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domingo, 8 de agosto de 2010

LAPSUS

Por Juan Pablo Zaramella

Um curta-metragem bem legal desse animador argentino. Vale a pena!



quinta-feira, 29 de julho de 2010

ONDE VIVEM OS MONSTROS?



Comprei esse livro porque assisti ao filme e me apaixonei.
Antes, não conhecia a história, não sabia nem mesmo da existência dela, embora tenha ganhado importantes prêmios desde que foi escrita, em 1963.
O livro também me surpreendeu. Muito.
Primeiro, pela concisão do texto. (como foi que fizeram um longa-metragem a partir desse "parágrafo?")
Depois, pelas ilustrações, riquíssimas. São aquarelas e nanquins realizadas pelo autor, Maurice Sendak, que soube onde colocar os detalhes e onde suprimi-los para a criançada poder sonhar.
Por último, porque encontrei aqui a mesma essência selvagem do filme – ainda que seja essa a original –, a mistura da realidade com a ficção, o universo das fábulas infantis.



Fui assistir ao filme simplesmente porque o pôster atiçou minha curiosidade. E porque a música do Arcade Fire ("Wake Up") escolhida para compôr a trilha me pareceu perfeita.
Ele prometia um visual bonito e algo selvagem. Saí do cinema extasiado.
Dirigido por Spike Jonze (o mesmo de "Quero ser John Malkovich"), a história nos oferece uma série de perguntas cruciais:
1. Até onde temos que ir para entender o mundo em que vivemos?
2. Quem são os monstros de verdade?
3. Será que eles não vivem dentro de nós mesmos?
O filme pareceu forte demais para as crianças, queria ver como elas reagiriam. Mas sessão era legendada, então não deu para saber.
O termo "selvagem" do título original (Where the wild things are) me parece traduzir melhor o sentimento proposto, aquele pulso primitivo do livro, instintivo e natural.
As emoções descontroladas e imprevisíveis dos monstros são muitas vezes assustadoras. Será que já vimos algo parecido por aí?
Com certeza.
O que nos difere dos monstros, afinal?
Nossa capacidade de nos relacionar uns com os outros, talvez.
Nossa capacidade de nos organizar.
Nossa capacidade de amar.
Será?


Clique e assista ao trailer de Onde vivem os monstros

sexta-feira, 23 de julho de 2010



Mediations (towards a remake of Soundings), 1979-1986, de Gary Hill

RIA COM GORGONZOLA

Citei a criação do queijo gorgonzola no post anterior e me lembrei dessa versão engraçada que inicia o filme Estômago, de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade.

Seria verdade ou ficção? Tanto faz. É apenas uma história em que a gente decide acreditar ou não, conforme convier.

O importante, no final, é ser divertido.



Clique na imagem para ampliar

Leia o roteiro na íntegra: Coleção Aplauso_Estômago

quarta-feira, 14 de julho de 2010

OUTRA ORIGEM DO UNIVERSO



Big bang big boom, por Blu (dica de Estevam Leal)

Site do artista: Blublu.org


MAIS VÍDEOS DO MESMO ARTISTA:

Muto


Combo

segunda-feira, 3 de maio de 2010

DILEMA E REALIDADE



Quando você finalmente relaciona as imagens com o título e compreende a poesia de Heitor Dahlia, sobra aquela sensação gostosa de que o cinema pode ser mesmo uma grande arte. Pois estar à deriva é flutuar ao sabor das ondas, como um barco que já consumiu todo o combustível de que dispunha, e entre se desesperar e aceitar que é mesmo impossível controlar os entraves da vida, o melhor talvez seja simplesmente se deixar levar.

A história é contada a partir de Filipa, uma adolescente de catorze anos que se encontra entre os dilemas típicos da idade. Tudo ao seu redor está se transformando, suas ilusões infantis começam a dar lugar à fria racionalidade da vida adulta, as férias não têm mais sabor de sorvete, os irmãos mais novos parecem distantes e as pessoas mais velhas ainda se mostram inacessíveis.



A solidez das relações familiares desmorona à sua frente sem que ela possa fazer nada para mantê-la no lugar. Pode apenas observá-la e tentar manter a própria solidez. O ato de olhar guarda um grande poder, mais um dualismo que Filipa precisa enfrentar. Pois ver é descobrir, encontrar, vislumbrar; porém, ver também é destruir, desfazer o encanto, revelar o truque. No filme, temos esses dois olhares muito bem definidos. O primeiro mostrado pelas tomadas amplas, que exploram a maravilhosa geografia de Búzios (RJ), onde o terreno pedregoso separa a mata virgem das águas traiçoeiras do mar. O segundo está nas câmeras voyeristas, bisbilhoteiras, sempre escondidas atrás de uma cerca ou persiana. Elas espiam o que não deveria ser visto, profana o que até então permanecia sagrado.

