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terça-feira, 23 de abril de 2013

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA

Impressões anotadas logo depois de assistir à montagem de Antunes Filho, aqui reproduzidas:


Aquele comportamento estranho que é tão familiar. Os valores morais seguidos à risca, cegamente. Os relacionamentos postos de ponta-cabeça. Ação e relação. A esquisitice de ser. A emoção impregnada de maniqueísmos. Poder e não poder, permissão ou permissividade. Poder, poder! Poder ficar de joelhos. Deixa, vai?Interesses reunidos em prol de um único sujeito. Surpreende? Que nada. A baixeza, a baixaria, a bicharada. A raça animal. A dor do outro transformada em prazer pessoal e vice-versa. A falsidade ideológica e moral. O moralismo. A falta. O tango, o Édipo, a fratura exposta, a verdade posta à flor da pele vira drama, música, espetáculo. O castigo. Nelson Rodrigues.



"Sebastião Milaré, pesquisador teatral, apresenta ensaio de Toda nudez será castigada, dirigido por Antunes Filho, em homenagem a Nelson Rodrigues, no MIRADA – FESTIVAL IBERO-AMERICANO DE ARTES CÊNICAS DE SANTOS, durante o lançamento do Festival no Sesc Santos, em 15 de agosto de 2012." [fonte: SESC]

terça-feira, 2 de abril de 2013

AOS VINTE E TANTOS

Li o poema abaixo e o adorei de imediato. Li e reli uma dezena de vezes então. Só depois percebi que renderia um ótimo pensamento para este meu dia de aniversário.

Penso nos milhares de sonhos que gostaria de já ter realizado com 29 anos. Penso que o tempo é curto demais para tanto.

Penso também que não quero envelhecer, não quero ser envelhecido, não quero pessoas que me envelheçam. Quero, ao contrário, somente a companhia de quem me faz crescer; todos os outros estão dispensados, podem voltar para a salmoura do dia a dia, o vazio do egoísmo, o subterrâneo da ética e da fé.

Penso nos milhares de sonhos acumulados, nos lugares a conhecer, nas obras a construir, nas descobertas a fazer. Penso nos 29 anos, tão fugidios! Penso demais, talvez.

Tenho meu próprio tempo. O tempo de uma vida pela frente.

Quando?

Agora.

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os dentes afiados da vida
preferem a carne
na mais tenra infância
quando
as mordidas doem mais
e deixam cicatrizes indeléveis
quando
o sabor da carne
ainda não foi estragado
pela salmoura do dia a dia

é quando
ainda se chora
é quando
ainda se revolta
é quando
ainda

Paulo Leminski, em Quarenta clics em Curitiba
(1976, aos 32 anos de idade)

segunda-feira, 11 de março de 2013

ESTILO CRÍTICO

Quando um artista do porte de Ai Weiwei grava sua própria versão de Gangnam Style, convém suspeitar de que existe algo por trás desse aparente modismo. O chinês já foi agredido, preso e teve seu ateliê fechado pela polícia; hoje, permanece sob os olhares do governo e proibido de sair do país. Tanto que não pôde comparecer à abertura da maior retrospectiva de sua obra já realizada na América Latina, em cartaz no MIS São Paulo. Não é à toa que seu estilo Gangnam inclui uma particularidade à coreografia: algemas.

O vídeo em questão foi banido na China. Porém, como o próprio artista afirmou certa vez, “em algum momento, todos terão de entender que não é possível controlar a internet”. Para comprovar, você assiste a ele aqui:




segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

GAME OVER, MARTA SUPLICY

Parece que a ministra Marta Suplicy confunde cultura com boa vontade. Ou videogame com tranquilizante, porque "deixa a criança quieta". Ou parece que entretenimento e cultura não podem coincidir. Difícil saber. É mais provável que ela apenas tenha dito outra porção de bobagens, o que não surpreende.

O videogame chegou ao MoMA, em Nova York, onde está fomentado debates. Curiosamente, lá ele é um fenômeno cultural.

Eu diria que aprendi muito jogando, quando podia dedicar mais tempo a isso. Sinto saudade. Mas é lógico que minha experiência pessoal não conta. O que vale a pena notar é o fenômeno cultural promovido pelo videogame, que transformou comportamentos e até mesmo a maneira como os jovens lidam com informação, entretenimento, design, arte, história... Tem muita gente talentosa trabalhando com isso, produzindo não apenas "joguinhos", mas ficção de alto nível.

No Brasil, os games permanecem banidos do programa Vale Cultura, a não ser que alguém explique para nossa ministra o que eles têm de culturais – ou que haja "boa vontade" dos desenvolvedores, seja lá o que isso signifique.

