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segunda-feira, 26 de julho de 2010

FILHOS DO BRASIL, NOTAS RÁPIDAS



• Musical criado e dirigido por Oswaldo Montenegro
• Não possui narrativa linear. Parece mais um apanhado de cenas com um tema em comum – o perfil do brasileiro
• É uma tentativa de compreender a essência do brasileiro, esse pressuposto filho da nação
• Encontrar uma única definição não é um reducionismo perigoso?
• É difícil conhecer os filhos se não sabemos nem quem é o Brasil
• Os esteriótipos do nordestino, do político corrupto, da loira burra, do povo sofrido, do mineirinho da terra, do homem do morro, do hip hop, entre outros, rendem uma leitura ingênua, patética e banal
• O trabalho dos atores e músicos é muito competente
• Música e dramatização se complementam bem
• Em muitos momentos a peça lembra a antiga "Noturno": aparecimentos repentinos em diferentes lugares do teatro, lanternas no rosto, pontos de luz para direcionar a atenção do espectador
• A cena de Léo e Bia é o melhor momento, embora pertença originalmente a outra peça – a lógica fraca e sem graça de Oswaldo dá lugar à lírica
• A defesa do Brasil como território e cultura faz Oswaldo parecer o Policarpo Quaresma da nova era
• Não creio que o nacionalismo seja o caminho para o brasileiro se encontrar. Isso parece retrógrado, principalmente em tempos de universalização, internet, redes sociais internacionalizadas etc. Gosto mais do conceito de "cidadão do mundo", que Alanis Morrissete inseriu em seu último disco
• Desde quando se deve gostar de MPB só porque nascemos aqui?
• "No Brasil não há preconceito, a natureza faz parte do povo, judeus e muçulmanos convivem decentemente, todos se amam e se abraçam nas ruas" são mentiras em que fingimos acreditar
• Discordo conceitualmente de Oswaldo em diversos pontos, principalmente quanto a querer encontrar a essência do brasileiro e a amar incontestavelmente a nação. Tirando isso, a peça é divertida

Ps.: Alguma ligação com o filme "Lula, o filho do Brasil"?
Ps. 2: Lula seria mesmo o único?

sexta-feira, 23 de julho de 2010

AS PEQUENAS COISAS DA VIDA

Encontro muitas pessoas curiosas nas aulas de arco e flecha. Até porque quem pratica arco e flecha no Brasil é índio ou, no mínimo, diferente. E o diferente é sempre curioso.

Por exemplo, descobri ontem que um dos colegas tem o braço torto porque, quando criança, ele o quebrou. Depois, devido a uma calcificação errada, o braço foi quebrado mais nove vezes, exatamente o número de tombos que o menino colecionou. O resultado é que a articulação do seu cotovelo emperrou, o bíceps atrofiou e, para compensar, o corpo desenvolveu uma estrutura diferente. A clavícula direita, por exemplo, ficou grossa, e os músculos das costas cresceram mais do que o normal. É por isso que ele consegue puxar a corda do arco.

Mas não era bem disso que eu queria falar. Acontece que fiquei pensando naquela história do anão sequestrado e, coincidentemente, um colega arqueiro – obstetra nas horas vagas – começou a falar do parto de uma anã. Disse que ocorreu um recentemente no hospital em que trabalha, que isso é raríssimo, talvez até mais raro que enterro de anão, e que o pai também é anão e que, mesmo assim, a criança pode nascer normal. Tem alguma coisa a ver com herança genética e cromossomo modificado. Perguntei se essa criança, especificamente, nasceu anã. Ele disse que não dava para saber. A criança ainda era muito pequena.


Mediations (towards a remake of Soundings), 1979-1986, de Gary Hill

CONVITE PARA UM PIQUENIQUE FLORESCENTISTA



Saiba mais sobre as propostas do artista: Natureza da Arte

RIA COM GORGONZOLA

Citei a criação do queijo gorgonzola no post anterior e me lembrei dessa versão engraçada que inicia o filme Estômago, de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade.

Seria verdade ou ficção? Tanto faz. É apenas uma história em que a gente decide acreditar ou não, conforme convier.

O importante, no final, é ser divertido.



