdade uma fachada para a gente se mexer.