Há ainda uma terceira câmera, bastante intimista, que se mantém próxima dos personagens e esquenta o filme, leva o espectador para dentro da crise familiar que se encena, fazendo com que ele participe com o coração e sinta mais intensamente o conflito.

O figurino muito bem escolhido por Alexandre Herchcovitch colabora com essa relação, situando-nos no tempo e no espaço do filme, enquanto a maravilhosa fotografia de Ricardo della Rosa acrescenta sentimento ao visual retro. O granulado sépia e azul desbotados sugere a presença da memória, como se estivéssemos regredindo e revivendo um momento então incompreensível. As contraluzes, o brilho do sol, a magia da lua, os reflexos e as transparências – tudo ofusca e preenche a tela de encanto.



Entre o dia e a noite, as férias de Filipa vão chegando ao fim, assim como sua inocência. O livro que seu pai escreve – e do qual pouco revela – traça um paralelo com a realidade, recontando a história que acaba de acontecer e acentuando ainda mais a divergência entre as verdades e mentiras do casal. Pode ser uma espécie de reflexão meditativa, só que também é necessariamente uma ficção, a ser reinventada segundo o ponto de vista de uma única pessoa: o autor.

É dentro do livro que Filipa encontra pela primeira vez os fatos de que a vida é frágil e suscetível a erros. É levantando a cabeça e olhando ao redor que descobre a possibilidade da morte. E é assim, encarando sua antagonista, que ela compreende as regras da existência.

O pai de Filipa então deixa de ser um herói infalível e se torna um homem como outro qualquer, sujeito às adversidades da convivência, e seus braços de aço já não conseguem mais afastar a filha das ameaças do entorno. A mãe deixa de ser a mulher mais bonita do mundo e perde o encanto para as rugas que lhe começam a tomar o rosto. Todos que foram adolescentes um dia passaram por isso, só que não está no roteiro de Dahlia a redescoberta do heroísmo e da beleza dos pais, coisa que só acontece muito mais tarde, quando amadurecemos de verdade. A Filipa da tela permanece jovem, sem entender muito bem o que se passa porque é apenas uma criança, embora seja obrigada a ajudar porque também é adulta. Assim, ela fica perdida entre os seus sentimentos e os dos outros, entre o amor ideal e as decepções reais, entre a idade adulta e os sonhos da infância.

Filipa flutua num mar revolto, encontra-se a uma profundidade em que não consegue mais tocar o chão e não sabe se está a centímetros ou a quilômetros dele. No decorrer da história, nós flutuamos com ela, compartilhamos suas dúvidas e nos emocionamos com seus sofrimentos. Mérito de Heitor Dahlia.

domingo, 2 de maio de 2010

O POP E O PAPA


Marilyn Monroe, de Andy Warhol

A gente se acotovelava para vê-lo, o lugar não parecia grande o bastante, os corredores estavam lotados e os seguranças a ponto de perder o controle. "Lá está! Lá está!", gritavam os mais afoitos quando reconheciam algum indício de toque divino. As mulheres suspiravam encantadas com a fama, querendo fazer parte daquilo tudo de uma maneira ou de outra, querendo um retrato seu em cores berrantes. "Ai-que-lindos", deuses aqui e acolá, o Olimpo hollywoodiano em todos os cantos, musos e musas do mundo flash. Olha o Marlon Brando!, olha o Jimmy Carter!, olha a Estátua da Liberdade! Pois é, eis que finalmente Mr. America vem nos visitar, o papa do pop, grande apropriador de ícones sócio-culturais e mobilizador de massas. Senhoras e senhores, please welcome, Mister Andy Warhol!

A Estação Pinacoteca, em São Paulo, estava lotada de analfabetos da arte em busca da tal "aura" que Walter Benjamin teorizou. Não compreendiam nada do que se pendurava à sua volta, apenas achavam bonito o que lhes fora ensinado como bonito e feio o que não lhes fora ensinado. Só que era pop estar ali. Nada como dar uma olhada nas Marilyn Monroe, todas coloridinhas, extravagantes, um show. As latas de sopa? Ficam ótimas quando estampadas em camisetas. Venham conferir! Garantam já as suas! E a lojinha estava ainda mais lotada do que o resto da exposição.