Clique na imagem para ampliar

Leia o roteiro na íntegra: Coleção Aplauso_Estômago

PINTURA NA ÁGUA

Como é que ele descobriu isso? Ou, melhor: o que veio primeiro, a ideia ou a concepção?

Não quero tirar o mérito de ninguém, mas muita coisa na vida é descoberta simplesmente por acaso. Bom, "acaso" se der errado, porque se funcionar é melhor chamar de "sorte".

Dizem que o champagne foi descoberto por conta de uma fermentação indesejada do vinho. E que o gorgonzola foi um queijo comum que embolorou e um monge corajoso – e provavelmente muito faminto – resolveu provar.

No mundo da arte, o acaso também costuma dividir a autoria de muita coisa. Seria o caso da técnica abaixo?



Postagem original: Robi Carusi, em Update or Die

quinta-feira, 22 de julho de 2010


Ubatuba (2009), de João Wainer

FICÇÕES


A traição das imagens (1928-9), de René Magritte
(tradução do francês: "Isso não é um cachimbo.")

Estava almoçando com mais nove colegas do trabalho quando alguém começou a contar o caso de um amigo do amigo do cunhado que, de tão bêbado e drogado que estava, confundiu um anão com um gnomo, colocou-o debaixo do braço e o levou para casa. Eles estavam num ponto de ônibus quando aconteceu. Aparentemente, o anão está processando o raptor até hoje.

Todos rimos por bastante tempo. De repente, um colega me olhou com cara de quem achava tudo aquilo muito suspeito. Como assim? O cara tomou o ônibus com um anão se debatendo e gritando debaixo do braço e ninguém fez nada?

"É tudo ficção", respondi. "O importante é ser divertido".

Às vezes, eu queria que as pessoas não fossem tão racionais.
Às vezes, eu queria que tudo na vida fosse fição.
Às vezes, tenho certeza de que tudo é.
Em certo grau.

FOTOCONSTRUÇÃO


Fotoconstrução 6

PROGRAMAÇÃO DA CASA LUME NO TUCA


Clique para ampliar

Saiba mais sobre o LUME: www.lumeteatro.com.br

terça-feira, 20 de julho de 2010

OLÁ, OLÁ, SEJA BEM-VINDO AO NOVO SITE



Veja só que beleza: o blog ficou maior, com colunas mais largas e bem mais gostosas de ler. As mudanças não foram radicais, é verdade. O conteúdo antigo continua no mesmo lugar, os links, o campo de pesquisa, o sistema de armazenamento... vamos aos pouquinhos para ninguém se perder. Eu tive um professor baiano que falava com aquele sotaque gracioso que só os baianos têm: "Tudo que é gostoso tem que ser feito devagar". Então vamos aproveitar cada etapa do novo blog juntos.

Primeiro, o visual, sempre leve e objetivo. Depois virão as novas páginas, as outras áreas de interesse etc. Por enquanto, quero que todos se sintam em casa como já estavam acostumados. A única diferença é que, para chegar aqui, terão que digitar http://www.artefazparte.com/ na barrinha lá de cima e apertar "enter". Tudo bem, né?

Além do nome, temos também um novo conceito: mostrar como, onde e por que você e a arte se encontram. Leia a apresentação no canto superior direito que fica mais fácil. De qualquer maneira, já adianto: o conteúdo permanecerá do jeito como você gosta, não precisa se preocupar. A definição do conceito é só para eu não perder o foco.

Comece a curtir o novo site lendo meus comentários (abaixo) a respeito da Supertrunfo, banda que acabou de lançar seu primeiro CD no SESC São José dos Campos. Nada melhor do que estrear este site citando um talento recente que vingou.

SUPERESTREIA EM CD



Fiquei muito feliz ao ver o show de lançamento do CD Supertrunfo, da banda que leva o mesmo nome. Feliz e também aliviado, pois descobri que não se trata de mais uma dessas bandas que apontam e logo desaparecem, vitimadas pela falta de caráter do rock brasileiro. Não, Jorge Neri (vocais), Duda Becker (guitarra), Fell Vieira (baixo) e Thiago Sansão (bateria) são diferentes e vou tentar explicar por que em poucas linhas.

A começar pela qualidade técnica dos músicos, coisa rara nesses tempos de samplers repetitivos, playback e rostinhos bonitos se chacoalhando freneticamente de um lado para outro do palco. Pôxa, dava para ver na segurança de cada compasso que eles sabiam o que estavam fazendo. E faziam por pura paixão, porque acreditavam na própria música e não apenas nas promessas do produtor.