O trecho do debate (abaixo) foi originalmente publicado aqui:

Francisco Tupy – “O que o ecossistema que trabalha com jogos digitais, pesquisadores, desenvolvedores, professores etc. pode esperar do Vale Cultura?”

Marta Suplicy – “No caso dos jogos digitais, o assunto ainda não foi aprofundado o suficiente, mas eu acho que eu seria contra. Eu não acho que jogos digitais sejam cultura […]. Mas a portaria é flexível. Na hora em que vocês conseguirem apresentar alguma coisa que seja considerada arte ou cultura, eu acho que pode ser revisto. No momento o que eu vejo é outro tipo de jogo. Encaminhem para o ministério as sugestões que vocês estão fazendo. Eu tenho certeza que talvez vocês consigam fazer alguma coisa cultural. Mas, por enquanto, o que nós temos acesso, não credencia o jogo como cultura. O que tem hoje na praça, que a gente conhece (eu posso também não conhecer tanto!) não é cultura; é entretenimento, pode desenvolver raciocínio, pode deixar a criança quieta, pode trazer lazer para o adulto, mas cultura não é! Boa vontade não existe, então, vocês vão ter que apresentar alguma coisa muito boa”.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Vale-cultura, para mim, é escola decente. Havendo isso, não precisamos de nenhum "incentivo" paliativo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Oscar Niemeyer faleceu aos 104 anos de idade, quase 105. Saber de sua morte é muito triste. Não o conheci pessoalmente, o que é uma pena, pois ele parecia ser um grande homem, talvez maior do que a própria obra. Jamais encontrei a “pessoa Niemeyer”, mas tive muito prazer ao descobrir as profundezas ocultas da OCA, a visão privilegiada do MAC de Niterói, as curvas insinuantes do Copan e o maravilhoso auditório do Ibirapuera, que se abre para fora e para dentro com uma tocante consciência social. Portanto, tínhamos alguma intimidade, e eu o admirava. Trata-se da perda lastimável de quem poderia ser herói do Brasil no lugar de muita gente que é sem merecer. De alguém que não apenas contribuiu para nossa formação cultural, mas que a construiu. Que inventou a arquitetura moderna brasileira e a tornou respeitada mundo afora. E, mais importante ainda, ao meu ver, Oscar Niemeyer foi um homem que possibilitou que pessoas comuns como eu, na banalidade do dia a dia, experimentassem uma nova relação com o espaço. O espaço como lugar que habitamos física e intelectualmente, pois sua arquitetura era ao mesmo tempo estrutura de concreto e de pensamento. Gente como eu, que poderia viver uma vida inteira sem perceber seu lugar na realidade compartilhada. Niemeyer abriu nossa percepção às potências do entorno. Por isso, dizem que desenhava o futuro. Mas ele desenhava, apenas, com olhar de menino curioso, sem medo de riscar no papel linhas tortas, livres de régua e de regras.

domingo, 25 de novembro de 2012


Palavrinha rápida sobre o show de Marcelo Jeneci no Auditório Ibirapuera, do qual eu acabo de voltar. Porque os caras merecem. Confesso que não me empolguei tanto com o disco, talvez por não ter prestado a devida atenção, talvez por achar que a "onda fofa" da atual MPB quisesse sobressair, a qual eu considero ingênua e, por vezes, entediante. Mesmo assim, achei que valia a pena ver ao vivo. Pois então o show começou e na mesma hora deu para perceber que só tinha talento grande no palco, e que esse talento sobressaía a qualquer modinha paz & amor. Arranjos bem construídos, tocada emocionante nem um pouco cafona, carisma, boa vontade, postura de palco madura, letras interessantes e show de bom gosto. 

Fiquei impressionado com a qualidade técnica da banda e com a aparente - só aparência mesmo - facilidade com que encantavam a plateia. Porque fazer aquilo não é para qualquer um. Teve também uma nota de sorte (ou talvez de boa providência): garoava em São Paulo, e o clima fora do auditório combinava perfeitamente com o de dentro - confirmamos isso quando o portão se abriu para o parque e o Wurlitzer soou bonito, melancólico, harmonioso. Som de alma lavada. Havia um sorriso em cada canto dos meus lábios. Meus e de todos ao meu redor. Foi um ótimo show de um ótimo disco. "Feito pra acabar". 

Uma pena, pois acabou mesmo. E eu queria mais.