Não consegui assistir a filme algum, pois as salas de exibição estavam cheias de pessoas se socializando e prestando atenção em tudo, menos na tela. Deve ser chato, né? Preto e branco, sei lá, coisa velha. É melhor voltar para casa a tempo de pegar o Big Brother na TV.

Ah, bom seria se os artistas tivessem mesmo perdido a auréola, tal como quis Baudelaire quase duzentos anos atrás. Nada de divino, nada de devoção, apenas homens comuns como eu e você. Eu também queria um mundo sem tietagem. E o coitado do Benjamin ainda teve tempo de pensar, antes que os nazistas o levassem ao suicídio, que o futuro da arte estava no cinema, pois para ele a pintura era incompatível com as massas. Mas a verdade, meu caro Walter, é que a massa gosta mesmo é de uma massa, não está nem aí para a pintura ou a filmagem. A Monalisa que o diga, leva milhões ao Louvre todos os anos e, acanhada em sua redoma de vidro, mal deixa os olhos dos passantes a observarem diretamente. Tudo bem, para estes, o que importa é tirar uma foto escondido e dizer aos amigos que estiveram lá.



O pensador, de Auguste Rodin

Embora na maioria das vezes seja trágico, o preço da fama também tem seu lado cômico. Foi o Pensador de Rodin que me disse, sentado em sua pose clássica, com o cotovelo apoiado no joelho, a cabeça no punho e os olhos desbravando o além: "Todo mundo se aproxima, tenta me imitar, tira uma foto para o Orkut e vai embora rapidinho com medo de causar incômodo". Mal sabem que o que mais o incomoda é não darem a menor atenção às suas formas moldadas em argila (e não esculpidas), não tentarem compreender seus pensamentos e não perceberem que, ao imitá-lo, apoiam o cotovelo no joelho errado – veja bem, o cotovelo direito vai na perna esquerda, é por isso que seu tronco fica tão torcido. Que mico, hein?

Voltando ao pop de Mr. America, vou logo avisando que quase tudo ali era reprodução, o original não tem importância maior, é apenas uma matriz de impressora. Imagino que isso deverá desapontar muita gente, desculpe por destruir suas crenças. Só que era essa a ideia do homem, vou fazer o quê? Ele queria acabar com a aura criada pela obra de arte única – e ganhar muito dinheiro com sua fábrica de imagens –, embora ainda hoje seja incompreendido, basta ver o fuzuê da exposição. Então, o mínimo que devemos fazer é encará-lo da maneira correta. Pois, se hoje até o papa é pop, por que a Pop Art tem que ser sagrada? Não, a ideia é profanar, banalizar os ícones sócio-culturais, transformando-os em arte e depois destransformando, copiando, copiando e copiando. Se bater aquela vontade de chamar o Andy de "deus", cuidado: o que a arte de hoje menos precisa é ser considerada sagrada, e devemos evitar a todo custo transformar novamente o museu em templo. O divino não está ali, veja bem, ele está entre nós.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

MAR REVOLTO



Em meados de abril, o Cinesesc promove um festival que reprisa os trinta melhores filmes do ano anterior, segundo escolha da crítica e dos espectadores. Os preços variam de um a quatro reais, a programação agrada a todos os gostos e é uma pena que seja tão mal divulgado. Agora em 2010 mesmo, quando fiquei sabendo, ele já estava para lá da metade e só consegui ver dois filmes: Milk e À deriva. Achei ambos ótimos, mas este último mexeu mais comigo e, imagino, também mexerá com você de uma maneira ou de outra. Isso porque fala da adolescência, uma fase pela qual todos passamos e da qual é impossível sair ileso. Pois um dia você está em férias, divertindo-se com os amigos sem se preocupar com nada maior do que o sabor do próximo sorvete ou o nome da próxima paquera quando, de repente, suas crenças mais sólidas se desmancham no ar e você se vê flutuando em mar aberto entre os dilemas da vida.

O filme nos coloca para pensar, coisa rara nesta época de efeitos especiais mirabolantes que não se sustentam por mais de uma temporada. A produção é brasileira, com roteiro e direção de Heitor Dahlia, o mesmo de Nina (2004) e O cheiro do ralo (2006). A trama se baseia na crise familiar vivida por Filipa, uma adolescente de catorze anos permeada por dúvidas, que oscila entre a inocência e a responsabilidade, os sonhos e a sensualidade, a infância e a tal maturidade.