Depois, pela obra propriamente dita, as harmonias criativas e bem resolvidas, a cadência do show, as letras que mais parecem diferentes versões da mesma história, falando de curtir o presente a dois e deixar o resto para depois. Tudo muito redondinho, bonito de se ver e de se ouvir. Mas o melhor mesmo são os riffs de guitarra, as distorções e os refrãos decentemente gritados – que saudade! Afinal, rock brasileiro também é rock, diacho, tem muita banda por aí que se esqueceu disso. Quer saber mais? É maravilhoso assistir a shows como esse, em que os músicos se preocupam mais com o que sai dos amplificadores do que com figurinos e penteados. Dá mais credibilidade, sabe? Dá vontade de comprar o CD e prestigiar.

Isso é outra coisa que me deixou feliz: o Vale do Paraíba compareceu em massa ao SESC São José dos Campos, cidade de origem da banda e lugar onde eles já construíram certa fama. Pois bem, foram três edições do Unifest, além da abertura de shows do Rappa, Charlie Brown Jr. e Detonautas. E, enquanto muitos desses aí já caíram na rotina minimamente produtiva do sucesso, a Supertrunfo está começando com o pé direito.

Pena que o tempo era curto e só pudemos ouvir dois covers além das canções do disco. Foram: Dream on, do Aerosmith e Bohemian Rapshody, do Queen, ambos executados como se deve. Bom, nem preciso falar que tipo de som você pode esperar de uma banda com essas referências. Se bateu aquela curiosidade boa, acesse o site e o myspace dos caras.

Deixo assim meus parabéns. Com o primeiro degrau alcançado com reconhecimento da crítica e do público, já dá para pensar no que está por vir. Fazendo uma gracinha ridícula para terminar, a estreia dessa foi realmente um supertrunfo. Há!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

ALTA GRACIA



















Alta Gracia é uma antiga cidade da Província de Cordoba e também um patrimônio da humanidade. Localizada a mais ou menos 600 quilômetros a noroeste de Buenos Aires, Argentina, começou sua história em 1643 a partir de uma Estância Jesuítica – espécie de complexo agrário composto por igreja, fazenda, torre e lago artificial –, uma das seis que se desenvolveram e que se preservam até hoje na região.


Eu queria muito escrever alguns contos como Hemingway, pois ele pinça pequenos acontecimentos do dia-a-dia e faz daquilo histórias repletas de lirismo.

Vejo a solidão, a cultura dos povos, os espíritos do tempo e do lugar. Vejo a vida que acontece dentro e fora dos personagens. Mas, se me perguntam de que se trata o texto, só poderia responder: "Não sei".
Trata-se apenas de um teste.
Sempre um teste.
A etapa oficial é na verdade uma fachada para a gente se mexer.

MEMÓRIA, VERDADE, JUSTIÇA



A repressão durante a ditadura militar foi dura em todos os países da América do Sul. Agora, se já conhecemos pouco da história brasileira – os arquivos oficiais permanecem vergonhosamente fechados –, imagine as dos outros países.

Na cidade de Cordoba, a mais ou menos 600 quilômetros de Buenos Aires, encontrei esta antiga cadeia para presos políticos, onde muitos foram assumidamente assassinados ou simplesmente "desapareceram".

Ali funciona agora um memorial, nos moldes do nosso prédio do DOPS, no bairro da Luz, em São Paulo. As paredes externas exibem os nomes das vítimas da ditadura na Província de Cordoba. "Pessoas que entre 1969 e 1983 foram sequestradas, torturadas e executadas pelas forças repressivas do Estado", como diz o mural.

Tornar seus nomes públicos é uma maneira de mantê-los vivos na memória e dizer "Nunca Mais".


Para saber mais sobre a repressão no Brasil, acesse as Memórias Reveladas.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

OUTRA ORIGEM DO UNIVERSO



Big bang big boom, por Blu (dica de Estevam Leal)

Site do artista: Blublu.org


MAIS VÍDEOS DO MESMO ARTISTA:

Muto


Combo
De flanco sobre o lençol,
paisagem já tão marinha,
a uma onda deitada,
na praia, te parecias.