O público sobe no palco a convite dos músicos

Merece palmas também o Auditório Ibirapuera, uma das raras casas de show que oferece programação de qualidade a preços justos.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ALGUMAS VEZES, FAZER ALGO NÃO LEVA A NADA


A proposta do artista belga Francis Alÿs (assista ao vídeo acima) é chamar atenção para os regimes e processos de produção (inclusive de arte) que operam nas sociedades, sejam elas orientadas por ideias capitalistas ou socialistas. Em um caso, a necessidade de produzir e consumir em larga escala como maneira de impulsionar a economia; no outro, a mão de obra e o produto gerado por ela entendidos como construção de um coletivo. Mas não é apenas desse tipo de política que o artista trata. Seu "fazer algo" leva também:

- A uma provocação.
- Ao nada (que, diferente do simples "nada", é um lugar ou alguma coisa).
- Ao trabalho não objetivo. Afinal, por que tudo precisa de uma razão?
- A uma crítica dos valores que direcionam nosso dia a dia.
- A um vídeo/registro que é comercializado por uma galeria de arte e também exibido gratuitamente no Youtube.
- A uma reflexão, o que me parece ser o resultado mais importante.
- E assim por diante.

E você, aonde - ou a quê - o vídeo leva?

Saiba mais sobre o artista em seu site oficial.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CENSURAR A PRÓPRIA BOCA JÁ É UM BOM COMEÇO

Clique na imagem para ampliá-la. Fonte: Metro São Paulo nº 1396 (27/9/2012).

Algumas curiosidades sobre a classificação indicativa de filmes no Brasil:

• Se há usuário de drogas, você só pode assistir se tiver mais de 10 anos. Se o usuário de drogas se dá bem, você precisa ter 14 anos.

• Se tem estupro no filme, você precisa ter 16 anos para assistir. Mas se o estupro é consequência de uma paixão, só entra no cinema com 18 anos ou mais.

• Com 12 anos, você pode ver alguém pelado, mas só de perfil. Se o pelado ficar de frente para a câmera, você precisa ser 2 anos mais velho.

Apesar de todas essas peculiaridades, é prudente avisar – em especial o senhor deputado Protógenes Queiroz – que a censura às artes quem faz é o próprio público, que assiste àquilo que quiser. Se você não quiser ver determinado filme, simplesmente não vá ao cinema e deixe o assento livre para quem se interessar. Se você não quer que seu filho de 11 anos veja prostituição e uso de drogas, não o leve para ver um filme "não recomendado para menores de 16 anos", como foi o caso. E também não o deixe assistir TV, sair de casa com os amigos, ler jornais e acessar a internet. Ao invés disso, compre uma casa com masmorra.

Ou, se você tiver um mínimo de consideração pelas outras pessoas, faça valer seu cargo público e tente construir um Brasil mais decente ao invés de ficar falando bobagens no Congresso e na imprensa.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PARA CONTAR ARTISTICAMENTE ATÉ TRÊS:

1. Caminhar,
2. Relacionar,
3. Produzir.

Fórmula proposta pelo artista mexicano Moris em entrevista concedida ao núcleo educativo da 30ª Bienal de Artes de São Paulo (talvez não exatamente desta forma). Veja só:


Para saber mais sobre ele, acesse Moris na 30ª Bienal

terça-feira, 14 de agosto de 2012

LENHA NA FOGUEIRA

Estou inconformado com o incêndio que destruiu uma porção de obras de arte no Rio de Janeiro. Mais um! Devia ter algum tipo de lei para proteger o patrimônio público. Colecionadores podem comprar as obras, tudo bem, mas elas devem ficar sob cuidados de uma instituição competente. Nada de pendurar na parede da cozinha. Nada de tê-las somente para si. Patrimônio cultural brasileiro deveria ficar só no museu, ao alcance do povo.

E agora? Vamos ressuscitar Lygia Clark e pedir para ela fazer de novo? Pedir desculpas para Di Cavalcanti e dizer que, agora sim, vamos tomar conta do seu legado? 

Leia sobre o incêndio aqui: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1136816-incendio-no-rio-destroi-apartamento-com-colecao-de-arte-valiosa.shtml

Outros incêndios que destruíram parte de nosso patrimônio artístico-cultural, só para lembrar que o desta semana não foi exceção:


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sabe, vi muita gente criticando os oito minutos brasileiros no encerramento das Olimpíadas de Londres. Não sei, não assisti à cerimônia. Disseram que foi clichê, que o Rio de Janeiro não é apenas praia, Pelé, carnaval, samba, mulatas e índios, entre outras coisas. Ao mesmo tempo, não vi ninguém dizer o que o Rio de Janeiro e o Brasil são, afinal. Se não mostrarmos esses clichês – que fundamentam nossa cultura, querendo ou não – talvez pudéssemos apresentar outros. Como o mensalão, por exemplo. Que tal?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

CAÇA AO BRUXO

E Paulo Coelho disse que “Um dos livros que fez esse mal [de autores quererem impressionar seus pares] à humanidade foi Ulysses, que é só estilo. Não tem nada ali. Se você disseca Ulysses, dá um tuíte".