Não acredito que crescer seja equivalente a "conhecer a realidade", como se esta fosse única e imutável. Quer dizer, criança também vive a realidade – a dela, composta das ilusões que sua percepção produz. No entanto, crescer implica conhecer os processos da vida adulta, na qual todos convivem e que são obrigados a compartilhar. Esta pode ser bastante decepcionante, diga-se de passagem, especialmente se não estamos preparados para enfrentá-la ou, melhor ainda, compreendê-la. É o que acontece com a Filipa do filme, ao descobrir por acaso que seu pai não é mais o herói com quem sempre contou, homem justo e infalível, irrepreensível. Ela cresceu e aqueles braços já não são fortes o suficiente para afastá-la dos perigos do mundo. Sua mãe tampouco permanece a rainha do lar, a mulher mais bonita do universo, sábia e carinhosa na medida certa, com o colo sempre pronto a confortar. Tem agora o rosto tomado por rugas, as pernas doem, as decisões hesitam. O lar já não é a fortaleza que costumava ser, há refúgios mais tentadores lá fora. Tudo é suscetível ao erro e isso é provavelmente o mais difícil de aceitar, o fator humano que destrói a perfeição da fantasia infantil. Os três porquinhos, a bela adormecida, o gênio da lâmpada – todos tiram as máscaras e se revelam atores de um espetáculo que infelizmente tem hora marcada para terminar.

Nesse momento, o que fazemos? Estamos no mar, flutuando ao sabor das ondas, sem saber para onde seguir. Nossos pés não alcançam o chão, que pode estar a centímetros ou a quilômetros de profundidade. Podemos então nos desesperar ou simplesmente aceitar que é mesmo impossível controlar as marés da vida. E que, ao invés de nos debater e afogar, o melhor talvez seja nos deixar levar.

No Cinesesc, quando finalmente relacionei as imagens com o título e compreendi a poesia de Heitor Dahlia, sobrou aquela sensação gostosa de que o cinema pode ser sim uma grande arte. As luzes se acenderam e revelaram uma série de pessoas que passaram por crises semelhantes às minhas e que também sobreviveram, amadureceram e tornaram a ver os pais como heróis – não infalíveis, mas super corajosos. Saí de lá com a sensação de que as tormentas fazem parte da vida e, principalmente, de que não há nada melhor do que encontrar um porto seguro onde atracar.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

APERITIVO

A produção de um longa metragem envolve muito mais cortes do que se imagina. A primeira montagem de Estômago (2008), de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade, tinha 138 minutos. Para dar mais ritmo à história, reduziu-se isso para 112.

Mas o que aconteceu com os 26 minutos restantes?

Alguns se transformaram no curta Ervas, que você vê abaixo. Outros são encontrados nos extras do DVD ou circulando pela internet, basta realizar uma busca rápida. Bom divertimento!



Ervas (2008), de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade

sábado, 3 de abril de 2010

BASTARDOS INGLÓRIOS



É fácil reconhecer a relevância de um fato histórico, basta verificar por quanto tempo se fala dele. A começar pela Guerra de Tróia, narrada por Homero na Ilíada, que aconteceu mais de mil anos antes de Cristo e ainda hoje é estudada no mundo todo. Depois, tivemos os Césares gregos, a ascensão e a queda do Império Romano, as Cruzadas, a Revolução Francesa, a Revolução Russa, a Crise de 1929 etc., só para citar alguns. Mas, sem dúvida alguma, o acontecimento mais comentado da história da humanidade é a Segunda Guerra Mundial. Filmes sobre ela ainda são produzidos aos montes, por exemplo, mesmo passadas mais de cinco décadas do término do conflito, e todos os números relacionados são assombrosos. Pois fica a pergunta: como reconhecer a relevância dessas obras?

A resposta provavelmente é o tempo que dará, assim como aconteceu com o poema de Homero. Parafraseando Marcel Duchamp, no final, é sempre a história que decide quem sobreviverá e quem desaparecerá do universo artístico. Isso não significa, é claro, que não possamos influenciar o veredicto, mantendo em pauta algumas produções realmente interessantes. É o caso do longa Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino.



Famoso por reunir diálogos inteligentes e violência banalizada, o diretor norte-americano tratou da Segunda Guerra Mundial de maneira, no mínimo, irreverente. Seu mérito fica por assumir o lado ficcional do cinema e recontar o evento de acordo com sua própria imaginação, inventando uma equipe de nove soldados americanos de origem judia que aterroriza as tropas alemãs e que, no final, mata Hitler e sua turma com rajadas de metralhadora, fogo e dinamite.



No filme de Tarantino, a guerra acaba um ano antes da data oficial, em 1944, durante a estreia de um filme-propaganda nazista num teatro parisiense que ninguém pensou em vigiar ou, melhor ainda, revistar. Todas as principais figuras do partido se reúnem inocentemente na plateia e acabam mortos de uma só vez graças à traição de um soldado alemão e à vingança atrasada de uma garota judia, naquilo que poderia ser considerado um grave erro de enredo justamente se o diretor não tivesse deixado muito claro sua falta de compromisso com a história.