Uma onda que parava
ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento
seu rumor de folhas líquidas.

Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.

Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.

Uma onda que parava
ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse
no alto de sua crista

e se fizesse montanha
(por horizontal e fixa),
mas que ao se fazer montanha
continuasse água ainda.

Uma onda que guardasse
na paria cama, finita,
a natureza sem fim
do mar de que participa,

e em sua imobilidade,
que precária se adivinha,
o dom de se derramar
que as águas faz femininas

mais o clima de águas fundas,
a intimidade sombria
e certo abraçar completo
que dos líquidos copias.

Imitação das águas, de João Cabral de Melo Neto

O SUGESTIVO BALANÇO DAS ÁGUAS



A sensação imediata é de se perder naqueles mares em fúria que se debatem em movimentos frenéticos pelas paredes do salão. Só que não há água de verdade ali, nada se movimenta, há apenas uma sugestão, uma imitação. E o gostoso mesmo é se deixar perder na solidão das ondas, na profundidade do azul, nos grafismos quase orientais que a artista Sandra Cinto realizou especialmente para o piso térreo do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

Seu trabalho manual é tão complexo quanto poético. São pinturas de grandes dimensões feitas com tinta acrílica, caneta permanente prata (também conhecida como "caneta spray"), telas de algodão, placas de MDF e muita sensibilidade. Têm a imitação como princípio e deixam claro que se trata de criações inspiradas nas águas. Mas... em que águas? As chuvas, os mares, os rios, a natureza; tudo está ali, imitado, recriado, traduzido em arte.



Em alguns momentos, as pinturas lembram grafitti, talvez pelo aspecto metálico da tinta, talvez porque o MDF se confunde com as paredes do lugar. Aliás, paredes que também estão pintadas de azul e, junto com a imagem das águas, envolvem o espectador num mergulho profundo. Mérito do cuidado que a artista teve não apenas com os objetos, mas também com a arquitetura ao redor.

Há volume, imensidão, movimento. Eles evocam o sublime, aquele receio primordial que impele e repele, que dá vontade de explorar porém exige cautela, tudo aos pouquinhos, como nas fábulas, nas aventuras infantis.

Para completar a mostra, há também uma instalação feita com barquinhos de papel, todos eles espalhados voluptuosamente pelo chão, modificando a dureza do piso, transformando-o numa superfície líquida e móvel. Ela deixa-nos a navegar, navegar e navegar pelo oceano da imaginação.

Imitação da água é uma apologia a esse elemento ao mesmo tempo banal e místico, uma poesia transformada em traços e cor. Se você deixar, o trabalho de Sandra Cinto vai lhe carregar para um novo mundo.


IMITAÇÃO DA ÁGUA, de Sandra Cinto
Instituto Tomie Ohtake
De 6 de julho a 1 de agosto
Curadoria de Jacopo Crivelli Visconti

terça-feira, 13 de julho de 2010

A ORIGEM DO UNIVERSO, SEGUNDO CRUMB



(a morte de Harvey Pekar me fez lembrar disso aqui)

Robert Crumb virá para a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano e eu consegui comprar meu ingresso para vê-lo (sim, fui um dos muitos desesperados que comprou nos primeiros minutos, pois eles se esgotaram rapidamente).

Como ainda não tinha lido sua última obra, resolvi tirar o atraso antes do grande dia (trata-se do Gênesis, sim, esse mesmo, um dos livros que compõem o Velho Testamento). Até porque o artista veio para falar sobre a origem do universo e, creio, isso será impagável.



Crumb realizou uma extensa pesquisa entre as diversas versões da história e em seguida a ilustrou, respeitando aquilo que considerou mais fiel ao original.

Pois muito me surpreendeu tudo que o Gênesis tem de crumbiano. Os personagens para lá de peculiares, as reviravoltas no enredo, os costumes praticamente inexplicáveis e o cotidiano sofrido dos homens. Se ele não avisa, poderia achar que o texto também é seu.

O objetivo não era satirizar e, realmente, os desenhos são muito pertinentes à história, duvido que possam ofender alguém. Seja qual for sua crença, essa versão ilustrada do Gênesis é uma interessante maneira de ler um texto considerado sagrado há anos por grande parte da humanidade. Vale a experiência.

E que venha a FLIP!