O livro de Joyce é até hoje um tesouro para a literatura, repleto de experimentos vanguardistas, intelectuais e práticos. Os de Paulo Coelho são uma piada – ou vinte e duas, considerando o recente "Manuscrito Encontrado em Accra", que originou o infeliz comentário. São piadas literárias que vendem bem, sem dúvida alguma. Mas, daqui uns anos, esse tesouro vai acabar. E o de James Joyce provavelmente permanecerá incrivelmente rico.

Aliás, Ulysses tem vendido milhões de exemplares ao longo dos anos, o que põe abaixo a questão econômica – e a comparação dela com a qualidade de cada obra.

Pelo jeito, Paulo Coelho entende tanto de dissecação quanto de arte. Com um detalhe: o escritor é um dos "imortais" da Academia Brasileira de Letras. Pois é.

Para saber mais sobre a polêmica, vale a pena ler o texto de Rodrigo de Moraes no Correio Popular de hoje:

(clique na imagem para ampliá-la)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

BREVES NOTAS SOBRE A SP-ARTE


1) Definitivamente, o aspecto mercadológico da arte é o que menos me interessa.

2) O homem já foi à Lua, estamos quase transplantando cérebros, aviões não tripulados podem dizimar um país do outro lado do mundo... e a maior parte da arte contemporânea comercializada ainda é imagem ou objeto – para não dizer pintura e escultura.

3) Se os artistas não venderem, morrem de fome. Se venderem, sustentam as galerias, e às vezes continuam a morrer de fome. Se conhecerem as pessoas certas, matam os outros de inveja. É uma trama perigosa.

4) Para nossa infelicidade, grandes obras de arte estão – ou estarão em breve – trancadas na sala de estar de algum ricaço, que as comprou como investimento. 

5) Para comprar arte, é necessário beber Chandon.

6) Para consumir arte – ainda bem! – só é preciso ter boa vontade. E, no caso da feira, mais R$ 30,00 para o ingresso.

Mais informações: SP-ARTE

domingo, 15 de abril de 2012

CADERNO DE NOTAS NA ORIGINAIS REPROVADOS #7


Meu texto Caderno de Notas foi publicado na revista Originais Reprovados número 7, com projeto gráfico criado pela Faculdade de Editoração da ECA/USP. Queria agradecer ao pessoal de lá pela oportunidade. E parabenizá-los pelo trabalho, ficou muito bacana.

Como não dá para girar a tela do computador para ler, aqui vai uma reprodução:

Num velho caderno de notas que tinha ao colo, um jovem escritor, sentado num banco de praça, escrevia sobre um jovem escritor que, sentado num banco de praça, tinha ao colo um velho caderno de notas em que escrevia sobre um banco de praça em que, sentado, um jovem escritor escrevia, num velho caderno de notas que tinha ao colo, sobre o quê escrevia um jovem escritor que, sentado num banco de praça, tinha ao colo um velho caderno de notas em que um jovem escritor, sentado num banco de praça, escrevia, ao colo, sobre um velho caderno de notas de um jovem escritor que, sentado num banco de praça, não mais escrevia notas em seu velho caderno.

Quem quiser saber mais sobre a revista ou baixar as edições gratuitamente pode acessar: Originais Reprovados

sexta-feira, 9 de março de 2012

MÉTODO CALCULADO DE PRODUÇÃO DE ACASO

O acaso comparece por si mesmo, mas é necessária uma disposição prévia - pré-disposição - que permita a percepção dele.

Acaso provocado.
Acaso ≠ improvável/imprevisível.

Não é produzido: dedica atenção a tudo o que se concentra fora da expectativa provável.

O acaso proclama a natureza como produtora de sentido quando, na verdade, essa é uma condição humana.