Mantendo a tradição dos filmes anteriores – vide Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Kill Bill –, os diálogos continuam afiadíssimos, já começando pelo primeiro deles, em que o antagonista compara o povo alemão à águia e o judeu ao rato, demonstrando assim por que o Holocausto não precisou de justificativa para ser aceito. Segundo ele, o desprezo pelo próximo mora dentro de nós e pode dar às caras a qualquer instante; ninguém se importará com as consequências disso, contanto que não seja envolvido e, ainda que provem a faltam de lógica, ninguém falará contra.



As "marmeladas" pop de Tarantino também marcam presença, assim como os clichês muito bem aplicados. Como exemplo, podemos citar a superioridade norte-americana, que Hollywood adora afirmar sempre que pode. No caso de Bastardos Inglórios, temos de um lado o herói alemão que venceu trezentos soldados inimigos sozinho e, de outro, o grupo de elite americano que assassina Hitler junto com trezentos e quarenta e nove companheiros. Este último número poderia ser qualquer um, mas... por que menor do que o primeiro? São os toques de gênio do diretor que vão surgindo ao longo do filme. A vingança judaica agradece.



Na cena final, quando o personagem de Brad Pitt diz com ironia: "Acho que esta é minha obra-prima", na verdade é a voz do próprio Tarantino falando de seu filme. Mais uma vez, ele mistura realidade e ficção, colocando-se dentro e fora da tela, posicionando-se como artista e crítico ao mesmo tempo. Eu discordo, não diria que Bastardos Inglórios é a sua obra-prima, mas trata-se sem dúvida de um ótimo filme. Não sei se sobreviverá ao crivo do tempo, se continuará sendo assistido pela posteridade; entretanto, neste instante, eu recomendo a todos.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

HOLLYWOOD É ISSO AÍ

Veja as semelhanças entre o filme Pocahontas (Disney) e Avatar. Elas são, no mínimo, interessantes. Seria mera coincidência? Eu duvido...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

BEM PERTO DE NÓS



Fui ver AVATAR ontem à noite e voltei para casa com milhares de pensamentos novos. Valorizo muito isso num filme e, assim, vim aqui recomendá-lo.

A história, apesar do ritmo e de algumas passagens tipicamente hollywoodianas – que, cá entre nós, já estão para lá de batidas –, é muito boa, palmas para o diretor e roteirista James Cameron. Em primeiro lugar, pela atualidade do tema. Em segundo, pela maneira bonita como este nos é apresentado.

Trata-se de uma espécie de Apocalypse Now futurista, quando a guerra se encontra com problemas socioambientais. Referências não faltam. As ideias de conexão daqueles seres alienígenas com a natureza, ambos constituídos pelo mesmo estofo, como diria Merleau-Ponty, se misturam com as do best-seller A profecia celestina, de James Redfield, e nos fazem questionar quem são os verdadeiros primitivos: eles ou nós.



Quanto ao visual, basta dizer que encanta de tão rico e bem constuído. As texturas, as cores e a reinvenção da natureza terrestre rendem imagens fantásticas e encantadoras.

A temática me pareceu bastante adulta. Cenas de violência correm soltas e fica evidente que os produtores tentaram disfarçar o excesso de sangue. Talvez a classificação indicativa de 12 anos deveria ser elevada um pouco – ou, quem sabe, eu esteja ficando velho? De qualquer maneira, acho que sempre caímos naquele dilema do "desenho animado ser coisa de criança".

Enfim, sejam adultos, crianças ou adolescentes, espero que todos apreciem o filme e saiam do cinema refletindo sobre a situação de nosso próprio planeta, deixando Pandora no universo das metáforas bem feitas e despertando para os problemas da vida real.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

WELCOME TO THE JUNGLE



Welcome to the jungle
It gets worse here everyday
Ya learn ta live like an animal
In the jungle where we play

Trecho da música Welcome to the jungle, de Guns ‘n Roses


Yes, nós vivemos na selva. Uma selva de concreto, é verdade, em que os homens têm o rei na barriga e menosprezam seus súditos. Vivemos uma ilusão. Um teatro, onde são encenadas as tragédias e comédias do espetáculo que denominamos “vida”. Todo o cenário foi construído por nós. Máscaras e fantasias idem. Abrem-se as cortinas e o que vemos ali? Atores prontos para a batalha das ruas, para a mesmice do dia-a-dia. Preste atenção no mordomo. Nesta peça, os amigos se tornam inimigos com um simples desentendimento, atacando pelas costas sem pensar duas vezes.

