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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

REFLEXÕES POÉTICAS: INFLEXÕES VERBAIS



No Brasil, poesia é essencialmente uma arte marginal, para não dizer que sempre foi. Digo isso por conta do número de iniciados, não pela posição social deles. Qual dos seus amigos lê poesia? Poucos, imagino. Mas, quem gosta, gosta de verdade, de Drummond e Bandeira a Gullar e Piva, dos caras que fizeram história até os que estão começando a ganhar espaço.

Então, fica a dica do Livro Ruído, de Davi Araújo, recém-publicado em Portugal pela Ecleia Editora. Quem é marginal a ponto de ler poesia, vai gostar e gozar.

Ouça a entrevista que o autor concedeu à rádio Unesp: Davi Araújo – Rádio Unesp

Para saber mais sobre o Livro Ruído: Eucleia Editora

Blog: Não Fique São

sábado, 19 de novembro de 2011

"Tenho 25 anos de profissão. Sempre tentaram me dizer que o cinema é uma arte coletiva. Nunca entendi o que isso queria dizer. Quem me dizia também não sabia o que era. Existe uma indústria feita por um tanto de especialistas, não tenho nada contra isso. Mas ainda há, talvez, um pequeno espaço para os artistas."

Roberto Rossellini (1958)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ARTE E PUBLICIDADE: UMA RELAÇÃO


Não acho que publicidade é arte – para mim, são duas coisas quase excludentes. Vivo dizendo que diretor de arte [profissional responsável pela criação de imagens publicitárias] que se considera artista precisa estudar mais história da arte para entender a diferença. Redator que se considera escritor precisa estudar mais literatura. Digo isso sem desmerecer nenhuma das profissões, só não gosto de ver ninguém confundindo as coisas.

É verdade que, em fins do século XIX, quando a publicidade se profissionalizou e começou a ficar mais parecida com o que é hoje, muitos pintores ganhavam a vida fazendo pôsteres de perfume e de canetas tinteiro, assim como muitos escritores faziam frases de impacto a respeito de saponáceos, dentifrícios e fortificantes vitamínicos. Dava para ver tudo isso exposto nos bondes, e hoje essas propagandas se encontram em galerias de arte.

Mas, como disse antes, isso foi no passado, nos primórdios, e deve ter durado até a Pop Art, quando a crítica ao consumo se instaurou de vez e a arte se apropriou da linguagem publicitária para comunicar conceitos. Ali, já dava para ver que uma coisa era uma coisa e outra coisa era outra coisa, como explica o ditado.

Nada impede que um diretor de arte faça artes plásticas, que um redator escreva bons romances e que um fotógrafo publicitário revele propósitos artísticos. Ainda assim, uma coisa continua separada da outra, do mesmo modo como um psiquiatra é diferente de um psicólogo. Mas – e sempre tem um "mas" –, às vezes, essa distância se encurta, e a gente vê fotografias bem conceituais, anúncios lindos como pinturas e títulos ou comerciais de TV cheios de poesia.

Escrevi tudo isso motivado por uma campanha publicitária, vista numa notícia publicada hoje mesmo no Correio Popular de Campinas. Sugiro que você clique na imagem acima e veja também. É uma ideia tão marcante e tão crítica que, se tirássemos o logotipo da Benetton, poderíamos expôr em qualquer bienal de arte contemporânea.

É bem legal, para um consumidor, publicitário e pesquisador de arte, ver campanhas assim.









domingo, 6 de novembro de 2011

A LITERATURA DA SALVAÇÃO


"São Bento deveria ser eleito o padroeiro dos amantes da literatura grega e romana. No século VI, ele teve a brilhante ideia que permitiu a preservação dos textos antigos na Europa: a de impor sua cópia e manutenção como uma das obrigações dos monges nos mosteiros. Era obra de penitência; cada letra copiada diminuía o tempo no purgatório. Foi esta providência que assegurou a sobrevivência do legado greco-romano durante o longo período da Idade Média."

Thais Rodegheri Manzano, em E se a literatura se calasse?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

RESPEITÁVEL PÚBLICO

Sabe, ando cansado de filmes excessivamente complexos, seja no enredo ou na produção. Cansado de milhares de personagens e reviravoltas, de estética obsessiva, de épicos históricos pautados em batalhas, de histórias pobres sustentadas por efeitos especiais cujo único objetivo é tirar o fôlego do expectador. Por isso, quando me deparo com filmes como O palhaço, de Selton Mello, solto suspiros de alívio. Não porque ele seja banal, no sentido pejorativo do termo, mas justamente porque conta uma história banal, quer dizer, por tratar da vida comum, dos dramas que todos nós vivemos cotidianamente.

Admiro quem consegue fazer poesia com matéria-prima tão simples. É disso que O palhaço trata, de uma crise de identidade que põe em dúvida a carreira profissional do protagonista – uma história pequena, porém rica em significações, semelhante ao que Ernest Hemingway fazia em seus contos.

Uma ocasião breve e pontual. E só. Um capítulo da biografia do tal palhaço, representado com uma fotografia belíssima, saturada e quente; com uma trilha que mistura MPB e temas circenses; com um humor primordial que diverte a todas as idades e com uma direção cuidadosa, de planos fechados e atenção voltada à expressão corporal dos personagens.

O palhaço tem seus clichês e defeitos: talvez pudesse se estender um pouco para que a crise ganhasse peso e a vontade de retomar a carreira convencesse mais, talvez não precisasse cair no lugar-comum do circo decadente, talvez não precisasse dos cenários ermos do interior, talvez Selton Mello pudesse se esforçar para não ser tão Selton Mello; mas a verdade é que as qualidades sobressaem e nos tocam no ponto certo.

Aliás, o filme merece ser visto por um motivo especial: é o único em cartaz, entre outros dez ou doze que ocupam as salas dos cinemas convencionais, a explorar a vida humana de maneira delicada, com simplicidade e sem grandes pretensões ou ideologias. Um verdadeiro respeito ao bom gosto e à inteligência do público.

Site oficial: www.opalhacofilme.com.br 
Blog: blog.opalhacofilme.com.br