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O texto acima foi escrito num lampejo, publicado aqui sem nenhuma pretensão e, por acaso, acabou possibilitando um ótimo encontro de ideias. Adorei. Adoro quando as coisas simplesmente dão certo. Mesmo sem planejar. Por acaso, é assim que vou levando a vida.

quinta-feira, 8 de março de 2012

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Minha homenagem às mulheres tem inspiração na obra do pintor Amedeo Modigliani, que retratava suas musas com o pescoço alongado. Muito curioso. Por quê? Sabe-se que o pintor apreciava a arte egípcia, na qual as deusas tinham a cabeça alta para simbolizar sabedoria suprema e visão superior. Portanto, podemos dizer que suas mulheres eram endeusadas. Com razão. Modigliani sabia das coisas. Só vim aqui para concordar com ele. Parabéns a vocês.

domingo, 29 de janeiro de 2012

MEU CAMINHO SENTIDO



Foi uma das experiências mais incríveis que vivi numa instituição cultural (eu ia dizer "museu", mas não é bem o caso). Me refiro à instalação Seu Caminho Sentido, de Olafur Eliasson, que foi montada no Sesc Pompeia no segundo semestre de 2011 e permanece lá até hoje.

A obra é constituída por uma grande sala retangular cheia de fumaça. Uma das extremidades fica no escuro, enquanto a oposta é iluminada por lâmpadas frias. Andamos ali com passos curtos por receio de esbarrar nas outras pessoas, que estão perto, sim, podemos ouvi-las, porém não conseguimos vê-las. Seus vultos nos perseguem como fantasmas. Aparecem e desaparecem sem que possamos identificá-los. De repente, nos damos conta de que nós também somos vultos como aqueles, à solta na bruma, assombrando os outros visitantes. Ainda assim, não há qualquer sensação de pavor. Passada a angústia inicial de querer e não poder ver, entramos numa linda brincadeira estética.

Olafur Eliasson nos permite experimentar uma nova relação sensorial com o espaço. É mesmo um caminho sentido, como indica o título da obra, percebido pelo som e pelo olfato muito mais do que pelos olhos. Os sons e o cheiro predominam, enquanto a visão fica refém de dois tipos de cegueira, uma escura e outra clara.

O vídeo acima foi feito durante minha caminhada pela instalação (se preferir, assista diretamente no Youtube). Preste atenção nos barulhos - eles criam um interessante efeito com as imagens que se fazem e desfazem a todo instante. Abaixo, você pode ouvir um relato gravado assim que deixei a sala, com os sentidos ainda afetados pela experiência. Quis registrá-lo logo, supondo que, pelo seu frescor, ele esclareceria o "meu caminho sentido" de um jeito mais preciso do que qualquer outra descrição redigida depois.



Saiba mais sobre o artista aqui: Olafur Eliasson (no site, há também registros feito próprio artista na Pinacoteca do Estado de São Paulo e nas unidades Belenzinho e Pompeia do SESC, além de diversas outras exibidas mundo afora).

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

COM A MÚSICA ENGASGADA NO PESCOÇO

Há mais ou menos uma semana, o maestro Allan Gilbert interrompeu a apresentação da Sinfônica de Nova York porque um celular não parava de tocar na plateia. Foi a primeira interrupção nos 170 anos da orquestra, e ocorreu durante o último movimento da nona sinfonia do compositor Gustav Mahler.

Segundo o maestro, o aparelho tira a concentração dos músicos e compromete a qualidade da apresentação.

Um exemplo de como isso acontece pode ser visto abaixo. O músico Lukas Kmit se apresentava na Sinagoga Ortodoxa de Presov, na Eslováquia, quando um celular o levou a uma reação inesperada, que caiu no gosto do público e ganhou destaque na internet:




Todo mundo sabe que é falta de educação deixar o celular ligado durante apresentações como essa, do mesmo modo como no cinema ou no teatro. Mas elas persistem. Imagino que o insulto estava engasgado no pescoço desses artistas há tempos. Agora, as reações começam a aparecer.

Fica a questão: qual é a melhor maneira de lidar com o problema?


Saiba mais sobre a interrupção da Sinfônica de NY (Toque de celular interrompe concerto da Filarmônica de Nova York) e do músico Lukas Kmit (Músico reage com bom humor ao ser interrompido por um celular).

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

PESSOAS PEQUENAS NA CIDADE GRANDE



A arte de Slinkachu é tão divertida de se conhecer quanto interessante de se analisar. Em suma: ele cria cenas peculiares pela cidade, utilizando bonecos minúsculos, e as fotografa de perto e de longe. Depois, abandona as pecinhas ali mesmo, e a própria cidade fica responsável pelo destino delas.

Faz a gente pensar na peculiaridade da vida urbana, na efemeridade da existência e em nossa pequenez perante o entorno. Também põe em questão o próprio objeto de arte, já que os bonequinhos são abandonados e o único registro que resta daquelas interferências são as fotografias feitas pelo próprio artista. Essas fotografias assumem o papel de obra, transformam-se em livro, são comercializadas, participam de exibições etc.

Escolhi algumas imagens no site do artista para ilustrar este post (clique para ampliá-las). Você pode conferir outras aqui: Slinkachu_Little People