Há quem se revolte com tudo isso, como o jovem americano Christopher McCandless (Emile Hirsch). Cansado do artificialismo da sociedade, ele se lançou na natureza selvagem a fim de reencontrar a essência da vida. Sua história virou livro e o livro virou filme. No Brasil, recebeu o título Na natureza selvagem (Into the wild, no original). Após uma discreta aparição nos cinemas, foi lançado em DVD em meados de 2008 e esgotou rapidamente. Eu mesmo tive que esperar a reposição, que demorou um pouquinho para acontecer. Mas a espera valeu a pena.



O filme trata do desafio de sobreviver em um mundo que já não nos pertence mais. Christopher assume o pseudônimo Alex Supertramp (Superandarilho) e cai na estrada com o objetivo de viver um tempo no Alasca. Ele quer se livrar da selva de concreto e conhecer a selva real. É o superlativo da casa de campo; a hipérbole da excursão pelo deserto do Atacama. Christopher quer ir a fundo naquilo que acredita ser a realidade. O resultado é uma overdose de natureza. Infelizmente, assim como numa overdose de drogas, seu corpo não aguenta e desfalece.

Fica claro que não estamos mais preparados para enfrentar o mundo selvagem. Fomos condenados a viver eternamente dentro de nossa colônia – o formigueiro conhecido como “sociedade”.



O filme é lindo em muitos sentidos: na proposta de um novo estilo de vida (ou seria “novo sentido para a vida”?); nas imagens, repletas de belas paisagens; na ótima direção de Sean Penn, que transmite muito bem os diversos momentos da narrativa, tais como a angústia dos pais e o êxtase do filho; e na trilha sonora, assinada por Eddie Vedder (sim, ele mesmo, líder do Pearl Jam), que acrescenta o espírito perfeito ao corpo do filme. Em outras palavras, não faltam motivos para explorar essa obra. Garanta suas passagens!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

FRANCISCO B.

Eu gostaria que o nome Chico Buarque não significasse nada. Não que eu tenha algo contra ele, não é nada pessoal nem profissional. Meu problema é unicamente com o que representa. Quer dizer, hoje em dia, é impossível falar de sua obra sem que se associe a ela os milhares de preconceitos que fomos desenvolvendo ao longo do tempo. Podem ser preconceitos positivos ou negativos – você pode gostar ou não do Chico –, mas haverá alguma opinião sobre ele, e esta opinião vai influenciar tudo o que eu disser.

Ainda assim, insisto. Pois muito me surpreendeu que Budapeste tenha sido exibido em tão poucas salas de cinema. Tive que me empenhar bastante para ver. Puxa, o filme tinha tudo para ser um sucesso de bilheteria: foi baseado num best-seller do Chico, os protagonistas são atores famosos do porte de Leonardo Medeiros e Giovanna Antonelli, a produção é boa, o diretor Walter Carvalho tem um currículo exemplar e o enredo não trata nem de favela e nem de nordeste. Por que, então, ficou fadado a um circuito tão restrito?




Outro dia, um amigo estava revoltado com as pessoas que assistem a filmes alternativos e depois ficam falando mal dos blockbusters. Segundo ele, isso é coisa de quem quer bancar o intelectual. Mas o pior é que não tem jeito, é difícil fugir dessa discrepância. Quem busca filmes mais autorais, mais “artísticos”, mais experimentais ou simplesmente alguma coisa que faça pensar, para variar, provavelmente vai cair nos chamados cinemas “cult”. Budapeste seguiu por este caminho. E o resultado é maravilhoso, tem um toque ao mesmo tempo intenso e delicado que raramente se vê em grandes produções nacionais.

Para ter uma ideia de como ele nos atinge, quando as luzes do cinema se acenderam e os créditos começaram a subir na tela, olhei ao meu redor e estranhei o fato de que ninguém se levantou para atropelar os outros nas escadas enquanto desvia dos baldes de pipoca largados no chão e tenta ligar o celular. Não, ficaram todos sentados em seus lugares e me fizeram achar que teria outro filme na sequência. Foi quando percebi que estavam – pasmem! – discutindo o que tinham acabado de presenciar. Eu, que já estava contente por ter assistido a um filme sem ter ninguém matraqueando na orelha, achei aquele debate uma coisa de outro mundo. Pena que as redes mais populares de cinema deixaram esta grande obra de lado.

O filme fala justamente das incongruências entre o valor de uma obra e o reconhecimento de quem a criou. Li o livro quando foi lançado, há alguns anos, mas já nem lembrava mais do que acontecia, até porque a narrativa é o que menos importa. Bacana são as reflexões sobre autoria. Por exemplo, a obra pode existir sem seu criador? Em ordem de importância, qual deve vir primeiro? Quanto um influencia a apreensão do outro?



É a tal história do nome Chico Buarque. Quando se fala em Budapeste, o que vem em seguida? “Baseado na obra de Chico Buarque”. Supostamente, este nome deveria vender bilhetes a rodo. Não aconteceu com o filme, mas aconteceu com o livro Leite Derramado, seu romance mais recente. Quando se fala do livro, o que vem em seguida? “O novo romance de Chico Buarque”. Deve ser bom, né?



Sinceramente, eu li e não gostei. Enquanto o anterior, Budapeste, me deixou fascinado tanto pelas reflexões quanto pela engenhosidade com que foi construído, Leite Derramado foi difícil de terminar. Tive a impressão de que o Chico pegou uma fórmula corrente – do velho que, já meio biruta, começa a filosofar sobre a própria vida – para criticar a história do Brasil de um jeito confuso, cansativo, que mais complica do que explica. Claro que existem boas passagens, tais como esta breve referência ao ciúme: “Com o tempo, aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta”. Só que, de resto, fica apenas o velho a recordar e recontar o passado à sua maneira, repetidamente, como o seguinte trecho parece querer justificar: “Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero. É para si próprio que um velho repete sempre a mesma história, como se assim tirasse cópias dela, para a hipótese de a história se extraviar”. E, depois de tanta repetição, o que sobra? A sensação de que comprei gato por lebre.

Admiro a ideia de que a história é apenas uma versão do passado na qual decidimos acreditar, assim como a pertinência na escolha do título do livro, só achei que ele não precisava ser tão maçante.

Talvez eu tenha lido com preconceito. Afinal, é um livro do Chico, eu esperava que ele me fascinasse tanto quanto Budapeste. Fiquei me perguntando se apenas eu tinha achado o mesmo. E o que me deixou mais decepcionado foi perceber que as críticas, matérias e entrevistas sobre o lançamento mal falavam da obra. Só falavam do Chico. Que só o Chico entende as mulheres, que foi um músico importante, que sua mesa na FLIP seria a mais concorrida etc., todas essas ladainhas que estamos cansados de ouvir. Mas ninguém comentava o livro. Afinal, é um romance do Chico, quem se atreve a dar opinião? E basta citar o autor para vender bem.

Posso estar enganado, afinal, isso não aconteceu com o filme. Só gostaria de poder me distanciar do Chico e admirar sua obra como a de um Francisco qualquer, sem preconceitos.

Provavelmente há muito mais riqueza ali do que o mero lugar-comum deixa perceber. Enquanto algumas coisas me diriam que o Chico é deus, muitas outras mostrariam que ele não passa de um homem comum, repleto de talentos e defeitos para a gente admirar.s madrugadas de bebida, mxcesso. devo ofundas que nunca mais me deixaram em paz.

terça-feira, 17 de março de 2009

CULTURA DOCUMENTADA, CULTURA COMENTADA

Lembro-me que, quando esta crônica foi publicada em junho de 2008, eu vivia uma euforia por documentários. Notei que aí estava um mercado emergente e fiquei feliz ao perceber que os brasileiros de um modo geral buscavam algo além do cinema hollywoodiano.
Hoje, vejo muita coisa bacana sendo comercializada em bancas de jornal, a preços mais ou menos populares. Se você quer uma dica, procure os filmes da BBC que a Editora Abril tem levado a público.

Além deles, gostaria de aproveitar para indicar alguns outros títulos:

>> Santiago – o cineasta João Moreira Salles fala sobre seu mordomo

>> Quem somos nós? – física quântica acessível a todos

>> Sob a névoa da guerra – depoimento de um ex-Secretário de Defesa dos Estados Unidos, mostra como o fim do mundo quase aconteceu algumas vezes

Existe um outro, muito raro, chamado A revolução não será televisionada, feito por uma equipe de TV irlandesa, se não me engano, na ocasião em que o presidente Hugo Chávez foi deposto por golpe militar e logo em seguida recolocado no governo pelo povo. Ele traz um ponto de vista muito diferente da ocasião e pode ajudar a entender o que acontece hoje na Venezuela. É difícil de achar, até porque foi proibido no país durante a ditadura militar e acho que se espalhou somente por meios pouco lícitos, com gente duplicando VHS. Ainda assim, se conseguir encontrar, recomendo!

“À noite, do morro / descem vozes que criam o terror / (terror urbano, cinqüenta por cento de cinema, / e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua geral). / Quando houve revolução, os soldados se espalharam no morro, / o quartel pegou fogo, eles não voltaram. / Alguns, chumbados, morreram. / O morro ficou mais encantado.”

Acho praticamente impossível ler essa primeira estrofe de Morro da Babilônia e não associá-la à violência social e política que aflige a população do Rio de Janeiro. Mas o poema – assim como os problemas que ele expõe – não é de hoje: faz parte do livro Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, publicado pela primeira vez em 1940, e diz respeito a nós, às nossas vidas e às atitudes que definem nosso meio.

Pois esse livro prova que a arte há tempos não apenas representa, mas também denuncia, propõe debates e, muitas vezes, encontra soluções. Infelizmente, no Brasil do século XXI, a poesia se tornou uma “coisa de elite”, cultura para poucos iniciados (ou interessados), e duvido que 10% da população conheça os versos citados acima.

Isso acontece também com muitas outras vertentes da arte: plástica, dança, teatro etc. Cada uma sofre à sua maneira com o distanciamento da sociedade – distanciamento que sempre existiu, sendo apenas maior ou menor de acordo com a época.

Esse movimento de vai e vem não cessa. Como revelou o 13º Festival É Tudo Verdade, que aconteceu em março e abril deste ano em São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Brasília e Recife, um outro braço da tal cultura de elite está se popularizando no país: o cinema documental.

Sempre tido como “o lado chato do cinema”, o gênero atingiu seu auge por aqui com o filme Tropa de elite, uma “ficção documental” assistida por alguns milhões e um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional – na verdade, trata-se de uma ficção baseada em relatos reais de ex-soldados do BOPE, tida muitas vezes como documentário, talvez, pelo tom de denúncia que tanto se aproxima do nosso dia-a-dia.

Pois o festival deste ano foi o maior da América Latina. Exibiu cerca de 130 filmes (entre os quais 18 tupiniquins inéditos) e pagou o prêmio de valor mais alto já concedido a produções brasileiras: 100 mil reais.

O mais importante, em minha opinião, não são os números, mas o que eles representam: a crescente popularização de um gênero até então fadado a duros preconceitos.

A chegada dos documentários a outras camadas da sociedade brasileira tem seus motivos. Acredito que o aprimoramento da linguagem está, aos poucos, mostrando que é possível unir informação e entretenimento em uma única película. Afinal, ninguém agüenta horas de um blá, blá, blá tedioso se não estiver extremamente interessado nele, enquanto cultura documentada com talento e criatividade é sempre bem-vinda.

Por exemplo: outro filme a que assisti recentemente e que me sinto na obrigação de recomendar é Uma verdade inconveniente, no qual o político americano Al Gore trata de complexos estudos científicos acerca do aquecimento da Terra em 96 minutos bastante didáticos. Depois dos dois Oscar recebidos e dos elogios da crítica, Al Gore me faz acreditar que o cinema documental finalmente está deixando de ser pouco atraente para conquistar públicos cada vez maiores.

Esse é o poder da popularização, e ele não tem nada a ver com abrir mão da qualidade ou da profundidade das produções. Tropa de elite e Uma verdade inconveniente foram vistos por muita gente e, com certeza, renderam muitas boas reflexões. A importância deles tem várias facetas. A primeira, a desmistificação do gênero. A segunda, a relevância dos temas tratados. A terceira, a característica de atestado: ambos desenvolvem assuntos que qualquer pessoa com o mínimo de informação sabe que existem e que estão em pauta; porém, depois de vistos, não há mais desculpas para continuar ignorando os problemas do mundo atual, estejam eles nos morros cariocas, estejam nos gases atmosféricos. Esses filmes são arte e denunciam, debatem e dão soluções – eles nos mostram todas as razões para começarmos a agir.

O de Al Gore, por exemplo, me fez buscar mais informações no livro A vingança de Gaia, de James Lovelock, que desenvolve uma importante tese a respeito do futuro do planeta e, conseqüentemente, do nosso também. No prefácio, o cientista Crispin Tickell escreve: “Somos perigosamente ignorantes de nossa própria ignorância”. Quando vejo o crescente envolvimento da sociedade brasileira com os documentários, fico feliz que esta frase talvez esteja, aos poucos, perdendo seu sentido.

Desejo sinceramente que a cultura se popularize sem se vulgarizar. Afinal, não é a cultura de elite que deve cair, mas é o conhecimento e a atitude crítica da sociedade que deve ascender. De baixo para cima. Isso sim é cultura popular!